Se há campo difícil na fotografia é o retrato. Pelo menos é
o que eu penso.
Qualquer retrato é sempre o ponto de vista do fotógrafo, a
sua interpretação do fotografado. Quer se trate do que é visível aos olhos da
cara, quer se trate do que é visível aos olhos da alma. E nem sempre se consegue
conjugar as duas formas de ver com aquilo que o fotografado vê de si mesmo com
os olhos da cara e com os olhos da alma.
Uma das abordagens é tentar perceber como o fotografado se
vê e tentar plasmar isso mesmo. Para agradar ao cliente. Mas nem sempre isso
coincide com o que vemos. Eu diria que as mais das vezes.
Outra abordagem é transpor para o suporte o que vemos,
assumirmos o papel de “artistas” e tentar convencer o retratado que aquilo é “arte”.
E que a arte não se discute. Nem sempre resulta.
E quando ambas visões não coincidem ou não são
reciprocamente aceites a frustração surge. De parte a parte, mesmo que se diga
ou oiça “está bom”.
É aqui que o trabalho de quem fotografa se torna complicado:
encontrar o ponto de equilíbrio entre a sua arte e a aceitação por parte do
fotografado.
E isto passa, quantas e quantas vezes, por saber interpretar
os sinais que são mostrados. Pela conversa, pela indumentária ou arranjo
piloso, pelo ofício ou circunstâncias do acto fotográfico. E por tentar perceber
o que o fotografado gostaria de ser ou parecer.
(Pausa para piada – O fotógrafo tenta que o fotografado
sorria. Este recusa. O fotógrafo insiste e o cliente continua a recusar, até
que explica: “A fotografia é para efeitos profissionais e eu sou agente
funerário”.)
Por outras palavras, e para além do domínio da técnica e da
estética, a fotografia exige um bom domínio de psicologia e de relações
públicas. Todos os fotógrafos necessitam disto, mas nenhum como o de retrato.
Tentem fotografar (e entregar “na hora”) gente que se
passeia num jardim e prestem atenção ao que é dito e à linguagem corporal
quando o retratado vê a sua imagem. E, nesta observação, tentem perceber que
tipo de uso será dado à fotografia ou, se preferirem, a quem ela será mostrada.
É um exercício divertido e particularmente didáctico quanto
ao comportamento humano.
Na imagem: a minha câmara À-Lá-Minuta, uma turista
tailandesa que quis ser retratada, o fotógrafo e o jardim. A ordem de
importância dos elementos é arbitrária.
By me
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