Sobre a brita que segura as chulipas que fixam os carris,
numa estação de caminho-de-ferro, um chinelo.
É o chamado “dois-em-um”, já que satisfaz dois “projectos”
que faz tempo não alimento: Objectos caídos na linha e sapatos abandonados.
Rapei da câmara e tratei de encontrar solução com a 50mm.
Sem me deitar no cais para a proximidade, nem me afastar demasiado para a contextualização.
Foi o que consegui fazer.
Interessante foi o comentário de um de dois rapazolas que
ali estavam, como eu, à espera do comboio: “Olha uma Pentax!”
O meu espírito curioso, o ser fã das Pentax e o não ter mais
nada que fazer levou-me a meter conversa:
“Também tens uma Pentax?”
“Não, mas gosto delas.”, foi a resposta.
Fiquei por saber porque é um adolescente que não tem uma
câmara de uma marca gosta da marca. Moda? Tem alguém na família possuidora de
uma? Afirmação gratuita, só para não ficar calado?
Mas ele não se ficou por ali e perguntou-me que tipo de
fotografia fazia eu. “De quase tudo, menos eventos, que não tenho paciência.
Desde que me atraia o olhar…”
“E o que o levou a fotografar a linha, assim do quase nada?”
Bem! É rapazola mas tem algum interesse na matéria, falei
para os meus botões. E chamei-o ao local, três passos apenas.
“Repara a quantidade de coisas variadas que as pessoas
deixam cair na linha. Há sempre algo divertido e surpreendente no que aqui se
encontra. E pensa no que terá passado a possuidora deste chinelo, que talvez o
tenha deixado cair para ali ao subir para a carruagem e ficou com um pé
descalço o resto do tempo. Há sempre um montão de coisas interessantes que
podemos pensar ou concluir do que encontramos por aí. É uma questão de estarmos
com os olhos e alma aberta.”
Sorriu, olhou para um lado e para outro, perscrutando a
linha e o que lá estava caído, e rematou:
“O bicho-homem sempre me surpreenderá.”
Creio que tem potencial para ir bem longe, este adolescente.
O chinelo? Ficou lá, para que outro se surpreenda também.
By me
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