Nos últimos tempos, e para além do telemóvel, tenho andado
apenas com uma 50mm.
É um desafio, e eu gosto de alguns desafios, encontrar soluções
de enquadramento com um único angulo de visão. Fixo. E o que quer que haja para
contar com luz e sombra, faze-lo deste modo.
Acresce-se o facto de esta objectiva ter abertura máxima de 1,2,
o que permite usar pouca luz, pese embora o “boquet”, como gostam de lhe
chamar, que isso produz. A explicação técnica para isso fica para outra
ocasião.
Foi um desafio, fazer este retrato, de uma desconhecida. A
pouca luz existente, o ângulo de visão possível que implicava uma proximidade
intimidatória, a falta de confiança ou cumplicidade entre ambos para o permitir…
Admito que fiquei satisfeito com o resultado. E mesmo os
sempre indesejáveis reflexos das luminárias nos óculos acabaram por não ficar
fora de contexto.
Vale o que vale, sabendo-se que outra edição não tem que
alguma, pouca, alteração nas proporções de um quase quadrado 4 por 3 para um
assumido e bem mais natural rectângulo horizontal. Pensado aquando da tomada de
vista.
Se nós, humanos, nos relacionássemos com o mundo circundante
em modo quadrado ou quase, ou verticalmente, teríamos os olhos dispostos de
outro modo na cara.
Ficarão, ainda sobre este retrato, outras questões para
debater:
Porque motivo será que a esmagadora maioria dos retratos
têm os retratados o olhar fixado na objectiva? Vontade dos retratistas e
vontade dos retratados.
Porque será que é quase impositivo que um retrato implique
um sorriso? Demonstrar alguma cumplicidade entre ambos? Afirmar-se que se está
de bem com o mundo?
E porque raio os retratados fazem questão que as magias das
edições retirem as “imperfeições”. Não é este o caso nem o faço por uma questão
de princípio, que são os sinais, as rugas, as assimetrias e outros que tais que
definem a individualidade do retratado.
Ao longo dos últimos 150 anos, alguns foram os que se
debruçaram sobre estas questões. E sobre a posse da imagem e do que isso
significa. E sobre o facto de existirem bem mais retratos de mulheres que de
homens. Há leituras sobre o assunto, há dezenas de milhares de exemplos.
Mas não vou aqui alongar-me sobre isso. Nem referir autores
ou obras nem incluir as minhas próprias conclusões.
Fica o retrato da Andreia, uma desconhecida.
By me
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