sábado, 17 de novembro de 2018

Códigos




Não se trata de querer ser purista da língua.
A língua falada ou escrita existe para exprimir e materializar pensamentos e emoções e é coisa viva. Com mais ou menos acordos ortográficos e com maior ou menor criação de vocábulos, a língua evolui, cresce, modifica-se.
Esta evolução, e deixando de parte a questão dos códigos grupais falados, escritos e mesmo corporais, é coisa lenta, que vai sendo provocada e alimentada pelo cidadão comum ou pelos artistas da palavra.
São estes que no quotidiano vão subvertendo significados e vocábulos, criando novos e alterando antigos. É interessante, por exemplo, ver como o termo “pau” está a regressar ao linguajar comum como unidade de dinheiro. Quase desapareceu com a substituição do Escudo pelo Euro, mas está de regresso.
Mas esta evolução da língua, por via popular, não pode ser provocada e/ou acarinhada pelos falantes ou escritores formais. Não espero ver escrito num auto policial que o suspeito tinha duzentos paus na sua posse.
De igual forma, os profissionais da comunicação, escrita ou falada, mesmo que tenham a obrigação de procurar a eficácia da comunicação e, para tal, usem termos do conhecimento geral ou criem novos termos para o que não existe enquanto palavra formal, têm também a obrigação de não subverterem a língua existente. A alteração do significado de palavras ou expressões não deve ser feita de ânimo leve.
Ver um jornalista escrever “ir de encontro a” em vez de “ir ao encontro de” com o sentido de “estar de acordo” ou “em linha com” é algo que me arrepia enquanto falante da língua, enquanto profissional de comunicação (mesmo que usando a imagem).
O que torna a coisa mais grave é o ser este caso recorrente. Na expressão usada e em muitas outras, trocadas ou subvertidas. Concluo disto que quem escreve nos jornais não tem o hábito de ler em língua portuguesa nem tem dela sólidos conhecimentos. Mas também concluo que os jornais se demitiram do dever de bem escrever, não revendo antes de publicar, mais preocupados com tiragens e visualizações que com qualidade do produto que vendem.

Não quero ser purista na matéria. Nem sequer sou especialista. Mas gosto de comunicar – emitindo ou recebendo – e gosto de ter bons produtos.
Se se convencionar (porque a língua é uma convenção e é coisa viva) que a expressão “ir ao encontro de” passa a ser dita e escrita de outra forma (“Batata frita”, por exemplo) nada a opor. Mas convém que quem acede à comunicação social conheça os códigos em uso (palavras) e os seus significados. E é importante que quem escreve na comunicação social conheça com rigor os códigos em uso e os seus significados.



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