quarta-feira, 8 de março de 2023




 Vivemos sob a  tirania de quatro dimensões: largura, altura, profundidade e tempo.

Sobre esta afrmação muito há que possa ser dito para a contestar. Tentarei ser breve e, no final, explicarei porque é que eu, enquanto fotógrafo, me preocupo com isso.

Desde logo o "vivemos". Há quem defenda que não vivemos mas antes existimos. Exstimos na mente de outros seres que, se eles deixarem de pensar em nós, deixamos de existir. Ou, abordada a expressão de outro modo, há uma grande diferença entre viver e existir e que a maior parte de nós, que passamos o dia a labutar pela sobrevivência, apenas existimos, não tendo oportunidade de viver.

Analizemos o termo "tirania". Entendemos como conveniente o uso dessas dimensões, que nos situa algures no centro delas e nos organiza em relação aos nossos iguais. Mais: rotulamos como "louco" alguém que não tem noção do espaço e do  tempo. Assim, ser trania ou vantagem e voluntária dá para muito versar.

A quantidade de dimensões também é discutível. As três primeiras são de consenso generalizado. Já sobre o  tempo há divergências, havendo quem o não considere como dimensão mas antes uma invenção humana. Alguns, muito poucos, entendem ainda a existência de mais uma dimensão, com o conceito dos universos paralelos. E há os muito raros que argumentam existir ainda uma sexta dimensão, variavel em função dos que a partilhem. Estranho e difícil de entender.

Quanto às restantes três, as de conceito generalizado, mesmo assim não são partilhados por por todos os humanos. Se prestarem atenção ao comportamento dos bebés muito pequenos, percebem que o seu relacionamento com o espaço só é eficaz em duas delas: largura e altura. O conceito e a percepção de profundidade é algo que tem que aprender, interpretando as diversas formas de disso se aperceber e com isso reagir. Mais: as crianças, quando desenham pesssoas ou paisagem, nem se preocupam em representar a profundidade, nas suas diversas formas possíveis. 

Resta incluir a profundidade, algo que, como disse, é coisa que se aprende com o crescimento da criança e que usamos para construir e deslocar. E sonhar. Com o horizonte ou com as estrelas.

Se a bi-dimensionalidade da largura e altura pode se interpretada como uma parede que nos bloqueia, um quadro nessa mesma parede ou a superfície da cama junto a essa parede, já a trimensionalidade, com o acréscimo da profundidade, pode ser interpretada como uma janela nessa tal parede, uma escultura no lugar de pintura ou corpos sob as cobertas da tal cama.

Nós fotógrafos, na nossa qualidade de humanos normais, lidamos com a multiplicidade das dimensões usando as quatro mais banais. Mas só modemos mostrar explicitamente com o nosso trabalho duas delas: largura e altura. Será uma limitação, mas também uma oportunidade para execer o nosso mister com maior ou menor qualidade ou criatividade.

A profundidade mostramo-la com a perspectiva e com a luz e as sombras. O que está perto ou longe com os seus tamanhos aparentes e com as sombras mais ou menos anguladas e comparadas com os assuntos que as provocam.

O tempo é bem mais difícil de explicitar no estático e bidimensional da fotografia, Ou bem que há algo "termido" na imagem, evidenciando movimento (relação espaço/tempo) ou bem que, estando tudo bem nítido, no evidenciar a passagem de tempo com o início de uma acção mostrada e o momento da obturação . Um coto de vela aceso, os rastos de pneus no asfalto... ou isto.


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