Uma ocasião, há uns anos valentes, levei uns alunos a um
exercício na rua. Sempre que podia (condições atmosféricas, conteúdos
previstos, disponibilidade de tempo…) fazia isso.
Daquela vez, e carregados com o equipamento, haveria que ir
a uma praça, perto da escola. E, para lá chegar, haveria que percorrer e
atravessar menos que uma mão cheia de ruas.
Numa delas, atravessaram todos eles desrespeitando o
semáforo vermelho, pese embora não se tenham colocado em risco.
Em chegando ao outro lado ficaram a olhar para mim, que me
tinha mantido imóvel à espera do verde. Quando veio, e por gestos insistentes,
chamei-os de volta. Confusos mas confiantes, vieram. Desta feita com o sinal
verde, que passou a vermelho assim que chegaram.
Ainda que me questionassem, nada expliquei. Mas assim que
mudou de novo declarei: “Agora que está verde podemos todos atravessar em
segurança!”
Olharam para mim, riram-se e lá fomos fazer o que nos havíamos
proposto, aproveitando a tarde bonita que recordo estar.
Passados uns bons vinte anos que são, sei que há, de entre
todos aqueles, quem se recorde do episódio. E que, espero, continue a respeitar
os semáforos. A pé ou a conduzir uma viatura.
Isto de ensinar e aprender tem muito que se lhe diga! Não serão
os longos ou complexos discursos técnicos ou morais que fazem com que quem
aprende o consiga. Se não houver credibilidade e/ou confiança e/ou cumplicidade
em quem ajuda a aprender, todo o esforço será inútil.
Durante os anos em que trabalhei com jovens em ambiente
escolar, com adultos em ambiente informal ou com novatos em ambiente laboral, nunca
ensinei o que quer que fosse!
Antes ajudei a aprender, esforçando-me por colocar à sua
disposição os saberes de modo a que pudessem ser aprendidos. A uns com mais
facilidade, a outros não tanto. E posso gabar-me de nunca ter reprovado um
aluno ou aprendiz em ambiente escolar ou informal.
Já em ambiente laboral as coisas são bem diferentes. Porque,
muito frequentemente, os objectivos destes com quem trabalhei não eram aprender
mas antes a evolução na carreira, sendo mais importante ser aprovado que saber
fazer.
Vem tudo isto a propósito de ser frequente ouvir-se “Ensinei
o meu filho a…” ou “Ensinei os meus alunos que…”. Ou ainda, e como desculpa esfarrapada,
“Ensinaram-me isto…” Disparate!
O sucesso da relação ensino/aprendizagem é a aprendizagem.
Esse é o principal objectivo de quem ensina. Ou, como prefiro usar, de quem
ajuda a aprender. E depende, em grande parte, da vontade de aprender. E
aprender significa saber fazer, bem mais importante que decorar ou papaguear.
Um mestre, amigo e compincha de andanças fotográficas e didácticas
costumava dizer:
“Há vinte anos que ando a tentar ensinar o meu cágado a
fotografar e não consigo!”
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