sábado, 17 de maio de 2025

O lago




O jardim do Campo Grande tem pouco mais de mil metros de comprido e uns duzentos na sua largura máxima. Um jardim estilo lombriga, situado na zona de entrada norte de Lisboa.
Sofreu alterações e funções ao longo do tempo, mais ou menos adaptadas às respectivas épocas. A passagem da primeira para a segunda metade do séc. XX foram das mais significativas, com um estilo arquitectónico característico, que podemos encontrar noutros locais da cidade.
Possui ele três espaços cheios de água.
De norte para sul: o lago grande, onde se pode alugar um bote a remos e dar umas remadas, quer para gaudio da pequenada, quer para passeios mais românticos dos já não tão pequenos.
Segue-lhe, na segunda metade, a piscina. Resultado da técnica do betão armado, tanto o edifício como a cerca são como que uma assinatura de uma época, tanto na capital como pelo país fora. Já foi municipal, onde por pouco dinheiro se nadava, aprendia a nadar ou apenas se refrescava. Foram várias as gerações que ali deram as primeiras braçadas. Agora pertence a uma empresa de fitness e nem desconfio do preço da entrada, que suspeito ser reservada a sócios.
A terceira massa de água mais não é que decorativa e auxiliar à retenção de humidade na zona. Curvilínea nos seus bordos, mais não tinha que uma minúscula ilha e patos. Muitos, com um abrigo dedicado. Este lago é simplesmente conhecido por “lago dos patos”.
Foi neste lago que, pela primeira vez, conheci as agruras de “homem ao mar”!
Em boa verdade deveria dizer-se “criança ao lago”. Eu!
Num banco de jardim próximo e em linha de vista com a água, minha mãe ía cuidando de minha irmã, pouco mais que de mama e quatro anos mais nova que eu. Creio que não a terá deixado cair quando se apercebeu que eu tinha ido fazer companhia aos patos, ainda que involuntariamente.
Se o lago então tinha a profundidade de hoje, nada de grave poderia acontecer, já que qualquer adulto, ali, não se molha muito mais que até meio da canela. Mas é o suficiente para molhar até ao tutano o puto que eu era.
Mais de sessenta anos passaram sobre este episódio, mas nunca o esqueci nem deixei de o recordar cada vez que ali passo, o que é raro.
Este é o local da tragédia, nos dias de hoje. O difícil no fazer a fotografia foi conseguir um ângulo e momento em que não se visse nenhum dos catraios que por ali brincavam. Todos a seco, felizmente.

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 100mm 1:4

By me

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