Começando por algum lado, começo por dizer que não simpatizo
com José Sócrates.
No decurso da minha actividade profissional tive oportunidade
de o ter na minha objectiva várias dezenas de vezes, entre uma a duas horas em
boa parte delas, uma meia horita em muitas outras. Isto dá-me base sólida para
dizer que não gosto dele.
Posto isto, gostaria de dizer aos que agora, e ao longo dos
últimos anos, o têm acusado de más práticas económicas com proveito pessoal que
estão a ser injustos e incorrectos.
Têm, ao longo de todo este tempo sabido da maioria das
acusações que sobre ele pendem. Difundidas por jornais, televisões, rádios, internetes.
Mas quanto de vós ouviram ou tomaram conhecimento dos seus
argumentos com a mesma intensidade ou detalhes das acusações? Muito poucos, se
alguns.
Por outras palavras, julgaram e condenaram alguém com base
apenas nas acusações e sem darem oportunidade do acusado se defender com os mesmos
meios e tempo.
Não nos esqueçamos que o sistema de justiça que vigora na
nossa sociedade baseia-se no princípio da igualdade de oportunidades na defesa
e na acusação. Tal como se baseia no princípio da presunção da inocência até
prova em contrário.
Este senhor José Sócrates (de quem, repito, não gosto) não
tem sido tratado pelos media e pela opinião pública com equidade.
A esmagadora maioria dos portugueses tem-no como culpado e
deseja-lha a mais pesada pena que os códigos da lei permitirem. Sem julgamento
justo, sem lhe darem a possibilidade de se defender das acusações.
Se o mesmo acontecesse com qualquer um de vós, não terem
possibilidade de argumentar de igual para igual com o acusador, cairia o Carmo
e a Trindade. E diriam que a justiça está feita para os poderosos ou
desonestos.
Sendo certo que não gosto de José Sócrates, desejo que seja
condenado se se provarem as acusações. Mas que seja ilibado se não se provarem.
E desejo, mas não acredito, que os media divulguem com o
mesmo ênfase a sua inocência, se for esse o caso. Notícias de primeira página,
de abertura de noticiários, entrevistas a quem o possa demonstrar, fotografias,
vídeos, escutas…
Mas não acredito que os portugueses, depois de convencidos
pelos media da sua culpabilidade, mudem de opinião, se esse for o caso.
É nestes casos que se percebe o quão perigosos podem ser os órgãos
de comunicação social, a quem interessam bem mais audiências e tiragens que
justiça e equidade.
Imagem: edit by me
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