Há uns anos valentes, em
Mérida, Espanha, constatei que o teatro romano foi, ao longo dos séculos,
objecto de pilhagem nas suas pedras das bancadas.
Será um crime de património,
à luz do pensamento actual, mas há uns séculos era o natural: aproveitar os
materiais existentes.
Mas o turismo e a cultura
fizeram recuperar essas ruínas. E, para as tornar mais atraentes e
elucidativas, fizeram algo de inteligente: onde faltavam pedras nas bancadas
colocaram material sintético, fibra de vibro ou semelhante. Resistente às
intempéries, não confundível com os blocos de pedra originais. Pelo menos de
perto, a meia dúzia de metros. Não tentaram enganar os visitantes, mostrando
mateiais que não tinham sido usados há uns bons séculos.
Mas, vista a bancada de
longe, do palco ou a mais de meia dúzia de metros, fica-se com a sensação do
que era então. Consegue-se ver o que na época de Roma se via e vivia, mantendo
até as características sonoras. Não “enganando” os visitantes, conseguiram uma
abordagem em que a destruição não é a tónica dominante.
Espero que com a
recuperação da catedral de Notre Dame, monumento maior de Paris e da
arquitectura Gótica, façam algo de parecido: recuperem, transmitam a sensação
geral, mas não tentem enganar os vindoiros com materiais e formas não originais
fazendo de conta que o são.
O próprio incêndio fará
parte da história (faz parte já) e subverter a veracidade dos factos e das
obras não é algo que se recomende.
“Penso eu de que”.
Imagem: “Tântrico”,
algures perto de um miradoiro, Lisboa
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