Termos que nos deslocar a pé na cidade tem destas coisas:
ser surpreendido com mercados de rua onde podemos encontrar pequenos tesoiros. Foi
o caso.
Este livro, usado, custou-me cinco euros. Quase o preços da
chuva, convenhamos. Mas o seu valor é muito superior, se considerarmos outros
factores que não os de capa.
Para além de fazer parte de uma série de livros que existe
desde há 40 anos, ao que sei, que são razoavelmente bem impressos para o preço,
no seu conjunto abordam todas as vertentes da fotografia. Monografias por autor
ou temáticas.
Claro está que um livro temático depende, no seu conteúdo,
das opções do editor. Que pode não deixar de ser tendencioso e terá,
certamente, preferências. Este exemplar é um exemplo oposto num aspecto.
Ao contrário da esmagadora maioria das obras sobre o nu fotográfico,
este não se atém ao nu feminino. Contendo fotografias desde 1855 até 1984,
talvez que 20% delas são masculinas, o que é particularmente raro.
Começa, desde logo, por geralmente se fazerem muito menos
fotografias de nu de homens que de mulheres. Suponho que haverá algum receio
por parte dos homens fotógrafos de serem chamados de “bichas” se o fizerem.
Depois porque, e isto aplica-se na pintura também, a maioria
dos consumidores de fotografia (em livro, em revistas ou individuais) serem
homens. Quer os que compram avulso, quer os que encomendam aos autores para
comprar. E, não nos enganemos, a grande maioria dos consumidores de fotografia,
bem assim como os produtores, fazem-no como substituto daquilo que não podem
possuir. Seja um pôr-do-sol, seja um castelo, seja um automóvel, seja um ser
humano. Um acto de cobiça, se quiserem ir longe nos conceitos. Sendo a maioria
dos consumidores e produtores de fotografia homens, faz algum sentido que cobicem
mulheres. Na posse ou na produção de fotografias, as mais das vezes, o sentido
estético pesa objectivamente. Mas a posse do fotografado pesa subjectivamente,
sem que disso nos apercebamos.
Como se tudo isso não bastasse, existe um conceito bacoco em
que o belo no corpo humano apenas acontece no feminino. Só as mulheres são
belas, só os corpos das mulheres podem acordar a líbido, só os corpos das
mulheres podem evocar sentimentos. Conceito bacoco e machista! Sugiro que
perguntem às mulheres se assim acontece.
É assim, pelo acima dito sumariamente e por tudo o que não é
dito que longo seria, que um livro que aborde a fotografia do nu e inclua
fotografias de nus masculinos se torna numa peça rara de encontrar. Numa
livraria, numa feira de rua ou numa biblioteca. Excepção feita à minha, onde
constam alguns.
Acrescento que imagem da capa que mostro está assumidamente
censurada por mim para evitar que os puritanos (humanos ou algoritmos) das
redes sociais a bloqueiem tão rápido a encontrem ou seja denunciada.
By me
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