Eu sei que é quase um anacronismo.
Em tempos em que é mais comum escrever em teclas reais ou
virtuais, eu transporto sempre comigo o como verter ideias com tinta sobre
papel. E o respectivo papel. Tal como tenho comigo quase sempre uma câmara
fotográfica, apesar de ter no bolso um smart qualquercoisa que também faz
registos lúmicos.
São velhos hábitos, mas eu não vou para novo!
Idealmente a forma de escrever que tenho comigo é uma caneta
de aparo, também conhecida por “de tinta permanente”.
O motivo deste segundo nome provém de há uns anos valentes,
bem antes de eu ter sequer nascido: usava-se então canetas de aparo mas com o
depósito de tinta em cima da mesa. Mergulhava-se aquele neste, à medida em que
a tinta retida na ponta metálica se ia gastando. A inovação, creio que no
primeiro quartel do séc. XX foi a introdução de um depósito de tinta no suporte
do aparo.
Aprendi a escrever com caneta de tinta permanente, com
grande gasto de sabão para retirar as manchas de tinta das mãos e da bata
escolar.
Hoje a maioria não transporta consigo nada que permita
escrever em papel: nem caneta nem esferográfica nem lápis. Eventualmente tem um
destes utensílios na sua mesa ou gaveta. No trabalho e para situações pontuais,
quem me conhece procura-me, pedindo-me o empréstimo.
E ficam aborrecidos se, ocasionalmente, lhes digo que não
posso emprestar. E justifico: “Hoje só trago caneta e não esferográfica. E a
caneta não empresto.” Em havendo tempo, explico que não se trata de sovinice
mas antes de questões técnicas e específicas das canetas de aparo.
O aparo, usado regularmente pela mesma pessoa, ganha “cama”
ou deformação pela posição e pressão regular do seu utilizador. E cada um tem
uma posição – ângulo, pressão e rotação – diferente de todos os outros.
Em deformando a “cama” habitual é quase impossível que ela
regresse, passando o aparo a ser agressivo para com o papel, perdendo a
suavidade da escrita e passando a arranhar o papel, no lugar de apenas nele
depositar a tinta.
É por isto que costumo trazer comigo uma esferográfica. No mesmo
bolso e ao lado da de aparo. Para não recusar o empréstimo, se mo fizerem. Poupo
suscetibilidades e poupo aquilo que gosto de usar.
Se perguntarem aos antigos que ainda usam canetas de tinta
permanente, ou que as usaram, eles concordarão comigo. Nas práticas e nos
motivos.
By me
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