Em tempos a simples posse de uma câmara reflex com uma
objectiva “comprida” dava um certo status de “profissional”.
Foi por causa disso que me ajudaram a subir para o palco
enquanto chovia e pude fazer esta fotografia. Num tempo em que se contavam as
fotografias, que o rolo só tinha 36 exposições. Trinta e oito, se soubéssemos aproveitar
ao carregar a câmara.
Hoje não seria possível acontecer o mesmo.
Por um lado porque qualquer um tem uma objectiva “comprida”.
E se se fosse dar uma “mãozinha” a todos não haveria espaço no palco para os
discursantes.
Por outro, e bem mais importante, porque se chover as pessoas
não se manifestam. Seria impensável considerar que se poderia juntar uma
multidão como esta numa tarde de mau tempo.
O conformismo e os protestos de sofá só muito dificilmente
juntam pessoas a lutar ou protestar. E, se chover, sempre há as redes sociais,
onde se afirma que se comparece mas não se sai de casa. E os canais de filmes e
séries, muito mais interessantes que uma molha na rua.
Recordar e celebrar é importante. Também para isso serve a
fotografia.
Mas enquanto apenas se celebrar e recordar a fotografia é
inútil.
Tão inútil quanto os protestos de sofá, a seco.
By me
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