quarta-feira, 2 de junho de 2021

No jardim




Sentou-se no banco de jardim para ler o jornal. Estava um fim de tarde ameno e tranquilo, mesmo a pedir aquele momento de descontracção.

Ela aproximou-se e, ainda de pé, cumprimentou-o.

Levou uns bons segundos, depois de levantar os olhos, para a reconhecer. Tinha sido a sua grande amiguinha, dos seis aos dez anos, na escola. A vida tinha rolado e não mais se tinham encontrado.

O abraço fraternal foi sincero e tão inocente quanto a amizade tida, vinte e muitos anos antes.

Do outro lado do largo, o fotógrafo viu tudo isso. E, antecipando os gestos, tinha a teleobjectiva pronta. Quando se abraçaram, aquele “meio corpo”, com sorrisos e aquela luz de fim de tarde, fizeram a sua melhor fotografia da semana.

Já em casa, e depois de alguns pequenos ajustes no computador, a fotografia foi colocada em duas redes sociais e candidata a um concurso on-line. A fotografia estava linda: cores, luz, poses… E foi premiada, com a respectiva divulgação.

Imagine-se que tipo de reacções tiveram o marido dela e a mulher dele quando viram aquela bela fotografia on-line que, daquela forma exposta e com aqueles sorrisos, nada tinha de fraterno ou inocente.

Quando fizerem cada uma das vossas “fotografia de rua”, lembrem-se das consequências da vossa perícia e arte.

 

Na imagem: o cenário natural onde iniciei o meu projecto “À-Là-Minuta”. Uns dias depois mudei-me para um outro ponto e perspectiva, no mesmo jardim e a uns 20 metros de distância, onde a luz era mais favorável e constante ao longo de toda a tarde.

Todas as mais de 1300 fotografias que publiquei nos três anos de duração foram autorizadas pelos fotografados.

Das demais, em que não foi permitida a divulgação, recordo a justificação de um dos casais, ainda neste local:

“Sabe, somos amantes. Eu já assumi a relação, mas ele ainda não se divorciou.”


By me

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