Foi coisa de que muito se falou desde há dois anos a esta
parte: o novo normal ou a nova normalidade. Isto a propósito da pandemia e do
que haveria cada um fazer para obstar à sua propagação: máscaras, confinamento,
encerramento de comércios e serviços, bloqueios sanitários...
Convém, no entanto, recordar que “normal” advém de norma. E que
norma é uma imposição, regra, lei. E se há uma expressão comumente usada,
quando algo de incomum ou estranho ou insólito acontece é “Isto não é normal!”
Por outras palavras, o “isto” foge às normas, às regras, às
leis, não é aceitável, foge à monotonia do quotidiano, infringindo decretos definidos
num qualquer concilio de deuses e a que os Homens deve obedecer cegamente.
Mesmo em fotografia o termo normal é usado, como classificação
de uma objectiva cujo ângulo de visão se
assemelhe ao do ser humano. Mais uma norma que eu contesto com veemência e que
já por aqui expliquei.
E na óptica e no estudo da luz, tal como na arquitectura,
existem normais. Aquela linha que é única e de excepção, que deve ser aceite
como referência e que é perpendicular a qualquer outra linha ou superfície.
O normal, a norma, a regra... o quanto estes termos e
conceitos obrigam, castrando ou limitando a criatividade tanto material quanto
no imaterial e pensamento. Ou afectos.
Dir-me-hão que a normalidade fará falta nos relacionamentos
sociais. Que serve de medida para que cada indivíduo saiba o que pode ou não
fazer em função do que é normal. Que lima arestas comportamentais e melhora as
interacções entre indivíduos ou grupos.
Será tudo isso e mais um par de botas! Mas eu não quero ser
normal. Nem “não normal”. Quero e sou eu, com defeitos e qualidades, com bons e
maus relacionamentos, com todas as idiossicrasias que cada ser possui e que lhe
pertencem, sem ter que deixar de ser eu mesmo para ser “normal”!
Eu quero mesmo é que a normalidade, nova ou antiga, vá dar
banho ao cão!
By me
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