Sentou-se no banco de jardim para ler o jornal. Estava um
fim de tarde ameno e tranquilo, mesmo a pedir aquele momento de descontracção.
Ela aproximou-se e, ainda de pé, cumprimentou-o.
Levou uns bons segundos, depois de levantar os olhos, para a
reconhecer. Tinha sido a sua grande amiguinha, dos seis aos dez anos, na
escola. A vida tinha rolado e não mais se tinham encontrado.
O abraço fraternal foi sincero e tão inocente quanto a
amizade tida, vinte e muitos anos antes.
Do outro lado do largo, o fotógrafo viu tudo isso. E,
antecipando os gestos, tinha a teleobjectiva pronta. Quando se abraçaram,
aquele “meio corpo”, com sorrisos e aquela luz de fim de tarde, fizeram a sua
melhor fotografia da semana.
Já em casa, e depois de alguns pequenos ajustes no
computador, a fotografia foi colocada em duas redes sociais e candidata a um
concurso on-line. A fotografia estava linda: cores, luz, poses… E foi premiada,
com a respectiva divulgação.
Imagine-se que tipo de reacções tiveram o marido dela e a
mulher dele quando viram aquela bela fotografia on-line que, daquela forma
exposta e com aqueles sorrisos, nada tinha de fraterno ou inocente.
Quando fizerem cada uma das vossas “fotografia de rua”,
lembrem-se das consequências da vossa perícia e arte.
Na imagem: o cenário natural onde iniciei o meu projecto “À-Là-Minuta”.
Uns dias depois mudei-me para um outro ponto e perspectiva, no mesmo jardim e a
uns 20 metros de distância, onde a luz era mais favorável e constante ao longo
de toda a tarde.
Todas as mais de 1300 fotografias que publiquei nos três
anos de duração foram autorizadas pelos fotografados.
Das demais, em que não foi permitida a divulgação, recordo a
justificação de um dos casais, ainda neste local:
“Sabe, somos amantes. Eu já assumi a relação, mas ele ainda
não se divorciou.”
By me
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