Não se trata de querer ser purista da língua.
A língua falada ou escrita existe para exprimir e
materializar pensamentos e emoções e é coisa viva. Com mais ou menos acordos
ortográficos e com maior ou menor criação de vocábulos, a língua evolui,
cresce, modifica-se.
Esta evolução, e deixando de parte a questão dos códigos
grupais falados, escritos e mesmo corporais, é coisa lenta, que vai sendo
provocada e alimentada pelo cidadão comum ou pelos artistas da palavra.
São estes que no quotidiano vão subvertendo significados e
vocábulos, criando novos e alterando antigos. É interessante, por exemplo, ver
como o termo “pau” está a regressar ao linguajar comum como unidade de
dinheiro. Quase desapareceu com a substituição do Escudo pelo Euro, mas está de
regresso.
Mas esta evolução da língua, por via popular, não pode ser
provocada e/ou acarinhada pelos falantes ou escritores formais. Não espero ver escrito
num auto policial que o suspeito tinha duzentos paus na sua posse.
De igual forma, os profissionais da comunicação, escrita ou
falada, mesmo que tenham a obrigação de procurar a eficácia da comunicação e,
para tal, usem termos do conhecimento geral ou criem novos termos para o que
não existe enquanto palavra formal, têm também a obrigação de não subverterem a
língua existente. A alteração do significado de palavras ou expressões não deve
ser feita de ânimo leve.
Ver um jornalista escrever “ir de encontro a” em vez de “ir
ao encontro de” com o sentido de “estar de acordo” ou “em linha com” é algo que
me arrepia enquanto falante da língua, enquanto profissional de comunicação
(mesmo que usando a imagem).
O que torna a coisa mais grave é o ser este caso recorrente.
Na expressão usada e em muitas outras, trocadas ou subvertidas. Concluo disto
que quem escreve nos jornais não tem o hábito de ler em língua portuguesa nem
tem dela sólidos conhecimentos. Mas também concluo que os jornais se demitiram
do dever de bem escrever, não revendo antes de publicar, mais preocupados com
tiragens e visualizações que com qualidade do produto que vendem.
Não quero ser purista na matéria. Nem sequer sou
especialista. Mas gosto de comunicar – emitindo ou recebendo – e gosto de ter
bons produtos.
Se se convencionar (porque a língua é uma convenção e é
coisa viva) que a expressão “ir ao encontro de” passa a ser dita e escrita de
outra forma (“Batata frita”, por exemplo) nada a opor. Mas convém que quem
acede à comunicação social conheça os códigos em uso (palavras) e os seus
significados. E é importante que quem escreve na comunicação social conheça com
rigor os códigos em uso e os seus significados.
By me
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