terça-feira, 6 de abril de 2021

Um olhar


 


Esta fotografia foi feita há oito anos, mais dia menos dia, integrada num projecto fotográfico a que dei o nome de “Um olhar”.

Não se adivinhava, nem nos horáculos mais pessimistas, que seria isto que veríamos dos rostos humanos anos depois.

Creio que os especialistas no comportamento humano, nas suas diversas vertentes, terão muito para estudar sobre os tempos que agora vivemos. Entre outros factores os trajes que são usados para que cada um (ou uma) se evidencie ou oculte na multidão, agora que as feições andam escondidas com máscaras. Cortes, cores, dimensões, quanto do corpo e pele se exibe ou não...

Enquanto não surgem em público textos sobre o assunto, aqui um que fiz sobre esta fotografia.

 

 

Nem sempre é fácil conseguir fazer este tipo de fotografia.

Há que ter algum tipo de contacto prévio antes de se conseguir pedi-lo. Principalmente quando a proximidade da câmara, óbvia pelo enquadramento, é deste calibre.

Confesso que qualquer conversa me serve para, a dada altura, fazer a abordagem certa. Que umas vezes resulta, outras nem por isso e que outras, bem mais estranho, fazem questão de ser apenas os olhos, nada mais. Em qualquer dos casos, mostro sempre o resultado, usando os dedos no ecrã para mostrar aquilo que, realmente, vou aproveitar.

Mas, tendo conseguido a fotografia, surge outra situação difícil: a identificação. Faço questão que a cada fotografia seja apenso um nome. Que a minha câmara é muito mal-educada e atribui números às pessoas. E, brincando com isto, acrescento que tomarei nota daquilo que me disserem, verdadeiro ou falso. Algumas pessoas dizem-mo de caras, outras sorriem, pensam num nome e dizem-mo, outras, muito simplesmente, dizem que mo não dizem. Nesta última situação alvitro eu um, que sempre foi aceite.

Este caso foi um pouco diferente. Não mo quis dizer, mas também não quis dizer que não queria dizer. Embaraçada, titubeou até que me atirou com um “não sei”.

Certo! respondi. O nome que vai com esta fotografia será “Não sei”.

Não gosto de faltar às minhas promessas, pelo que esta fotografia não se chama nem Maria, nem Ana, nem mesmo Zulmira.

Chama-se Não Sei simplesmente.

 

By me

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