quarta-feira, 31 de julho de 2019

À cunha


Parece que a líder o CDS-PP quer que os alunos que não tiverem vaga no ensino superior público, mas que possam pagar, entrem pagando.
Numa economia de mercado, selvagem, parece fazer sentido.
O que não entendo é: se não há vagas, por este ou aquele motivo, o facto de pagarem faz com passe a haver vagas? Contratam-se mais professores doutores ou assistentes? Aumentam-se os lugares nas salas e anfiteatros? Os laboratórios têm mais bancadas?
Ou querem transformar o ensino superior público em autocarros em hora de ponta?


By me

Sobre o caso das golas anti-fumo inflamaveis




Eis o que nos conta o Diário de Notícias:
“O relatório preliminar feito pelo Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais concluiu que as golas antifumo distribuídas à população no âmbito do programa Aldeia Segura, Pessoas Seguras, não se inflamam quando expostas ao fogo.
Citado pela RTP, o documento refere que as 28 golas testadas "não se inflamaram - isto é não entraram em combustão com chama - mesmo quando sujeitas a um fluxo de calor de muito elevada intensidade, produzido por chamas cuja altura variou entre um e quatro metros, mesmo quando colocadas a uma distância inferior a 50 centímetros das chamas, durante mais de um minuto".
De acordo com o relatório coordenado por Xavier Viegas, "verificou-se que as partículas incandescentes perfuravam a gola, mas esta não se inflamava, isto é a combustão com chama não era sustentada".
Ao entrar em contacto com uma chama viva, houve "uma perfuração de maior ou menor diâmetro, mas em geral a combustão não se sustentava com chama viva". Esta situação de combustão com chama, lê-se no documento, "apenas ocorreu em determinadas situações de ignição com uma chama permanente e com o tecido da amostra situado praticamente na vertical".
Testadas a 20 centímetros das chamas, as golas ficaram muito perfuradas, mas não se inflamaram.”

Sobre o relatado, pergunto:
Quem é que se mantém a uma distância de 20cm, ou mesmo de 50cm, de um fogo de mato com quatro metros de altura? Acredito que mesmo os bombeiros, equipados com fatos anti-fogo e capacetes e em situação limite, evitarão tal situação. E que dizer a quem estiver nestas situações, com roupas normais, quiçá com o cabelo ou barba a descoberto?
Portanto: será que estas protecções entregues são mesmo um risco? Será quem quem o divulgou estará mesmo a considerar a segurança das populações que as receberam? Ou será que quem disto falou aos quatro ventos se preocupou mais com as questões políticas e de imagem, agora que estamos a pouco tempo de eleições?
Não quero, com isto, defender nem acusar ninguém. Se houve “negócios escuros” neste caso, actue-se e sem piedade.
Mas isto cheira-me tanto a esturro quanto uma floresta queimada.

Imagem roubada da RTP
By me

terça-feira, 30 de julho de 2019

Do arquivo "Old fashion", 2010



Os sentimentos, ainda que genuínos, podem ser reforçados com estímulos externos.
Sabendo isto, da teoria e da prática, crio uma pequena expectativa antes de entregar a fotografia já impressa.
Depois de a retirar da “caixa-mágica”, olho-a por vezes de relance, outras com fingida atenção e, mantendo-a virada para mim e encostada ao peito, lanço uma frase para os que estão ansiosos por a ver. Uma delas é (e não posso aqui revelar todos os meus trunfos) “Se não gostar não leva!” Um pouco na linha que certas lojas e produtos usam: “Satisfação total ou devolução do dinheiro”.
Neste caso, o riso meio da graça, meio do nervoso, manifesta-se e, acto contínuo, entrego a fotografia.
Sendo que parte das pessoas esperam uma partida ou equivalente, outros contam com algo de muito má qualidade e outros ainda têm uma péssima opinião sobre si mesmos, a surpresa é em regra agradável, apesar de algumas não serem lá grande coisa como fotografias.
Mas também há quem não goste. E o diga! As mais das vezes, pouco ou nada referente à qualidade da imagem ou da impressão, mas antes referente à pose ou expressão facial. Ou, como não poderia deixar de ser, em relação ao peso, nuns casos que parecem ter muito, noutros o contrário.
Este casal, que reagiu de forma típica durante todo o processo que antecedeu a entrega da fotografia, não gostou. Uma destas pessoas não gostou da sua pose mas, como em 100% dos casos, quis levar a fotografia, sim senhor!
Mas eu é que não gostei do desagrado que ali vi! E como até eram particularmente divertidos e bem-dispostos, mandei as rotinas às urtigas e fiz uma segunda, com a DSLR. Como gosto de fazer, jogando com contra-luz natural e luz frontal difusa.
A opinião mudou por completo e a alegria de terem esta segunda compensou o desgosto face à primeira.
E porque o prometi, aqui fica, ainda que noutro espaço que não o “Oldfashion”. Mas, mesmo que não o tivesse prometido, e desde que não mo interditassem, aqui a poria. Porque também eu gosto dela, pese embora a ausência de sorriso que assumiram, e de que eu tanto estava a gostar.

By me

segunda-feira, 29 de julho de 2019

.

Enquanto a horizontalidade se mede com um nível de bolha e serve para, por exemplo, nivelar o chão ou a linha do horizonte numa câmara fotográfica, já a verticalidade se mede com um fio de prumo e serve para, por exemplo, garantir o posicionamento de postes ou o alinhamento de paredes.

Infelizmente não há fios de prumo que assegurem a verticalidade de seres humanos.


By me

Olhar, ver e captar



O meu primeiro trabalho fotográfico profissional ou, se preferirem, a troco de dinheiro, aconteceu por acaso.
Telefonou-me uma amiga perguntando-me se eu estaria na disposição de ir fotografar a peça de teatro onde o marido trabalhava. Ela sairia de cena nesse domingo e não havia imagens recolhidas.
Nunca eu tinha feito tal coisa, mas os desafios são para serem aceites, e fui.

Mas a minha inexperiência levou-me a ser cauteloso e tentar usar o pouco que sabia destas coisas. Recordando o que tinha aprendido na minha igualmente curta experiência televisiva, assisti a uma representação no sábado de tarde, tomando notas como um louco furioso sentado na plateia. Mais tarde, em torno de umas sandochas, entre a matiné e a soirée, revi os apontamentos com a ajuda da minha amiga que conhecia bem a peça em causa.
Nessa noite fotografei-a, na tarde seguinte igualmente e a peça saiu de cena.

A sala era incomum, já que não existia proscénio classico. O palco avançava para a plateia, criando três frentes de público e, consequentemente, três frentes de representação. Para complicar a coisa, a encenação concebia vários pontos de acção simultânea que, se no enredo eram no mesmo ponto temporal, não o eram no mesmo ponto espacial. E vice-versa.
Para “ajudar à festa”, para além da profundidade do palco, o desenho de luz, que era bonito, pecava por ser escasso, melhor, por trabalhar com níveis de luz baixíssimos. Isto obrigava-me a usar a objectiva de 50mm, já que mais luminosa e só de quando em vez a 150mm.
Escolhi três pontos de vista e ia fazendo o trabalho de cada um deles em função do que sabia ir acontecer para aquele enfiamento ou perspectiva.

De regresso ao laboratório, debati-me de novo com a minha inexperiência: ainda nem tinha gasto a primeira caixa de 100 folhas de papel preto e branco. Tratei aqueles seis rolos de TriX, de sensibilidade nominal de 400ASA mas expostos a 800 como se de relíquias se tratassem e fiz as provas de contacto.
E levei-as ao actor que me tinha pedido o trabalho. Meio cabisbaixo, que não tinha grande fé no que tinha feito.
Viu ele, viram os demais actores, viu a direcção da companhia e regressei a casa com umas centenas largas de cópias para imprimir. Todos tinham gostado do que ali se mostrava.
A partir dali, e durante uns anos, fui o fotógrafo exclusivo daquela companhia, não sendo mais ninguém autorizado a recolher imagens.
Durante esse tempo, acompanhei os ensaios de cada peça a estrear, sabendo os textos e as marcações quase tão bem quanto os actores. E tive o privilégio de assistir ao trabalho de direcção de actores feito por aquela Senhora que dava pelo nome de Luzia Maria Martins.
Disse-me ela que a diferença do meu trabalho sobre os demais que andavam então por cá a fotografar teatro (passe-se a imodéstia) é que eu contava a estória representada, enquanto que os outros fotografavam actores. Nem sempre, nas minhas fotografias, os actores tinham a melhor expressão ou a pose mais agradável. Mas eram as que retratavam os sentimentos expressos em palco.

Foi a fazer este trabalho, ainda que só bem mais tarde me tenha apercebido disso, que aprendi e interiorizei o que de mais há de importante na comunicação em geral e na fotografia em particular:
Por muito bonitas ou espectaculares que possam ser as imagens, se eu, enquanto fotógrafo, não conhecer bem o que estou a registar, as imagens não passarão disso: bonitas e espectaculares.
O conhecimento (caramba! O que se poderia dizer sobre esta palavra ou conceito!) é a pedra de toque para uma boa tomada de vista.

Há que olhar, ver e só então captar. Para que depois possam ser olhadas e, principalmente, vistas!

quinta-feira, 25 de julho de 2019

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Certezas




A existência do Homem, dizem os especialistas, divide-se em duas grandes épocas: pré-história e história. A fronteira, dizem ainda eles, é a invenção da escrita.
É um ponto fulcral, então e agora. Permitiu-lhes a transmissão do conhecimento de geração em geração sem a já clássica situação “Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto!” E permite-nos saber hoje o que pensavam os antigos.
Ideográfica ou fonética, a escrita revolucionou a existência humana.
Milhares de anos passados, na Alemanha e atribuído a Gutemberg (há quem conteste a autoria original) mecanizou-se a escrita. Com um esforço limitado e em pouco tempo, passou a ser possível um número grande de cópias fiéis ao original que, irradiando da tipografia, poderiam espalhar-se pelo mundo.
As comunidades aproximaram-se no conhecimento e, devido à imprensa (mas não só), o acesso ao mundo das letras tornou-se quase universal. A taxa de analfabetismo tem vindo a reduzir gradualmente, em particular nos últimos 50 anos.
Mas, há pouco mais de um século, um outro invento vital na civilização surgiu: a transmissão via rádio.
A possibilidade de transmitir ideias sem recorrer a um portador, e quase instantaneamente, encurtou as distâncias inter-comunitárias. As fronteiras físicas à passagem do pensamento foram derrubadas e a tecnologia foi simplificando os processos.
Mas a democratização do conhecimento, agora com as nóveis tecnologias de informação, tem um problema gravíssimo: a credibilidade.

Quando vejo uma pintura hieroglífica ou uma gravura cuneiforme, sei que quem as escreveu era um lente na sua época. Porque poucos sabiam ler ou escrever, quem o fazia tinha as certezas e as verdades do seu tempo e o cuidado de as deixar explícitas. Ainda que codificadas pelos mistérios e esoterismos que a religião pudesse impor.
Ao ler um livro impresso, identifico, sem grandes problemas, o autor, a tipografia e o editor, atribuindo-lhes a importância que entendo. Na poesia, na técnica, na filosofia. Gosto deste autor, exaspero-me com aqueloutro e, de uma forma ou outra, vou criando as minhas próprias referencias.
Com a transmissão à distância a coisa é mais complicada. Giro ou primo um botão no meio do aparelho receptor e tenho tudo quanto é emitido ao meu alcance. Na rádio, na TV, no telemóvel, no computador.
É todo um universo de ideias que se encontra, em boa parte anónimo. Posso aceitar esta ou aquela estação ou site, mas não conheço os intervenientes, os autores do que é emitido. E mesmo estes estão ao serviço de uma empresa ou empreendimento anónimo cujos objectivos ou ideologias me podem escapar.
Saberei eu avaliar a verdade ou a justeza do que ali é dito, me é dito? Poderei controlar o efeito que essa comunicação pode ter nos meus comportamentos e contra minha vontade?
Recentemente foi criada uma empresa transnacional na América latina para transmitir informação ao estilo da CNN. E à Al-Jazira. E ainda a outras, cada uma no seu universo cultural e geográfico.
A guerra electrónica de sobreposição de sinais (que já vem da guerra fria), vai acontecendo com o bloqueio de frequências e a informação contraditória.
O mesmo tema, tratado por estas três difusoras, tem abordagens tão diferente que não creio que alguma delas seja completa, verdadeira ou isenta.
Assim, quando por cá acedemos a uma estação de TV ou rádio, que vão beber nas agências internacionais o “néctar informativo”, mais não estamos que a ser moldados de acordo com os interesses não confessos de um ou vários grupos económico-politico-culturais.
E esta manipulação segue-se, dia após dia, noticiário após noticiário, segundo após segundo.

O inglês, o francês, o castelhano e o português já eu domino. Estou a pensar, muito seriamente, em ir aprender russo, chinês, árabe e indiano.
E, depois disso, continuar tão ou mais baralhado que antes sobre o que me cerca.
Afinal, em quem podemos ou devemos acreditar?
Você sabe?

By me

terça-feira, 23 de julho de 2019

O acto fotográfico




O bairro onde moro tem características bem distintas do bairro onde morei decénios.
Na arquitectura, na gestão do espaço público, no comércio, nos grupos etários e profissionais de quem neles vive.
Uma das características que os distingue é a limpeza das ruas, em particular no lixo que é colocado nos contentores. Aqui são em número suficiente e a recolha amiúde; onde mora primavam pela escassez e o lixo amontoava-se por dois ou três dias em redor dos contentores. Por vezes mera falta de civismo de quem ali reside, outras pela notória falta de capacidade para a quantidade de moradores.
Enquanto fotógrafo, sempre tentei tirar partido disso, sendo tema recorrente o apontar a minha objectiva para o que estava fora. Pela originalidade dos resíduos, pela singularidade do amontoado, por aquilo que diziam ou dizem de quem aquilo descarta.
É particularmente difícil fazer esse exercício agora aqui onde moro. Mas não impossível.
Dei com isto numa esquina cá do bairro e dei espectáculo aos velhotes que numas mesas perto matavam o tempo da reforma com umas frescas minis ou uns cálices não sei de quê, amarelo ou branco.
Fiz o registo, pensando no quanto este boneco terá alimentado as fantasias e brincadeiras de uma criança. E no motivo de ter sido assim jogado fora, sem outra vestimenta que não a de baixo. Quase que impróprio para se vir à rua, digamos. Terá sido uma mudança? Terá a criança morrido? Terá casado e deixado para trás os objectos da infância? Em tom de complemento, alguém o terá posto em evidência, na grade de refrigerantes e fora de um saco que, mesmo ao lado, continha outros brinquedos.
Afastei-me depois da função e atravessei a rua. Para a esquina oposta.
E fiquei a ver como os velhotes, depois de algumas trocas de palavras, se levantaram para irem ver o que me tinha prendido a atenção. Sem pressas, que os lumbagos e as ciáticas não permitem grandes corridas.

A Fotografia, por si só, é algo de apaixonante. O ver, o pensar, o operar, o imaginar o resultado final, o saber a reacção do público… Mas tudo o que a antecede ou sucede é igualmente interessante de observar. O acto fotográfico nunca é só o premir o botão.



By me

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Em linha





Sobre a brita que segura as chulipas que fixam os carris, numa estação de caminho-de-ferro, um chinelo.
É o chamado “dois-em-um”, já que satisfaz dois “projectos” que faz tempo não alimento: Objectos caídos na linha e sapatos abandonados.
Rapei da câmara e tratei de encontrar solução com a 50mm. Sem me deitar no cais para a proximidade, nem me afastar demasiado para a contextualização.
Foi o que consegui fazer.
Interessante foi o comentário de um de dois rapazolas que ali estavam, como eu, à espera do comboio: “Olha uma Pentax!”
O meu espírito curioso, o ser fã das Pentax e o não ter mais nada que fazer levou-me a meter conversa:
“Também tens uma Pentax?”
“Não, mas gosto delas.”, foi a resposta.
Fiquei por saber porque é um adolescente que não tem uma câmara de uma marca gosta da marca. Moda? Tem alguém na família possuidora de uma? Afirmação gratuita, só para não ficar calado?
Mas ele não se ficou por ali e perguntou-me que tipo de fotografia fazia eu. “De quase tudo, menos eventos, que não tenho paciência. Desde que me atraia o olhar…”
“E o que o levou a fotografar a linha, assim do quase nada?”
Bem! É rapazola mas tem algum interesse na matéria, falei para os meus botões. E chamei-o ao local, três passos apenas.
“Repara a quantidade de coisas variadas que as pessoas deixam cair na linha. Há sempre algo divertido e surpreendente no que aqui se encontra. E pensa no que terá passado a possuidora deste chinelo, que talvez o tenha deixado cair para ali ao subir para a carruagem e ficou com um pé descalço o resto do tempo. Há sempre um montão de coisas interessantes que podemos pensar ou concluir do que encontramos por aí. É uma questão de estarmos com os olhos e alma aberta.”
Sorriu, olhou para um lado e para outro, perscrutando a linha e o que lá estava caído, e rematou:
“O bicho-homem sempre me surpreenderá.”
Creio que tem potencial para ir bem longe, este adolescente.
O chinelo? Ficou lá, para que outro se surpreenda também.



By me

Em torno de um retrato




Nos últimos tempos, e para além do telemóvel, tenho andado apenas com uma 50mm.
É um desafio, e eu gosto de alguns desafios, encontrar soluções de enquadramento com um único angulo de visão. Fixo. E o que quer que haja para contar com luz e sombra, faze-lo deste modo.
Acresce-se o facto de esta objectiva ter abertura máxima de 1,2, o que permite usar pouca luz, pese embora o “boquet”, como gostam de lhe chamar, que isso produz. A explicação técnica para isso fica para outra ocasião.
Foi um desafio, fazer este retrato, de uma desconhecida. A pouca luz existente, o ângulo de visão possível que implicava uma proximidade intimidatória, a falta de confiança ou cumplicidade entre ambos para o permitir…
Admito que fiquei satisfeito com o resultado. E mesmo os sempre indesejáveis reflexos das luminárias nos óculos acabaram por não ficar fora de contexto.
Vale o que vale, sabendo-se que outra edição não tem que alguma, pouca, alteração nas proporções de um quase quadrado 4 por 3 para um assumido e bem mais natural rectângulo horizontal. Pensado aquando da tomada de vista.
Se nós, humanos, nos relacionássemos com o mundo circundante em modo quadrado ou quase, ou verticalmente, teríamos os olhos dispostos de outro modo na cara.
Ficarão, ainda sobre este retrato, outras questões para debater:
Porque motivo será que a esmagadora maioria dos retratos têm os retratados o olhar fixado na objectiva? Vontade dos retratistas e vontade dos retratados.
Porque será que é quase impositivo que um retrato implique um sorriso? Demonstrar alguma cumplicidade entre ambos? Afirmar-se que se está de bem com o mundo?
E porque raio os retratados fazem questão que as magias das edições retirem as “imperfeições”. Não é este o caso nem o faço por uma questão de princípio, que são os sinais, as rugas, as assimetrias e outros que tais que definem a individualidade do retratado.
Ao longo dos últimos 150 anos, alguns foram os que se debruçaram sobre estas questões. E sobre a posse da imagem e do que isso significa. E sobre o facto de existirem bem mais retratos de mulheres que de homens. Há leituras sobre o assunto, há dezenas de milhares de exemplos.
Mas não vou aqui alongar-me sobre isso. Nem referir autores ou obras nem incluir as minhas próprias conclusões.
Fica o retrato da Andreia, uma desconhecida.


By me

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Para mais tarde recordar



De arquivo, sobre um fotógrafo à-lá-minuta.


O normal de acontecer em torno da minha câmara de madeira é boa disposição e sorrisos, por vezes mesmo gargalhadas.
O que antecede e sucede ao click da função, faço eu para que assim seja, quer aproveitando a surpresa sorridente do fotografado, quer porque tiro partido das recordações agradáveis que a câmara e eu mesmo provocamos, ali se passam uns bons minutos de satisfação.
Foi o caso de um homem, já na casa dos noventas, que me confessou que a primeira fotografia que fez foi numa câmara destas, tinha ele 14 anos, vestindo o primeiro fato que possuiu. Foi fazê-la ao Campo Grande, em Lisboa, que era mais barato que nos outros fotógrafos de rua e muito mais barato que nos de loja. E fez, a pé, o percurso do Bairro Alto ao Campo Grande para não pagar o bilhete, que trabalhava 18 horas por dia numa taberna do bairro, morando por cima, emprego bom, à época, para quem chegou da província para sobreviver.
Faz tempo que não o vejo por ali, pelo Jardim da Estrela.
Foi também o caso daquela senhora idosa, frequentadora diária daquelas sombras e bancos de madeira, que comentou, um destes dias, para as amigas com quem estava, que já ali havia feito uma fotografia. E, em tom bem mais alto, para que eu a ouvisse, afirmou: “Ainda a tenho! É uma recordação…!”
Falta-me saber o que aquela fotografia lhe recorda, já que foi feita ainda não há três meses.
Mas nem sempre o que acontece por ali, relacionado com a minha “Oldfashion”, é assim agradável ou bom de recordar.
Um destes, dias, a uns bancos de distância do meu poiso, um homem e uma mulher discutiam. A bem dizer, era mais um monólogo que uma discussão.
Ele, com uns bons 25 anos a mais que ela, estava sentado, sem dizer o que quer que fosse, intercalando o olhar distante para o horizonte urbano com o levar à boca para umas goladas a garrafa de vinho que tinha na mão.
Ela, de pé à sua frente, reclamava ora em tom baixo, ora audível de onde eu me encontrava, que queria o cartão, que o cartão era dela.
A dado passo, oiço-o retorquir-lhe. “Olha! Vai mas é ali fazer uma fotografia!”, ao mesmo tempo que acenava com a cabeça para o meu lado.
Foi uma estreia, já que do muito que já ouvi sobre fotografia no geral e sobre a minha câmara em particular, nunca nada foi em tom de insulto ou como substituto de palavrão. E fiquei sem saber de que cartão se tratava, se de telemóvel se de Multibanco, que se foram embora sem que a questão ficasse resolvida, ao que me pareceu.
Mas, mais ou menos na mesma altura, não me recordo do dia exacto, um casal com criança de colo passam por mim. Ela a falar em tom baixo, mas ríspido, ele a tentar sorrir enquanto empurrava o carrinho da cachopita.
Parou ele, questionou o que é costume questionar e quis fazer o retrato. De família. Todos a sorrir como é da tradição. Esforço vão, que ela não o quis e a fotografia ficou-se por dois terços dos visitantes. Enquanto ela, de parte, mantinha o cenho franzido.
E mais ficou quando a viu, à fotografia, e confirmou o preço pedido: coisa nenhuma.
Quando se afastaram, continuou ela o discurso interrompido, por palavras e gestos, e continuou ele a tentar sorrir.
Desta feita, o fazer de uma fotografia não provocou nenhum sorriso. E não creio que, passados tempos, meses ou anos, sorriam pela recordação. Que há coisas que não são “Para mais tarde recordar!”

Julho, 2009

By me

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Pudores




Contou-me quem se interessa sobre o assunto que há culturas que, pese embora tenham a nudez integral ou quase como hábito ou tradição, quando confrontados com o acto fotográfico o que ocultam é o rosto.
Efectivamente, é no rosto e no que exprime, que se encontra ou se pode “ler” o “eu”, sendo o resto do corpo o seu suporte orgânico.
Nos tempos que correm e na maioria das culturas é bem o oposto. Mostra-se o rosto e o que ele exprime com um despudor que não conseguem para o resto de si mesmos. Embelezam o rosto, com pinturas ou pilosidades, usando roupas para ocultar ou sugerir o que mais possuem de carnal. Esquecendo-se que é no rosto que estão expressas as emoções, as boas e as más.
A aldeia global e as redes sociais são a prova mais clara disso mesmo. Não apenas os cidadãos exibem o rosto, ocultando total ou parcialmente o corpo, como fazem questão que o corpo seja um tabu, proibindo-o e censurando-o.
Como se o “pecado” fosse o corpo e não o pensamento. E as leis, laicas ou confessionais, fazem disso ponto de honra.

Para os que se interessam por isso, Pentax K7 com Pentax SMC 50 1:1,2, ISO 400, 1/15, f/5,6



By me

sexta-feira, 12 de julho de 2019

quinta-feira, 11 de julho de 2019

A fotografia



Estava de férias em Lagos, algures nos princípios dos anos oitenta.
A família regularmente alugava a mesma casinha nos limites rurais da cidade e íamo-nos espraiar de manhã e à tarde para a meia praia.
Uma ocasião vi um glorioso carro dos anos 50 estacionado na avenida marginal. Impecável, parecia acabadinho de sair da fábrica. A seu lado, uma pequena palmeira no passeio. Mais ao fundo, a muralha de pedra do porto e o céu azul.
Este conjunto sugeriu-me uma imagem a fazer, desde que com a luz no ângulo certo. Feitas as contas e olhada a bússola, seria pelo meio-dia.
Uns dias depois, tendo o céu a limpidez adequada, parti descendo a colina, carregado com a câmara, as ópticas, os filtros, o tripé… toda a parafernália. Havia que chegar ao local a tempo de apanhar o sol na posição certa.
A meio caminho sou interpelado por um casal de velhotes que caminhava em sentido inverso:
“- Olá, como está?
- Desculpem mas… conheço-vos?
- Não se lembra de nós?
- Confesso que não. Querem ajudar-me?
- Em Coimbra, junto à Sé velha, há uns anos… Aquela fotografia que nos tirou…”
Recordei-me então e ficámos um niquinho à conversa.
Reformados que estavam, aproveitavam quando estava bom tempo para passear e conhecer o país como não tinham podido quando jovens.
E, à medida que iam viajando, iam fotografando o que viam, enquadrando-se ora um ora outro na imagem. Tinham uma única fotografia de ambos desses passeios: Aquela em que eu me tinha oferecido para fazer com a câmara deles, em Coimbra, aquando de uma das minhas peregrinações ao Encontros de Fotografia.
Apenas uma, de milhares que tinham. Apenas uma que os mostrava aos dois. Partilhando os Outonos amenos da vida e de Coimbra.
A minha oferta, tão natural quanto um copo de água, marcou-os indelevelmente. Aquela fotografia não é uma fotografia para eles:
É A fotografia.
Confesso que na altura já nem me recordava do facto. E, não fora eles, nem nunca mais o recordaria, de entre muitas situações semelhantes vividas.
E esta fotografia, que nunca vi, é uma daquelas que consta do meu álbum de recordações. Não como um ponto de viragem, mas mais como um parágrafo no livro que vamos escrevendo e a que chamamos vida.
Quanto à foto do carro? Bem, a hora de verão está atrasada em relação à solar, pelo que cheguei demasiadamente tarde nesse dia. Voltei lá mais tarde, mas não consegui dar-lhe aquele ar retro-californiano que queria.
Não adianta imitar. Há que ser espontâneo e generoso na fotografia, tal como na vida.

By me

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Grilhetas tecnológicas




A notícia é pequena e de ontem: “Rejeitadas todas as propostas para regular o direito a desligar; Deputados não se entendem e as propostas do PS, BE e PCP ficaram pelo caminho”
A ideia é regular as circunstâncias em que o empregador pode ou não contactar o empregado fora do horário de trabalho. Se é ou não legítimo o empregador interromper a vida privada do empregado, em qualquer dia do ano e em qualquer hora. Seja qual for a actividade profissional envolvida.
Nos tempos que correm, com a tecnologia existente, entende-se que será legítimo. Indo mais longe, é entendido como rude ou falta de profissionalismo se não se responder a uma mensagem ou se não se atender uma chamada telefónica. Independentemente da vontade do destinatário e do que estiver a fazer.
Em termos laborais, e com a precariedade dos contractos, a pressão é tal que não importa o como ou quando. Pondo em risco o vinculo laboral se não se atender ou responder.
Diz a notícia que os partidos não se entenderam e que a coisa ficou em águas de bacalhau. Não estranho, se considerar os diversos percursos profissionais dos deputados.



By me

terça-feira, 9 de julho de 2019

Na calçada




A história terá, talvez, uns dez anos. Ou coisa parecida.
Estação de caminho de ferro em Lisboa, onde aguardava o que me levaria para casa. Já a noite iria adiantada, pelo que recordo das condições de luz.
Duas mocinhas a rondar os 18/20 anos abordam-me no cais pedindo-me um cigarro.
Se fosse de dia, e como estava bem disposto, ter-lhes-ia proposto o negócio habitual: troco um cigarro por uma fotografia dos olhos.
Mas o ser de noite e a fraca iluminação do cais não permitiriam fazer algo que se visse. Improvisei sobre o tema:
“Dou um cigarro se me souberem dizer o que está no centro dos desenhos no chão, lá em baixo junto às bilheteiras”.
Ficaram a olhar para mim, com a cara de espanto que se adivinha, mas aceitaram o desafio. Foram ver.
Quando regressaram vinham sorridentes e bem-dispostas:
“Ohhhh! São corações! Tão giro!”
Dei-lhes o cigarro prometido, que é feio não cumprir promessas, e a sugestão de olharem com mais atenção para o chão que pisam. Cheguei mesmo a contar-lhes que alguns mestres calceteiros assinam ou assinavam os seus trabalhos com desenhos definidos pelos contornos de diversas pedras brancas: flores ou figuras geométricas.
Entretanto chegou o comboio e cada um foi à sua vida. Mas acredito que aquelas duas nunca mais pisaram a calçada portuguesa sem prestar atenção aos desenhos ali existentes e à mestria de alguns em particular.

Sugiro que façam o mesmo, ainda que não a troco de um cigarro ou sem a promessa de uma fotografia.



By me

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Vida privada



Bera, mas bera mesmo, é ser considerado ilegal e punível por lei o grafitar um espaço e ser considerado legal a publicidade exterior.
Que se a primeira, é uma expressão individual, mesmo que de qualidade duvidosa, ou mesmo uma identidade grupal, já a segunda é uma agressão permanente a quem estiver no espaço público, não sendo possível fugir aos permanentes apelos, quantas vezes enganosos, a menos que andemos de olhos fechados.
Se os fabricantes, através dos publicitários e painéis exteriores, nos podem quase forçar a consumir os seus produtos, faz todo o sentido que cada indivíduo possa publicitar as suas mensagens, quer de afirmação pessoal quer de identidade.

Claro que os grafitys fogem ao controlo da moral pública, sendo muitos deles subversivos. E isso é inadmissível!

By me

domingo, 7 de julho de 2019

Boa ou má



Tenho para mim que não há boas ou más fotografias.
O conceito de bom e de mau é um conceito social que, muitas vezes, entra em conflito com as opções de quem fotografa.
Pior: Limita quem fotografa a fazer o seu trabalho pela opinião da sociedade, deixando para trás, tantas vezes, a sua própria capacidade de inovar e criar.
Entendo que uma fotografia é boa quando consegue satisfazer o seu autor. Quando ele olha para ela e se revê no que nela “lê” e sente. Isto é uma boa fotografia!
A partir daqui entra em campo a questão do gosto dos demais e da eficácia da comunicação.
Se a fotografia agrada à maioria leva o carimbo de boa. Se também agrada aos especialistas será excelente.
Mas, e antes de mais, a fotografia, o trabalho realizado que transformou aquilo que foi visto e sentido naquilo que o fotógrafo entende por um equivalente fotográfico, tem que agradar ao seu autor.
Claro que a fotografia também é uma forma de comunicação. Por isso existem os livros, as galerias, os álbuns, os grupos. As mais das vezes fotografa-se para outros vejam e sintam o que o fotógrafo viu e sentiu.
E quando tal acontece, a fotografia é eficaz na sua função de comunicar.

Mas também sabemos que comunicar, mesmo que com fotografia, implica o partilhar de códigos comuns. Tal como a escrita. Ou a música. Ou a escultura. Se quem o vê não entender os códigos usados por quem o fez, a ponte da comunicação não existe.
Daí que exista uma tendência generalizada em fotografar usando de códigos (técnicas e estéticas) que sejam do entendimento generalizado dos destinatários. Algum tipo de formalidade no fazer de fotografia.
Esta formalidade, este usar de códigos generalizados na fotografia, acaba por fechar portas à capacidade que cada um possa ter de se satisfazer com o que faz sem pensar nos outros. Acaba por limitar a criatividade absoluta, obrigando a criar de acordo com os códigos instituídos.
Mais do mesmo, portanto!

Claro que os chamados “profissionais” a isso são obrigados. Têm que agradar aos clientes!
A sua principal preocupação, ao fotografar, é que os sentimentos expressos nas fotografias que fazem, se alguns, sejam entendidos por quem lhes paga o trabalho. Que é isso que deles se espera.
Se a gestão do espaço e dos elementos nele (composição), se a nitidez ou as relações entre o claro e o escuro não estiverem de acordo com a técnica e estética em vigor (os códigos de comunicação) dificilmente será vendida. Quer seja uma fotografia de um acontecimento social, uma reportagem de guerra, paisagem ou vida animal. Não aparecerá numa revista ou jornal, ninguém a verá num cartaz publicitário nem constará no álbum de casamento.

Será uma necessidade do fotógrafo definir aquilo que lhe agrada e aquilo que agrada ao consumidor. E ter a coragem de o assumir.

Nunca disse a um aluno ou formando “Essa fotografia é má!”
O mais que fiz foi dizer-lhe “Não gosto” ou “Não entendo”. E, acto continuo, pedir que ma explicasse, que sobre ela discorresse em voz alta. E que me dissesse se ela correspondia ao objectivo a que se tinha proposto. E se esse objectivo era pessoal ou comunicação de massas.
A classificação de boa ou má seria a dele, de acordo com isso e com a conversa.

Que o mais importante é a satisfação do próprio. O resto é socialização.

By me

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Salvar o dia




É daqueles acidentes, ou incidentes, que acontecem raramente. Mas quando acontecem, é uma carga de trabalhos resolve-los.
Tirar um filtro de uma objectiva que tenha batido algures e, mesmo que não tenha ficado partido, ficou torto e não se consegue tirar.
Há várias formas de o fazer. E nas boas lojas de fotografia saberão resolver a coisa.
Mas para quem quiser ser auto-suficiente, um saca filtros como este salva o dia. Ou algo de equivalente.
Que este tem uns bons decénios na minha mão e não sei se ainda se encontra no mercado. Mas está numa das minhas gavetas e em bom estado. Pronto para salvar o dia, caso fique com um filtro preso.
Coisa que dificilmente me acontece, já que o uso de um pára-sol, para além de proteger de luzes parasitas, evita pancadas no elemento frontal da objectiva. Filtro ou não filtro.



By me

Um erro imperdoável




Na minha tentativa de “fazer um boneco”, cometi uma gafe terrível. Admito-o.
Tal como admito que não irei repetir a imagem, dando a cara pelos meus erros.
Desafio a que aqui venham identificar e comentar.


By me

Taxas e impostos obrigatórios




Manchete do dia: “Simplex: Cartão do cidadão com renovação automática e carta de condução na hora”
Fui ler.
A dado passo, lê-se que:
“ A renovação automática do documento será aplicada em casos que não exijam recolha de dados biométricos se será perante o mero pagamento de referência multibanco enviada por sms juntamente com o aviso de caducidade”
Boa!
Uma coisa que é obrigatória – cartão do cidadão – sujeito a contra-ordenação se não se possuir ou estiver caducado, tem que ser pago. Melhor ainda: é automático o aviso de pagamento.
Entenda-se, de novo, que é obrigatório possuir esse documento. E entenda-se de novo que é obrigatório pagar para o ter.
Tenho a vaga sensação de estar a falar de um imposto, aplicável a todos os cidadãos, tenham ou não rendimentos, seja qual for a idade e condição.
Tenho a vaga sensação de estar a falar de algo à margem do direito geral e da constituição: um imposto por existir. Ou, se preferirem, um imposto para se ser cidadão nacional.



By me

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Redundância


Temos dois olhos, dois ouvidos, duas mãos, para que de algum modo cada um destes órgãos funcione por redundância ao outro. Em caso de falha, o outro mantém o corpo em funcionamento.
Mas também como fiscais recíprocos. O que um faz ou não faz, o outro sabe disso e, em caso de necessidade, controla-o, inibindo a asneira.
Infelizmente só temos uma boca.
Acredito que os deuses, depois de criado o Homem, se tenham apercebido de tal falha e tenham melhorado o produto algures noutro ponto do universo: duas bocas, para que uma evite que a outra diga asneiras. Ou para que uma diga o que há a dizer, mesmo que a outra se acanhe.
Dois cérebros também dava jeito.



By me

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Técnicas e prazeres




Em tempos haveria que usar uma câmara de grande formato ou uma objectiva shift para fazer uma imagem como esta:
Mantendo a geometria rectangular, mostrar algo visto parcialmente de cima.
Era um trabalho meticuloso, de rigor, que poucos sabiam fazer. Por falta de conhecimentos ou por falta de equipamento com que pudessem ter aprendido.
E, para além de implicar o uso de um tripé, sólido de preferência, era uma tarefa morosa, com recurso a níveis de bolha ou em alternativa a espelhos, lupas de focagem, e mais uns apetrechos que viajavam no fundo da mala cuidadosamente guardados.
Hoje bastam uns dois minutos sentado ao computador para se obter tal efeito. E perdeu-se alguma graça no seu fazer, digo eu.
Adicionalmente: trata-se de um cinzeiro existente no cais de uma estação de metro. Suponho que só por razões de estética do local e manutenção de factos históricos ainda ali exista. E, acredito, daqui por uns anos será necessário colocar-se uma legenda para que se saiba o que é.

By me