sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Na memória




Estávamos em Novembro de 2015. Na Assembleia da República votava-se a continuidade ou não do governo de Pedro Passos Coelho. Cá fora, a multidão seguia o que podia através da rádio, bem mais rápida e fiel que as redes sociais.
Quando o resultado se soube, correu por aquela mol de gente uma alegria incomum, em que conhecidos e desconhecidos se abraçavam e beijavam. Eu incluído, apesar do meu “disfarce” de fotógrafo, com a tralha na mão, ao ombro e a mochila nas costas.
A dado passo alguém gritou perto de mim uma palavra de ordem em desordem com as demais:
“Já caiu, já caiu, vão p’ra puta que o pariu! Já caiu, já caiu, vão p’ra puta que o pariu!”
Um rastilho não seria tão rápido. E, em menos de nada, éramos uns milhares a assim gritar, a plenos pulmões ou nem tanto.
Não recordo o rosto de quem primeiro o disse. Era um destes, talvez que mais à direita do enquadramento. Mas o grito ficou, ecoando naquelas paredes que tantos gritos já ouviram.
Quando, não muito tempo depois, alguns deputados se nos juntaram na rua para aquela celebração, o grito ainda se ouvia, aqui ou ali.
E recordo, a par do grito e da alegria, que um dos deputados que se juntaram à turba alegre e festiva era Jorge Falcato, na sua cadeira de rodas. Que se o Parlamento ainda não estava adaptado a pessoas com mobilidade reduzida, isso não o impediu de sair à rua e festejar.
Só o arquivo ou a net me dizem com rigor a data de tais acontecimentos. Dez de Novembro de 2015. Mas o que vi e ouvi jamais me sairá da memória.



By me

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