Há uns tempos fui brindado com um “POD”. Entenda-se por “Picture of the day”. Entenderam que esta seria das melhores do dia e pespegaram-me com a “estrelinha”.
Claro está que vir alguém dizer que uma fotografia nossa é boa e se destaca das demais nos enche o ego. Teria que não o ter para que tal não acontecesse.
Mas o que tem graça é não entender o porquê de tal distinção!
Bem, a fotografia não é má de todo. A idade da senhora está bem patente, com as rugas e o vestuário, a luz está como eu gosto, o jogo de cores funciona…
Mas quem quer que tenha atribuído o prémio nem desconfia o que passei e pensei para a fazer.
Trata-se de uma senhora cigana, já na casa dos setentas, que passa parte dos dias de bom tempo a ler sina de quem passa e lhe pede para tal. Na palma da mão, como manda a tradição cigana. Viúva que é, usa o cabelo cortado desde a morte do marido, cabeça coberta e roupa preta para todo o sempre, ou não seria mulher séria. Como mo disse, acrescentando serem tradições da raça.
E foi exactamente por lhe perceber o orgulho na raça que, tendo definido e aceite a luz de recorte como gosto, que andei aflito para encontrar o fundo que, de algum modo, o mostrasse. Que os ciganos, apátridas que são, como mais ou menos errância, com negócios mais ou menos honestos (definam a “honestidade” em função da cultura, por favor), estão num mundo que não é o deles, aceitando viverem num limbo entre a sua cultura e lei e as dos circundantes.
E foi com base neste conceito que dos ciganos tenho que a coloquei bem entre duas luzes, nem no claro nem no escuro, fazendo umas duas ou três imagens até ficar satisfeito com esta.
Ela mesma, que viu e levou as duas, preferiu a de corpo inteiro, mais clássica, menos intrusiva. Mas ainda sorriu ao olhar para esta outra.
Mas o que me disse que tanto uma como outra eram do seu agrado, enquanto mulher e enquanto cigana, foi a pergunta que me fez no fim:
“Já pensou em ir fotografar casamentos ciganos? Olhe que haviam de gostar e você ganhava bom dinheiro!”
Sei que intrusos na comunidade cigana não entram, menos ainda em festividades familiares. Ser convidado (ou desafiado) para tal é uma honra. Que só não aceitei porque não faço da fotografia negócio.
Não creio que quem quer que me tenha atribuído a estrelinha saiba de tudo isto. Não apenas porque não estava por lá como, suponho, não seja português e pouco esteja familiarizado com as tradições ciganas na península Ibérica. Que são diferentes do resto da Europa.
Assim, será que aquilo que senti e quis transmitir com a fotografia, passou?
Claro está que vir alguém dizer que uma fotografia nossa é boa e se destaca das demais nos enche o ego. Teria que não o ter para que tal não acontecesse.
Mas o que tem graça é não entender o porquê de tal distinção!
Bem, a fotografia não é má de todo. A idade da senhora está bem patente, com as rugas e o vestuário, a luz está como eu gosto, o jogo de cores funciona…
Mas quem quer que tenha atribuído o prémio nem desconfia o que passei e pensei para a fazer.
Trata-se de uma senhora cigana, já na casa dos setentas, que passa parte dos dias de bom tempo a ler sina de quem passa e lhe pede para tal. Na palma da mão, como manda a tradição cigana. Viúva que é, usa o cabelo cortado desde a morte do marido, cabeça coberta e roupa preta para todo o sempre, ou não seria mulher séria. Como mo disse, acrescentando serem tradições da raça.
E foi exactamente por lhe perceber o orgulho na raça que, tendo definido e aceite a luz de recorte como gosto, que andei aflito para encontrar o fundo que, de algum modo, o mostrasse. Que os ciganos, apátridas que são, como mais ou menos errância, com negócios mais ou menos honestos (definam a “honestidade” em função da cultura, por favor), estão num mundo que não é o deles, aceitando viverem num limbo entre a sua cultura e lei e as dos circundantes.
E foi com base neste conceito que dos ciganos tenho que a coloquei bem entre duas luzes, nem no claro nem no escuro, fazendo umas duas ou três imagens até ficar satisfeito com esta.
Ela mesma, que viu e levou as duas, preferiu a de corpo inteiro, mais clássica, menos intrusiva. Mas ainda sorriu ao olhar para esta outra.
Mas o que me disse que tanto uma como outra eram do seu agrado, enquanto mulher e enquanto cigana, foi a pergunta que me fez no fim:
“Já pensou em ir fotografar casamentos ciganos? Olhe que haviam de gostar e você ganhava bom dinheiro!”
Sei que intrusos na comunidade cigana não entram, menos ainda em festividades familiares. Ser convidado (ou desafiado) para tal é uma honra. Que só não aceitei porque não faço da fotografia negócio.
Não creio que quem quer que me tenha atribuído a estrelinha saiba de tudo isto. Não apenas porque não estava por lá como, suponho, não seja português e pouco esteja familiarizado com as tradições ciganas na península Ibérica. Que são diferentes do resto da Europa.
Assim, será que aquilo que senti e quis transmitir com a fotografia, passou?
Aconteceu mesmo a comunicação entre fotógrafo e público?
Será mesmo a fotografia apátrida, acultural e agnóstica?
Texto e imagem: by me
Texto e imagem: by me
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