segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Sou guloso



Sou guloso e sou egoísta. Gosto dos meus prazeres e não os dispenso!
Uma boa refeição, um bom vinho, um bom livro, uma boa fotografia, uma boa luz.
Em podendo, trato de as ter e degustar.
Mas há coisas de que gosto, de que sou guloso, e que não estão à venda nem se encontram com facilidade. A vida está como a sabemos e vão-se tornando raras. 
Uma delas, de que sou mesmo guloso, são sorrisos. Caramba! Como sou guloso por um sorriso, não importa a quem é dirigido!
Mas, no corre-corre matinal, entre a cama e o local de trabalho, são mais raros que políticos honestos.
Donde, se não os encontro naturalmente, provoco-os, que sou mesmo guloso por sorrisos.
No balcão rápido do café a correr a caminho do comboio, não são comuns. Não que não sejam bonitos, mas todos têm pressa, todos saíram uns minutos atrasados, todos querem o seu café “à maneira”… E quem está do outro lado do balcão reage em conformidade, correndo que nem barata tonta da máquina do café p’ra pinça dos bolos, com passagem p’la faca da manteiga.
Em chegando, nem importa onde, oiço o padronizado “bom dia”, sem ter outro significado que não seja “o que deseja?” 
Não me chega e quero mais. Com o meu café matinal quero um sorriso que o adoce. Até porque, como já disse, sou guloso.
Uma pausa de um ou dois segundos, um ar sério e compenetrado, e riposto:
“Obrigado. P’ra si também: bom dia!”
Guloso que sou, conheço uma boa quantidade de formas p’ra satisfazer os meus prazeres. E esta é uma delas, infalível.
Do outro lado do balcão há também um compasso de imobilidade, como que a digerir o ouvido e perceber o seu significado. De seguida, o sorriso vem, brotando não importa a idade ou o quão cheio estará o lado de cá.
Quando recebo a minha bica, só preciso de meio pacote de açúcar: já vem adoçado com estes sorrisos.
Que, como já disse, sou guloso.

A imagem? Não vo-la dou. Tratem vocês de provocar e degustar os vossos sorrisos, que eu sou guloso e egoísta dos meus.

By me

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