Tenho para mim que os fotógrafos, na sua esmagadora maioria,
são pessoas particularmente organizadas e cujo “universo” está cheio de regras
e normas.
Dito isto, e antes que me insultem, eu explico: estes fotógrafos
fotografam o que sai das regras ou normas, o que quebra o “equilíbrio universal”,
o que lhes chama a atenção por ser diferente. Pela positiva ou pela negativa,
pela forma ou pelo conteúdo, pelo belo ou pelo horrendo.
Não me entendo como diferente da maioria, nem para mais nem
para menos, pelo que aquilo que procuro com a minha objectiva, consciente ou
inconscientemente, é o diferente, o que destoa naquilo que me cerca, quer seja
no meu exterior ou no meu interior.
Hoje, no desfile comemorativo da Revolução de Abril, não fui
capaz de fotografar o diferente, pese embora o tenha sentido intensamente.
E o diferente foi ter acontecido uma “liturgia de Abril”.
Por outras palavras, aquilo que aconteceu foi o cumprir um
ritual, um desfilar em memória de Abril e o reclamar sobre o que preocupa a
sociedade. Não vi o diferente, como noutros anos.
Não vi o sentido de humor de jovens ou não tão jovens; Não
vi a originalidade de protestos ou frases gritadas; Não vi a alegria naquela
gente (onde eu também estava). É verdade que todos estavam de máscara, que ela
esconde os sorrisos e que estes são contagiosos, mas a linguagem corporal é igualmente
eloquente.
Mas confesso que (e batam-me se quiserem) o que eu hoje ali
senti foi um ritual que bem poderia ser religioso, desportivo para cumprir
calendário, ou iniciático de uma qualquer seita secreta.
Em tempos, e em conversas muitas e longas com um realizador
de televisão, ouvi que a Igreja usa a liturgia da palavra e que nós usávamos a
liturgia da imagem. Hoje foi a liturgia de Abril.
Os pontos altos?
Alguns, poucos, conhecidos que teimam em comparecer, um
cravo feito em crochet e usado como brinco (que fotografei), um cartaz que “berrava”
com todas as cores “Afinal queremos tudo” (que fotografei), e uma câmara
Pentax, a única para além da minha.
O sorriso cúmplice e de orgulho da sua proprietária
confirmou a certeza de que a Pentax, por muito que os concorrentes se esforcem,
não morreu. E, perdoem-me a imodéstia, só os sabedores lhe sabem atribuir
valor.
By me
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