O acto de fotografar é hoje quase tão banal quanto o beber
um copo de água.
Um pássaro, uma festividade, um acidente, um raio de luz e
já está! Saca-se da câmara, como o cowboy da pistola, e dispara-se, perdão,
fotografa-se.
O relativamente baixo custo das câmaras digitais, por vezes
disfarçadas de telemóveis, e o quase nulo custo do apertar do botão do
obturador - que nome se dará nas câmaras digitais? - faz com que talvez se
produzam mais fotografias por unidade de tempo que cigarros fumados. Ainda bem!
Há cada vez mais gente a registar aquilo que vê - e por
vezes aquilo que sente - o que permite que um maior número de pessoas tenha
acesso a uma forma de expressão que os satisfaça.
Mas este facilitismo tecnológico e, porque não, económico,
tem as suas desvantagens!
Por um lado, a fragilidade do seu suporte. As imagens
apagam-se com enorme facilidade, com um simples delete, para poupar espaço nos
arquivos. Ou ainda perdem-se com avarias imprevistas nos discos rígidos ou ópticos,
desaparecendo assim o trabalho e a memória colectiva.
Por outro, o custo zero do disparo faz com que os fotógrafos
produzam muito mais imagens de um mesmo assunto, cada uma delas menos pensada,
ponderada.
“Clic, clic, clic, à velocidade do processamento da memória
ou da prontidão do flash. Alguma delas estará boa. Depois logo se verá!”
A aprendizagem, através da “tentativa e erro” é francamente
mais lenta. O guardar na memória electrónica daquilo que o sensor vê é feito
com muito menos certezas e muito mais por acasos.
Talvez por tudo isto eu seja um pouco “conservador”!
Ainda que, no momento, quase só utilize equipamento digital
e, com ele, siga um pouco “na onda” do acima descrito, sinto alguma nostalgia
das câmaras clássicas de película. Em particular as de médio e grande formato.
O custo de cada imagem, tanto a nível do original como do
laboratório, implicava algum grau de certeza no acto de fotografar. E a
complexidade do equipamento e o seu peso e tempo usado antes e depois da tomada
de vista eram tais que só se disparava o obturador pela certa. Gastar trinta ou
mais minutos numa fotografia para “deitar fora” não é apelativo!
Estas câmaras, e o seu manuseio, tinham implicações -
limitações, desvantagens, vantagens? - que nos levavam a pensar o assunto, na
sua forma e conteúdo, que nos levavam a estudar a técnica e a estética de cada
imagem antes de a fazer. Que nos obrigava a “VER” a imagem, antes de a obter.
Não significa isto que as imagens produzidas por estas
câmaras e métodos fossem melhores que as actuais. A qualidade das fotografias -
e do trabalho do Homem - não depende da ferramenta mas dele mesmo e do uso que
lhes dá!
Mas levava a uma maior disciplina interior que hoje cada vez
mais se vê menos.
No caso da fotografia, cada vez mais se vêem imagens que,
sendo bastante razoáveis e tendo grande potencial, poderiam ser muito melhores
se o fotógrafo tivesse “pensado” e “visto” a imagem antes de a fazer.
O facilitismo e a quantidade nem sempre - ou raras vezes -
significam um aumento da qualidade na mesma proporção.
E contra mim falo, entenda-se!
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário