Volta e meia oiço ou leio
sobre alguém que quer fotografar em grande formato.
E, confesso, fico
irmanado nesse desejo.
Não creio é que seja
irmão nos motivos, isso não acredito.
Que aqueles que o querem
fazer, as mais das vezes não o fizeram nunca. E não sabem quanto pesa uma
câmara, digamos, 9x12. Ou quanto pesa ou que espaço ocupa para transporte uma
objectiva dita normal ou uma dita “tele”. Tal como, talvez, não saibam quanto
pesa um tripé para o suportar. Ou que volume ocupa um parasol ajustável para
uma câmara dessas. Ou o que é transportar, digamos, três chassis duplos, para
seis fotografias, e junto uma caixa com película rígida virgem, outra para
guardar as expostas (caso se use o processo de revelar de acordo com o contraste
pretendido, várias caixas de película exposta), mais a câmara escura portátil
para carregar e descarregar os chassis, mais a lupa de focagem…
Acredito igualmente que
nunca tiveram a dificuldade de focar uma imagem invertida com uma lupa, bem
escondidos debaixo de um pano preto (que também há que transportar). Tal como
acredito que não sabem, e ao invés do que é hábito nos tempos que correm, o
foco faz-se no montante traseiro e não no frontal, para não alterar a
perspectiva. E a grande maioria dos que querem fotografar em grande formato não
sabe que as objectivas não são particularmente luminosas, o que não ajuda de
todo na focagem no despolido.
Também não saberão eles o
prazer que dá olhar para um negativo, maior ainda se se tratar de um
diapositivo, 9x12 e ver tudo, mas tudo mesmo, com uma lupa numa mesa de luz.
Nada que se compare a um 35mm ou mesmo a um digital de 40Mp num bom monitor.
Trabalhar com grande
formato dá muito gozo no resultado final mas dá tanto trabalho e tanta
incerteza, que obriga a mais que redobrados cuidados, que só se pode dar graças
ao advento de boas películas pequenas (primeiro) e bons digitais (depois).
A disciplina que o grande
formato exige (bem como o custo, volume, peso) é algo único. Que pode ser
adquirido com qualquer outra, mas que implica que a disciplina e método sejam
já algo inerente ao fotógrafo.
Aquilo que muitos dos que
querem fotografar com grande formato (9x12, 13x18 ou mesmo 18x24) é o
romantismo de outras épocas, em que ser-se fotógrafo era ser-se alguém, em que o
acto de fotografar estava envolvido em mistério e magia que o digital e a
banalização da fotografia vieram fazer desaparecer.
Por mim, tenho saudades
desses tempos. Do rigor e satisfação no manuseio do equipamento, na qualidade
do obtido, nos efeitos que os descentramentos e basculamentos permitem, no usar
de uma peça que, de tão simples que é se torna complicada de nos devolver o que
dela esperamos.
Apesar de tudo isto,
gostaria de relembrar a quem esqueceu que a qualidade da fotografia não se
aquilata pela complexidade ou preço do equipamento mas antes por aquilo que
sabemos fazer com ele. Uma “boa” fotografia faz-se com quase qualquer tipo de
câmara, saibam-se as suas potencialidades e limitações.
Na imagem, eu mesmo há
uns quarenta anos, usando uma Linhoff Tecnika 70, fotografando em película
rígida 6,5x9. Na mala, que estaria por perto, o chassis de película 120, que me
permitia o 6x7 e dois outros que me permitiam o 6,5x9. E mais duas objectivas
com as respectivas pranchetas.
Em casa, à época, havia em
casa uma outra Linhoff, uma Kardan Color 9x12.
Tanto uma como outra me
vieram parar às mãos por necessidade para as fotografias de publicidade que
então fazia. E a voragem do tempo e as necessidades da mesma fizeram com que
delas me desfizesse.
Fazia eu, então, melhores
fotogafias com elas que as que faço hoje com uma Pentax K7 ou uma Pentax LX ou
uma Nikon Coolpix 7000? Não creio.
Fazia fotografia com
disciplina, isso sim. Fez-me aprender muito sobre ver antes de premir o
obturador, garantidamente. Fez-me descobrir e aprender muito sobre luz, claro.
Fez-me ver muitas fotografias de bons autores e ler muitos livros e ver tantas
exposições quanto pude, em ordem a aprender com os mestres.
Mas, e acima de tudo,
fez-me ter a certeza que Fotografia é tudo aquilo de moroso, chato, penoso,
difícil, doloroso por vezes, partos difíceis mesmo, que medeia entre aquilo que
vemos e aquilo que mostramos aos outros.
Houvesse forma de
registar aquilo que o meu olhar capta sem equipamento…
By me