Fazer ao calhas, por vezes, redunda em acertar bem em
cheio.
Eis que abro ao calhas um livro que tenho por cá. E
dou com um pedaço, cuja transcrição se segue. Que, de uma forma ou outra,
define e justifica o que e como tenho feito ao longo de quase meio século de
fotografia, vídeo e escrita.
2.1. A ligação
A função de ligação, tal como a definiu Barthes, é uma
forma de complementaridade entre a imagem e as palavras, aquela que consiste em
dizer aquilo que a imagem dificilmente pode mostrar.
Deste modo, entre as coisas dificilmente
representáveis na imagem fixa, temos a temporalidade e a casualidade. Com
efeito, a tradição dominante de representação em perspectiva faz prevalecer a
representação do espaço em relação à representação do tempo. Aquilo que estamos
habituados a decifrar é o perto e o longe no espaço. Admitimos a existências de
ecrãs visuais (uma montanha, uma cortina) que pela sua suposta proximidade nos
escondem aquilo que se esconde por detrás deles. Isto obriga a imagem fixa a
abandonar a representação do tempo para além da instantaneidade. Contar uma
história numa única imagem é impossível, enquanto que a imagem em sequência
(fixa ou animada) encontrou os meios para construir narrativas com as suas
relações temporais e casuais. A fotonovela, as bandas desenhadas podem contar
histórias, imagem única e fixa não.
Vimos que uma das preocupações do movimento cubista na
pintura havia sido precisamente a introdução de uma nova relação espaço-tempo
no quadro, quebrando com os constrangimentos da representação em
perspectiva e a procura dos equivalentes
visuais da expressão da temporalidade. Mas a maior parte das vezes é a língua que
vai compensar esta incapacidade da imagem fixa para exprimir as relações
temporais ou casuais. As palavras vão completar a imagem.
In: “Introdução à análise da imagem”, by Martine Joly, Edições 70, pp 122, 123
Imagem: by me
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