domingo, 28 de fevereiro de 2021

Photomaton


 


Ver o termo “Photomaton” aplicado a reportagens televisivas com alguns minutos e alguma profundidade de assunto incomoda-me.

Caramba! O Photomaton surgiu como máquinas automáticas para fazerem fotografias de retrato para documentos. Sentar no banco, ajustar a altura pelo espelho, meter as moedas e esperar pelos disparos do flash.

Inócuas, impessoais, sem um pingo de criatividade. Nem na perspectiva, nem na luz. Tão assépticas quanto um tudo de ensaio esterilizado.

Claro que gente houve (e creio que há) que tirou partido da total privacidade da cortina corrida para fazer diferente. Bem diferente. Ousadamente diferente, em alguns casos.

Mas sempre a frieza do automatismo do maquinismo, da ausência de fotógrafo, do “standard” da perspectiva e luz.

E, ainda em torno das “Photomaton”, o que sobre isso nos é contado no magnífico filme “O fabuloso destino de Amélie”, de Jean-Pierre Jeunet. O mistério da estranha colecção, o cartaz da mascarada, os quatro retratos que falam entre si…

Ocasionalmente ainda encontramos um Photomaton em alguns corredores de metro, mas já ninguém lá vai para o cartão do cidadão, que agora é ainda mais impessoal: meramente electrónico, sem suporte em papel que se possa guardar de recordação, uma das quatro entregues na lateral da cabine e que havia que esperar que secassem. Aquela loja em frente ao antigo arquivo de identificação era uma mina de dinheiro e um manancial de retratos. Concorrência, então moderna, ao fotógrafo de bairro.

O “Photomaton” é, queiram-no ou não alguns fantasiosos, um termo de retrato instantâneo, maquineta com banco, flash e cortina.

Agora nome de rubrica de reportagem televisiva…

Abastardamento da memória de todos ou quase todos os portugueses com mais de 30 anos.

Que os deuses da fotografia perdoem quem teve tal ideia!

Que eu não posso.


By me

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