Convenhamos que o conceito de beleza muda com os tempos. E
nem sequer necessitam de ser particularmente longos.
Se olharmos para os retratos feitos com fotografia ao longo
do último século e meio, veremos que a beleza humana (ou aquilo que como tal é
considerado) tem variado. No masculino e no feminino. Na interpretação feminina
e masculina.
O mesmo se aplica, no mesmo período, ao conceito de “fotogenia”.
Dizer que uma pessoa é fotogénica significa, regra geral, que “fica bem” nas
fotografias. E, por ficar bem entende-se que fica bonita a pessoa.
Mas se “beleza” é coisa variável, então “fotogenia” também o
é.
No entanto…
No entanto encontramos fotografias de pessoas que não respeitam
os conceitos de beleza em vigor mas que “ficam bem” nas fotografias. Pessoas
que não têm as proporções da moda, pessoas cujo tempo moldou feições, pessoas
com “deficiências”… E ficam bem na fotografia!
O que é, então, fotogenia?
Tenho para mim que fotogenia será um conjunto de condições
que resultam em retratos agradáveis de ver. E que não se ficam em exclusivo
pelo visual da pessoa retratada.
Começa, naturalmente, pela forma como o seu aspecto corporal
se enquadra nas modas vigentes.
Passa, em seguida, pelo que cerca: roupagens, cenário,
arranjo da pelagem… tudo aquilo que vai mais além das proporções da carne,
ossos e pele.
Continua por aquilo que é mostrado da pessoa retratada. Os eixos
de captação, os volumes evidenciados ou escondidos pela luz, quanto e onde se
manifestam os brilhos da pele, do pelo, dos olhos.
Manifesta-se, também, por aquilo que provoca no espectador.
Memórias, padrões, afinidades. E pela forma como o seu semblante exprime algum
estado interior: alegria, rigidez, tristeza, euforia, sensualidade… Por outras palavras, como
“fala” com quem vê a imagem.
E, mais subjectivo, na empatia existente entre fotógrafo e
fotografado. O primeiro tem que, de algum modo, tornar a parafernália técnica invisível
para que o fotografado não se sinta intimidado ou agredido por ela. A força das
luzes, a agressividade da objectiva, o estar escondido atrás da câmara, são
elementos prejudiciais a uma ligação positiva entre ambos. Que raramente
resultam em fotografias mais “faladoras” que uma fotografia de passe ou foto-reportagem.
Por fim, igualmente importante e subjectivo, aquilo que o
fotógrafo vê ou sente perante o fotografado e a sua “mestria” na transposição
disso mesmo para o suporte lúmico. Se quem usa a ferramenta fotográfica estiver
neutro em relação ao que fotografa, pessoas ou não, sem possuir algum tipo de
sentimento, mesmo que negativo, o mais que consegue é obter cópias
bidimensionais rígidas daquilo que tem três dimensões e vida. Será quase
impossível gostar de fotografias assim feitas. Ou gosta-se tanto quanto o que
se gosta da que consta num documento de identificação.
A fotogenia é assim, do meu ponto de vista, um conjunto de
circunstâncias positivas para o resultado final. Por parte do fotografado, por
parte do fotógrafo e por parte de quem vê o resultado final.
Os meus cinco cêntimos.
By me
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