quinta-feira, 15 de abril de 2021

Equidade na justiça e nos media


 


Começando por algum lado, começo por dizer que não simpatizo com José Sócrates.

No decurso da minha actividade profissional tive oportunidade de o ter na minha objectiva várias dezenas de vezes, entre uma a duas horas em boa parte delas, uma meia horita em muitas outras. Isto dá-me base sólida para dizer que não gosto dele.

Posto isto, gostaria de dizer aos que agora, e ao longo dos últimos anos, o têm acusado de más práticas económicas com proveito pessoal que estão a ser injustos e incorrectos.

Têm, ao longo de todo este tempo sabido da maioria das acusações que sobre ele pendem. Difundidas por jornais, televisões, rádios, internetes.

Mas quanto de vós ouviram ou tomaram conhecimento dos seus argumentos com a mesma intensidade ou detalhes das acusações? Muito poucos, se alguns.

Por outras palavras, julgaram e condenaram alguém com base apenas nas acusações e sem darem oportunidade do acusado se defender com os mesmos meios e tempo.

Não nos esqueçamos que o sistema de justiça que vigora na nossa sociedade baseia-se no princípio da igualdade de oportunidades na defesa e na acusação. Tal como se baseia no princípio da presunção da inocência até prova em contrário.

Este senhor José Sócrates (de quem, repito, não gosto) não tem sido tratado pelos media e pela opinião pública com equidade.

A esmagadora maioria dos portugueses tem-no como culpado e deseja-lha a mais pesada pena que os códigos da lei permitirem. Sem julgamento justo, sem lhe darem a possibilidade de se defender das acusações.

Se o mesmo acontecesse com qualquer um de vós, não terem possibilidade de argumentar de igual para igual com o acusador, cairia o Carmo e a Trindade. E diriam que a justiça está feita para os poderosos ou desonestos.

Sendo certo que não gosto de José Sócrates, desejo que seja condenado se se provarem as acusações. Mas que seja ilibado se não se provarem.

E desejo, mas não acredito, que os media divulguem com o mesmo ênfase a sua inocência, se for esse o caso. Notícias de primeira página, de abertura de noticiários, entrevistas a quem o possa demonstrar, fotografias, vídeos, escutas…

Mas não acredito que os portugueses, depois de convencidos pelos media da sua culpabilidade, mudem de opinião, se esse for o caso.

 

É nestes casos que se percebe o quão perigosos podem ser os órgãos de comunicação social, a quem interessam bem mais audiências e tiragens que justiça e equidade.


Imagem: edit by me

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