quarta-feira, 4 de maio de 2022

Normalidade




Foi coisa de que muito se falou desde há dois anos a esta parte: o novo normal ou a nova normalidade. Isto a propósito da pandemia e do que haveria cada um fazer para obstar à sua propagação: máscaras, confinamento, encerramento de comércios e serviços, bloqueios sanitários...

Convém, no entanto, recordar que “normal” advém de norma. E que norma é uma imposição, regra, lei. E se há uma expressão comumente usada, quando algo de incomum ou estranho ou insólito acontece é “Isto não é normal!”

Por outras palavras, o “isto” foge às normas, às regras, às leis, não é aceitável, foge à monotonia do quotidiano, infringindo decretos definidos num qualquer concilio de deuses e a que os Homens deve obedecer cegamente.

Mesmo em fotografia o termo normal é usado, como classificação de uma objectiva cujo  ângulo de visão se assemelhe ao do ser humano. Mais uma norma que eu contesto com veemência e que já por aqui expliquei.

E na óptica e no estudo da luz, tal como na arquitectura, existem normais. Aquela linha que é única e de excepção, que deve ser aceite como referência e que é perpendicular a qualquer outra linha ou superfície.

O normal, a norma, a regra... o quanto estes termos e conceitos obrigam, castrando ou limitando a criatividade tanto material quanto no imaterial e pensamento. Ou afectos.

Dir-me-hão que a normalidade fará falta nos relacionamentos sociais. Que serve de medida para que cada indivíduo saiba o que pode ou não fazer em função do que é normal. Que lima arestas comportamentais e melhora as interacções entre indivíduos ou grupos.

Será tudo isso e mais um par de botas! Mas eu não quero ser normal. Nem “não normal”. Quero e sou eu, com defeitos e qualidades, com bons e maus relacionamentos, com todas as idiossicrasias que cada ser possui e que lhe pertencem, sem ter que deixar de ser eu mesmo para ser “normal”!

Eu quero mesmo é que a normalidade, nova ou antiga, vá dar banho ao cão!


By me

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