quarta-feira, 31 de março de 2021

Desabafo fotográfico reduzido a letras:




Passo-me dos carretos quando vejo fotografias feitas com equipamentos muito caros, muito trabalhadas em editores de imagem e que têm o mar torto. Ou o retratado sem espaço para respirar. Ou que o centro de interesse está bem no meio, qual mira telescópica de arma de precisão.

Sugiro a esses autores que invistam em visitas a museus ou encontros de jovens fotógrafos, em estética no lugar de técnica, que vejam em vez de olharem.


Se, depois disso, quiserem pôr o mar a descair, a espampanante modelo com falta d’ar ou exercitarem o tiro ao alvo, estejam à vontade. Mas saibam porque é que o fazem!


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segunda-feira, 29 de março de 2021

Critérios editoriais


 


A cerimónia das entregas dos prémios “Óscar” acontecerá no próximo dia 25 de Abril.

Pergunto-me a que será dado mais destaques nos media portugueses: o cinema norte-americano ou a data na história portuguesa?


Imagem: edit by me from the web

sábado, 27 de março de 2021

Hoje não publico coisa alguma.

 



Se nos vão retirar uma hora, quero aproveitar as que tenho para outras coisas que não publicações. Sejam essas coisas úteis ou inúteis.

Já agora, aproveito a circunstância para recordar que o tempo, no conceito generalizado que dele temos, é redondo. Ou circular. Ou esférico.

Prende-se ele (ou a forma como o avaliamos) com os movimentos terrestres, quer sobre si mesmo quer em torno do sol. Ou os movimentos da lua em torno de nós. E, talvez por isso, as representações que do tempo fazemos são circulares, levando a forma de medir a um qualquer ponto zero depois de completar um círculo, para reiniciar um ciclo.

Alguns, no entanto, procuram outras formas geométricas para a representação temporal. Mesmo com o movimento circular dos indicadores de tempo.

Este é o meu relógio, que existe na minha mesa de trabalho há mais de vinte anos.

Muito curiosamente, está certo (ou tão certo quanto as convenções o permitem) com o tempo solar, indicando o meio-dia quase quando o sol está no seu zénite. Por outras palavras, a hora de inverno é muito mais natural que a de verão.

Já agora, e só para vos despertar a curiosidade: porque raio dividimos o ciclo diário em duas vezes doze? Ou porquê sessenta minutos ou sessenta segundos e não dez e potências de dez, como seria muito mais natural, considerando a quantidade dedos que temos nas mãos?

Seja como for, estou a minutos de parar esta diatribe, que a minha barriga está quase a dar horas. Que o tempo natural é muito mais importante que o tempo convencionado.

Que Chronos ou Kairós vos seja favorável!


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terça-feira, 23 de março de 2021

Só para quem sabe identificar!


 


Para os demais, fica a informação: Pentax LX, sem o pentaprisma e com uma objectiva Tamron SP adaptal2 90mm f2,5.

O punho de madeira é trabalho artesanal.


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domingo, 21 de março de 2021

O poste


 


O que tem esta imagem de especial?

Nada, responderão aqueles que estão habituados a ver disto e que, por casualidade, residem na cidade de Barcelona.

Trata-se de um banal poste de sustentação de semáforos, na beira de um cruzamento que, por sinal, até que nem é muito movimentado.

O que tem interesse, pelo menos para mim, pacóvio Alfacinha, é constatar que a edilidade da capital da Catalunha gasta uma boa maquia no desenho, encomenda e manutenção destes postes, que existem apenas em alguns locais da cidade. Quem os desenhou terá cobrado bem pela originalidade, quem os fundiu também se terá feito pagar bem, já que o número entregue terá sido não particularmente grande e tê-los de reserva para substituição em caso de dano também não será coisa barata.

Tal como em muitas outras zonas da cidade, por vezes apenas ruas, com modelos de postes de semáforos ou de iluminação exclusivos.

Então, perguntar-se-á, porque raio se gasta dinheiro assim, por peças que todos vêem mas em que ninguém repara? Direi, talvez, pelo simples prazer de ter uma coisa bonita para ser vista, mesmo que só de passagem. Até porque, quando olhamos para um semáforo, a nossa atenção centra-se nas cores das suas luzes e pouco, se alguma coisa, no formato ou decoração do poste que as sustenta.

A menos que haja prazer em ter a cidade com coisas bonitas. Pelo simples prazer de as ter ali, mesmo sob o nosso olhar, e podermos delas desfrutar sempre que nos apetecer.

Um pouco, diria eu, à semelhança do que os antigos, os mesmo muito antigos, faziam ao decorar com preciosos detalhes, os capiteis que encimavam colunas de proporções quase que gigantescas. Quase que longe do alcance da vista. Se a coisa tem que existir, então que seja bonita e que nos dê prazer usufruir.

Que o minimalismo em que a forma tem que seguir a função sem que nada acrescente é o resultado de uma sociedade de consumo estereotipado, amorfo, asséptico e, acima de tudo, estéril!

Admirem-se, depois, de que eu querer viver em Barcelona!


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quarta-feira, 17 de março de 2021

Limites




 Disse alguém, por estes espaços e faz algum tempo, que “Não se pode matar um leão por dia”!

Nada mais verdadeiro!


A questão põe-se, no entanto, quando eles são tantos, ou nós vemos tantos, que somos empurrados contra a parede. Confrontados com leões de um lado (nem é forçoso que eles existam, mas basta que os sintamos) e uma parede sólida e negra do outro, as alternativas são reduzidas:

Ou bem que os continuamos a enfrentar, até que nos faltem as forças;

Ou bem que tentamos subir por uma parede onde não nos podemos agarrar;

Ou bem que nos deixamos ficar, submergidos por garras e presas ou pelos escombros da parede que somos nós mesmos.

Resta-nos ainda a atitude do escorpião, mas creio que essa é o desespero final!


Com um pouco de sorte e, talvez, com um gurosan pelo caminho, lá nos levantaremos de novo e, de espada, de pena ou de objectiva, lá continuaremos a matar leões.

Até lá, tentaremos apenas rugir ao desafio, procurando manter aquele espaço vital que nos mantém do lado de cá da sanidade.


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Ser do contra


 


Conheço adultos mais novos que esta história.

Decorria um concurso para lugares técnicos. Naquela primeira fase destinados a pessoas dos quadros. E eu tinha sido convidado para ser um dos membros do júri, na minha área.

A meio do processo, passada já a prova teórica e a decorrerem as práticas, sou abordado no caminho por um ex-chefe, que já não via há anos, fruto de mudanças de locais de trabalho.

Cumprimentámo-nos efusivamente, recordámos pessoas conhecidas e, a dado passo, ele começou a pedir-me para “dar um jeito” com um dos candidatos, que andava com “azar” nos concursos a que se tinha candidatado.

Não me recordo já se a conversa morreu pela minha expressão se pelas minhas palavras. Sei que lhe terei dito que não contasse comigo para esse jogo, que essa não era a minha postura. E que se a pessoa em causa provasse ser capaz, seria apurada naturalmente. Para minha tranquilidade, nunca cheguei a saber de quem se tratava, que desta forma não seria eu tentado a ser parcial. Positiva ou negativamente.

Nunca mais tivemos uma conversa que se visse nem voltou a “ver-me os dentes”. Procurei sempre evitar cruzar-me com esse meu ex-chefe, de triste e furioso que fiquei: Tinha ele a obrigação, pelo tempo que havíamos trabalhado juntos, de me saber não “permeável” nestas coisas e o ele o ter tentado ainda o fazia ficar mais em baixo na minha escala de valores.

Ao longo da vida tenho sido confrontado com várias situações destas: quer como decisor, quer como avaliado, quer sabendo de casos equivalentes. Alguns com quem tive e tenho que conviver. E sempre me deixou enojado o processo de “cunhas”, bem demonstrativo do quão baixo o nível ético de algumas pessoas pode estar.

O recurso à violência, com uns dentes partidos ou umas cicatrizes visíveis, nunca é solução. Mas há ocasiões em que dá uma vontadinha…


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segunda-feira, 15 de março de 2021

Moto continuo




 O Moto Continuo, ou Movimento Perpétuo, é algo que o Homem procura há muito.

Um movimento ininterrupto, sem necessidade de usar energia externa ou combustível, e que esse movimento seja passível de ser usado como forma de energia para uso em prol do Homem.

Claro está que a Ciência tem demonstrado através daquilo que sabe, e de que faz lei, que o Moto Continuo é impossível. Atritos, perdas térmicas e outras minudências técnicas impedem que a energia produzida seja igual ou maior que a energia aplicada.

Aquilo que conhecemos de mais próximo ao Movimento Perpétuo será o movimento dos astros e as forças de atracção e repulsão entre eles.

No entanto, julgamos saber que mesmo isso é finito, já que presumimos que toda as estrelas (ou corpos celestes emissores de luz ou outras formas de energia) cedo ou tarde se esgotam e se apagam ou explodem.

Portanto, perpétuo coisa nenhuma. Não há movimentos, e consequentes energias, perpétuos!

Claro que podemos sempre tentar definir o conceito de”perpétuo”: À escala da vida de um ser humano? À escala da existência da humanidade? À escala, calculada, da idade da Via Láctea e do que dela podemos prever que ainda existirá?

Donde, o Moto Continuo ou Movimento Perpétuo não pode existir porque o próprio conceito de “Perpétuo” não passa de um sonho teorizado, derrubado pela especulação científica.

Mas devo confessar que me agrada a impossibilidade da existência do Movimento Perpétuo. Porque se assim é quando aplicado a dois ou mais pedaços de matéria, quiçá energia também, nos referentes espaço/tempo, então o Movimento Perpétuo também não é aplicável ao Homem, porque parte integrante, e não excepção, do universo que conhecemos e especulamos.

E haver movimentos criados pelo Homem que sejam perpétuos é algo que me assusta para além do terror.

Que um movimento que seja perpétuo, seja ele científico, esotérico ou estético, acaba por se tornar numa sensaboria, num conservadorismo atroz, numa situação que, pareça embora uma contradição, não o é: um movimento intelectual perpétuo acaba por se tornar imóvel e imutável, deixando de ser movimento, ainda que perpétuo.

Agrada-me assim, de sobremaneira, que o Movimento Perpétuo não exista. Que o Homem se sinta tentado em quebrar os rumos e impulsos do passado e procurar novas fronteiras, dentro e fora de si, que procure inovar contra todos os que se acomodaram aos pseudo Moto Contínuos criados no pensamento.

Abaixo o Movimento Perpétuo! Acima o fim das coisas e o nascimento de novas ideias. Eu mesmo e o universo incluídos!


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Romantismos


 


Volta e meia oiço ou leio sobre alguém que quer fotografar em grande formato.

E, confesso, fico irmanado nesse desejo.

Não creio é que seja irmão nos motivos, isso não acredito.

Que aqueles que o querem fazer, as mais das vezes não o fizeram nunca. E não sabem quanto pesa uma câmara, digamos, 9x12. Ou quanto pesa ou que espaço ocupa para transporte uma objectiva dita normal ou uma dita “tele”. Tal como, talvez, não saibam quanto pesa um tripé para o suportar. Ou que volume ocupa um parasol ajustável para uma câmara dessas. Ou o que é transportar, digamos, três chassis duplos, para seis fotografias, e junto uma caixa com película rígida virgem, outra para guardar as expostas (caso se use o processo de revelar de acordo com o contraste pretendido, várias caixas de película exposta), mais a câmara escura portátil para carregar e descarregar os chassis, mais a lupa de focagem…

Acredito igualmente que nunca tiveram a dificuldade de focar uma imagem invertida com uma lupa, bem escondidos debaixo de um pano preto (que também há que transportar). Tal como acredito que não sabem, e ao invés do que é hábito nos tempos que correm, o foco faz-se no montante traseiro e não no frontal, para não alterar a perspectiva. E a grande maioria dos que querem fotografar em grande formato não sabe que as objectivas não são particularmente luminosas, o que não ajuda de todo na focagem no despolido.

Também não saberão eles o prazer que dá olhar para um negativo, maior ainda se se tratar de um diapositivo, 9x12 e ver tudo, mas tudo mesmo, com uma lupa numa mesa de luz. Nada que se compare a um 35mm ou mesmo a um digital de 40Mp num bom monitor.

Trabalhar com grande formato dá muito gozo no resultado final mas dá tanto trabalho e tanta incerteza, que obriga a mais que redobrados cuidados, que só se pode dar graças ao advento de boas películas pequenas (primeiro) e bons digitais (depois).

A disciplina que o grande formato exige (bem como o custo, volume, peso) é algo único. Que pode ser adquirido com qualquer outra, mas que implica que a disciplina e método sejam já algo inerente ao fotógrafo.

 

Aquilo que muitos dos que querem fotografar com grande formato (9x12, 13x18 ou mesmo 18x24) é o romantismo de outras épocas, em que ser-se fotógrafo era ser-se alguém, em que o acto de fotografar estava envolvido em mistério e magia que o digital e a banalização da fotografia vieram fazer desaparecer.

Por mim, tenho saudades desses tempos. Do rigor e satisfação no manuseio do equipamento, na qualidade do obtido, nos efeitos que os descentramentos e basculamentos permitem, no usar de uma peça que, de tão simples que é se torna complicada de nos devolver o que dela esperamos.

Apesar de tudo isto, gostaria de relembrar a quem esqueceu que a qualidade da fotografia não se aquilata pela complexidade ou preço do equipamento mas antes por aquilo que sabemos fazer com ele. Uma “boa” fotografia faz-se com quase qualquer tipo de câmara, saibam-se as suas potencialidades e limitações.

 

Na imagem, eu mesmo há uns quarenta anos, usando uma Linhoff Tecnika 70, fotografando em película rígida 6,5x9. Na mala, que estaria por perto, o chassis de película 120, que me permitia o 6x7 e dois outros que me permitiam o 6,5x9. E mais duas objectivas com as respectivas pranchetas.

Em casa, à época, havia em casa uma outra Linhoff, uma Kardan Color 9x12.

Tanto uma como outra me vieram parar às mãos por necessidade para as fotografias de publicidade que então fazia. E a voragem do tempo e as necessidades da mesma fizeram com que delas me desfizesse.

Fazia eu, então, melhores fotogafias com elas que as que faço hoje com uma Pentax K7 ou uma Pentax LX ou uma Nikon Coolpix 7000? Não creio.

Fazia fotografia com disciplina, isso sim. Fez-me aprender muito sobre ver antes de premir o obturador, garantidamente. Fez-me descobrir e aprender muito sobre luz, claro. Fez-me ver muitas fotografias de bons autores e ler muitos livros e ver tantas exposições quanto pude, em ordem a aprender com os mestres.

Mas, e acima de tudo, fez-me ter a certeza que Fotografia é tudo aquilo de moroso, chato, penoso, difícil, doloroso por vezes, partos difíceis mesmo, que medeia entre aquilo que vemos e aquilo que mostramos aos outros.

Houvesse forma de registar aquilo que o meu olhar capta sem equipamento…


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sexta-feira, 12 de março de 2021

Influências


 


Quem disser que é imune a influências externas ou é ingénuo ou é mentiroso. Não me tenho na conta nem de uma coisa nem outra.

Esta fotografia foi feita há uns anos, em Barcelona.

Naquela manhã fui visitar a Fundação Miró. Peregrinação sacrossanta de cada vez que vou a essa cidade.

De tarde deixei-me levar fotograficamente pelo que havia visto com muita calma. Pintura, escultura, cerâmica.

Vale o que vale!


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quinta-feira, 11 de março de 2021

Insólitos


 


Uma ocasião pedi aos alunos para fazerem um trabalho sobre quatro fotografias específicas. A coisa era para ser “levezinha”: todas as fotografias estavam na biblioteca da escola e todas elas haviam sido discutidas em aula. Naturalmente que todas elas constavam na internet.

O que se pedia era para referirem o autor e contextualizarem as técnicas e estéticas usadas em cada uma delas.

Quando recebi os trabalhos nem quis acreditar: para além de terem copiado uns pelos outros, palavra por palavra, o autor de uma delas era identificado como sendo “O raio do homem”.

Nem se deram ao trabalho de reverem o tradutor automático no texto copiado da internet e foi assim que ele interpretou o nome.

Imagem: “O violino d’Ingres”, de Man Ray, 1924

terça-feira, 9 de março de 2021

O Sol, as empenas e eu


 

 

Se pensarmos bem sobre o que fazemos, nós os fotógrafos, acabamos por chegar à conclusão que a nossa actividade funciona pela negativa.

Já nem falo, agora, na questão do enquadramento, em que com ele excluímos tudo o que nos cerca menos o que nos interessa. O sistema fotográfico assim nos obriga.

Falo, antes sim, que ao fotografarmos não estamos a registar a luz que nos agrada mas antes a modificação que ela sofreu. Quer seja por atravessar a atmosfera, quer seja porque algo se interpõe no seu caminho, quer seja a que é reflectida de um qualquer objecto ou ser vivo.

Não fotografamos a luz mas sim as suas consequências.

 

Tenho uma especial predilecção por fotografar empenas.

São telas grandes, impolutas de cores e irregularidades de formas, o local certo para que a luz, que não vemos, incida, se manifeste e nos mostre as alterações que sofre: as modificações de quando o sol está baixo no horizonte, atravessando mais atmosfera e materiais em suspensão; a reflexão na atmosfera, mostrando-nos um cor celeste tão breve quanto o pôr-do-sol; a interrupção no seu trajecto, feita pelos prédios vizinho, que reduz à bidimensionalidade fotográfica o que é de facto tridimensional…

Para todos os efeitos, sombras projectadas são fotografias, na medida em que é a escrita da luz que vemos.

 

Naquele dia atrasei-me no meu caminho, entretido que estive a ver aquele magote de gente jovem a desfrutar do jardim, do fim do dia e da antecipação de férias. Espraiados pela relva em pequenos grupos sentados nela ou não, cavaqueavam e riam-se por entre golos de cerveja barata com a displicência e alegria própria de quem ainda não entrou nas rotinas e obrigações laborais, parentais e horárias. Bom de ver, mesmo!

Quando decidi seguir e ir até a uma das minhas empenas favoritas constatei que era tarde: não chegaria a tempo de assistir à última fotografia ali exibida pelo sol.

Mas sendo que estava disposto a fotografar uma fotografia, escolhi outra: esta, que estava mesmo ali e que, fosse lá porque fosse, ainda não havia descoberto.

E se nós, fotógrafos, procuramos com a nossa parafernália tecnológica a perpetuidade do nosso trabalho, o universo, na sua eternidade, escreve breve e rápido, não se preocupando com conceitos estéticos ou tecnologias.

 

Gosto de empenas ao cair do dia. E de sentir, com a modificação das sombras, a nossa rotatividade. E a nossa brevidade.

Manias!

 

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domingo, 7 de março de 2021

... muitos anos de vida!



 

64º aniversário.

Fez rir cantar e dançar. Formou e informou. Vitórias e derrotas, sucessos e desastres, amores e crimes.

Foi convidada e entrou pela casa de quase todos os portugueses. Vista e ouvida nas montras das lojas, em lugar de destaque nos lares, nos telemóveis.

Levou-nos ao fantástico da imaginação, ao fantástico da natureza, ao fantástico do espaço. Crescemos com ela, adormecemos com ela.

A vida suspende-se com os antípodas e com a nossa rua, com presidentes, papas e artistas. Com armas, vagas e pódios. E os monstros das bolachas também.

Somos o que somos enquanto seres humanos pensantes e activos porque, há 64 anos, se ligou o primeiro emissor e o primeiro receptor.

Nunca haverá unanimidade de opiniões sobre o que ela faz e serve. E é isso que faz dela o bombo da festa, que todos querem mais e melhor do que é seu.

Mas é também isso que faz com que evolua e se adapte, servindo o público balizada entre orçamentos e políticas.

Um aniversário é apenas um dia, mesmo que o 64º. Fica a história do que foi e a perspectiva do que será.

Parabéns e “Para a menina RTP muitos anos de vida”.


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sábado, 6 de março de 2021

A maçã


 


Não tem muito que saber!

No lugar de ver um Homem com cinco maçãs e quatro sem maçãs, prefiro ver cinco Homens apenas com uma maçã cada.

Chamem a isto o que quiserem, com as datas que quiserem e os confrontos que quiserem.


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Loucos e corajosos


 


Frase lida ou ouvida algures na juventude e cuja autoria ignoro:

“A diferença entre um louco e um corajoso é que, tendo ambos medo, o segundo sabe disso.”

Pode-se dizer muito em torno desta tirada: sobre como vencemos os medos ou nos deixamos subjugar por eles, em como assumimos os medos ou os escondemos como se de vergonhosos se tratassem, em como se é alvo de buling exactamente naquilo de que se tem medo ou se se responde como se eles não existissem…

O louco e o corajoso fazem exactamente a mesma coisa: o louco porque não sabe que que tem medo e age como se fosse coisa normal, o corajoso porque sabe que tem medo e o engole, pressionado pelo que o cerca.

Ter medo e ultrapassa-lo é bom. Permite a quem o tem e assim age vencer o pior inimigo possível: o próprio “eu”. Aquele tirano que impede ou impõe actos ou decisões dolorosas, difíceis, quantas vezes consideradas impossíveis. Aquilo que é adiado, atirado para trás das costas, para o qual se inventam, publicamente ou no segredo da mente, desculpas esfarrapadas para que não aconteça.

Mais ainda: o medo provoca frequentemente reacções estranhas ou agressivas. Como qualquer cão, lacrau ou coelho, quando pressionado em demasia naquilo de que se tem medo, morde-se a mão que dá de comer, espeta-se o próprio lombo ou ataca-se desenfreada e cegamente.

Não reconhecer os próprios medos ou os medos de terceiros pode ser fatal para uns e outros. Que a linha que separa a loucura da coragem não é lá muito definida e raramente perceptível.

 

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sexta-feira, 5 de março de 2021

Inclusão e exclusão




Este é um assunto que já aqui, na virtualidade das redes sociais, abordei:

Qual a principal diferença entre um pintor e um fotógrafo?

Claro que me dirão algo sobre os suportes, os equipamentos, as técnicas, o tempo de execução… tudo isso é banal e de somenos importância.

Que a principal diferença está, do meu ponto de vista, no raciocínio.

Um pintor trabalha por inclusão, um fotógrafo por exclusão.


Vejamos:

Um pintor, em querendo fazer um retrato por exemplo, preocupa-se com o retratado e menos com o fundo. Querendo, pode até nem pintar o que quer que seja em redor e atrás do modelo, deixando a tela virgem.

Já um fotógrafo não o pode fazer, que a objectiva não é selectiva. Vê-se ele na obrigação de procurar um fundo adequado ou de excluir no fundo os elementos que não convenham. Frequentemente muda de perspectiva em busca de um melhor ou menos mau fundo. E mesmo quando nada há no resultado final, foi porque procurou um fundo neutro que excluísse tudo o mais.

Por outras palavras, o pintor faz incluir na sua tela aquilo que quer do universo que o cerca, o fotógrafo é obrigado a excluir do seu enquadramento tudo aquilo que estiver a mais ou errado.

De um modo muito sintético, poderá dizer-se que o pintor trabalha pela positiva e que o fotógrafo pela negativa.


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quinta-feira, 4 de março de 2021

Ferramentas


 


Quando acontece eu abrir o meu canivete para fazer algo simples como abrir uma carta ou descascar uma peça de fruta e alguém por perto dizer “Chega isso para lá que tenho medo!”, costumo fazer uma brincadeira.

Dizendo-lhe “Vou-te mostrar algo”, aproximo a lâmina da sua cara. Na vertical e com o gume virado para mim.

Naturalmente que a reacção é a esperada: ou recuam, ou fecham os olhos, ou ficam rígidos…

De seguida acrescento “Agora espera”. E aproximo à mesma distância uma esferográfica que, entretanto, tirei do bolso.

A reacção também é a esperada: coisa nenhuma. Nem recuo nem manifestação de receio ou medo.

E continuo eu:

“Repara: apesar de me conheceres, de teres alguma confiança em mim e de saberes que não te iria fazer mal, tiveste medo da lâmina. Mas não tiveste medo algum da caneta. E, no entanto, em menos de coisa nenhuma, poderia espetar-ta no pescoço, antes que pudesses reagir.”

Assim é com tudo o que existe: por si mesmos os objectos não são perigosos!

É o uso que lhes damos que poderá, ou não, ser perigoso ou nefasto.

Um canivete, sabemo-lo, tanto pode servir para abrir uma garganta, para descascar uma maçã ou para talhar na madeira uma flauta.

Tal como uma caneta tanto pode servir para assinar uma declaração de guerra, preencher um impresso ou escrever um poema.

E, em última análise, sempre se pode concluir que a caneta é mais perigosa que um canivete, já que nos defendemos deste mas não daquela.

Em querendo, pode-se ainda usar uma velha analogia: “O poder da pena sobre a espada”.

 

O mesmo se pode dizer sobre a fotografia. Por si mesma ela não fará mal a ninguém. Mais ainda, temos a opinião generalizada que a fotografia e o acto de fotografar são questões técnicas ou artísticas, inócuas portanto.

No entanto, num bucólico jardim e numa tarde primaveril, tanto posso fotografar uma flor de uma árvore como posso afastar as folhas e discretamente fotografar o casal de namorados que ali se encontram à revelia do conhecimento das respectivas caras-metades.

A fotografia, por si mesma, nada tem de mal.

Mas quando a usamos para quebrar a privacidade de terceiros, para entrar abusivamente na intimidade de outrem, torna-se pérfida, odiosa, tão maléfica quanto qualquer outro objecto.

 

Uma ocasião fui fotografar fantasmas. Para o fazer como queria, a técnica implicava o uso de um tripé e nele a câmara orientada para zonas onde passem pessoas. Nada discreto, portanto.

Pois no jardim onde o fiz, vários foram os adultos que, acompanhando crianças pequenas, olharam para mim e para a câmara e tripé com ar agressivo. Suponho que pensaram que eu estaria a fazer imagens dos pequenotes. E, nos tempos que correm, isso é “politicamente incorrecto”. Creio que nada disseram ou fizeram porque não me viram a espreitar pelo visor. Mas que as suas caras demonstraram desagrado, lá isso demonstraram.

Felizmente, para mim e para quem estava comigo, não se aperceberam que a câmara estava a ser usada com um longo cabo disparador, de fabrico caseiro, e que se eu quisesse fazer as imagens que eles temiam não dariam por nada.

Quando não, lá teria eu que desmontar a tralha, mostrar-lhes o que tinha registado e explicar-lhes que procurava fantasmas. Inócuo, portanto.

 

A ferramenta nunca é perigosa. O uso que lhe damos é que sim!

Na imagem o comando e respectiva ficha do disparador caseiro.


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segunda-feira, 1 de março de 2021

Distorções


 


Sabemos que todo e qualquer sistema óptico positivo cria uma imagem real, invertida e menor que o objecto.

Vem nos livros e é fácil de demonstrar.

Também sabemos que o cristalino, aquela parte transparente, ainda que preta, e central do globo ocular, é uma lente positiva, de convergência variável.

Donde, a imagem criada na superfície da retina é real, invertida e menor que o objecto.

É o nosso cérebro que altera a informação enviada pelo nervo óptico, dando grandezas que não as existentes na retina e “invertendo” a informação que recebe.

Podemos assim dizer que a nossa percepção do mundo é distorcida e não correspondendo ao mundo real.


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