domingo, 10 de fevereiro de 2019

Títulos



Leio um artigo engraçado.
Aparentemente existe um diferendo entre uns serviços municipais e a ordem dos engenheiros, já que esta detectou existirem naquela pessoas que usam o título de “engenheiro” sem estarem inscritas na ordem.
Acrescenta ainda que se trata de uma “usurpação de funções”.
Por seu lado, a entidade municipal afirma que “não tem autoridade para desfazer usos sociais respeitosos”.
Pergunto-me, no meio desta discussão quase fútil, se é mais importante a posse de um título se a competência para desempenhar as funções. Tal como me pergunto sobre o tamanho do ego de quem assim se faz tratar.
E pergunto também se tratar alguém por um título académico ou funcional, como Dr., Eng., Arq., Ministro, Director, Meritíssimo, demonstra mais respeito pelo assim intitulado que pelos clássicos e igualitários Sr. e Srª.?
Como se ter um título académico tornasse alguém mais importante…
E recordo uma pequena história, já com uns anitos valentes:

Encontrava-me com os alunos a montar equipamento técnico num local que não a escola para a realização de um evento académico importante. O meu papel era, para além de ter feito a definição técnica das necessidades, o supervisionar o que ia sendo feito por eles, intervindo onde e se necessário, corrigindo algum erro ou acrescentando conhecimentos onde faltassem.
Tudo corria pelo melhor quando uma senhora que para além do cargo honorífico que ocupava tinha, ao que sei, um doutoramento no currículo, me veio confrontar com um eventual comportamento menos correcto por parte da “maralha”.
Discordei de tal opinião e defendi quem lá estava. Com o vigor de saber que eram os “meus” e que neles não se toca impunemente.
O interessante foi a conversa ter divergido, a dada altura, dos comportamentos para os títulos. Insistia ela em me tratar por Dr., e insistia eu que não o era, já que não tinha sequer frequência universitária, quanto mais um doutoramento.
Este esgrimir de posições travestido de conversa polida e educada (recordo ter sido das poucas ocasiões na vida em que usei fato e gravata) durou uns minutos. Poucos.
Claro que venci o “embate”. Não sei se por ela ter percebido da injustiça das acusações e da minha posição firme a esse respeito se por ter entendido que o mero facto de possuir um título académico e uma posição honorífica não era suficiente para ter razão. E lá se afastou com o cabelo armado e pintado que ela usava para lhe acrescentar uns centímetros extra que não possuía.
Tenho para mim que somos iguais por toda a eternidade que foi e será. O que nos diferencia neste interregno a que chamados de ”vida” são actos e pensamentos.

Que títulos e diplomas se compram, a peso, na universidade da esquina.

By me

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