segunda-feira, 25 de março de 2019

Não!




Quem é o melhor pintor: DaVinci, Picasso, Monet? Quem é o melhor compositor: Ravel, Mozart, Beatles? Quem é o melhor fotógrafo: Weegee, Adams, Salgado?
São estas perguntas, e as óbvias não respostas, que me fazem ter aversão a concursos fotográficos.
Põe-se no mesmo patamar gente com formação e técnica bem distinta, apresenta-se um tema e “bora lá ver quem tem mais capacidade”.
Capacidade de quê? Criativa? Interpretativa? Técnica? Quem possui a melhor câmara ou objectiva? Dizer que esta fotografia será melhor que aqueloutra é descontextualizar o acto fotográfico. O local, a oportunidade, a capacidade de produzir ou de improvisar, as interpretações e/ou sentimentos sentidos no momento da fotografia e que quantas vezes conduzem a interpretações e sentimentos bem diversos no público.
A competição, já por coisa detestável, torna-se ainda pior quando envolve criatividade e sentimentos. E quando, para se obterem resultados, se depende dos equipamentos e custos, a quantidade de gente que nem arrisca por os não ter é enorme. Ou que, tendo algo que não o topo de gama, culpa isso mesmo pelo não sucesso. Quando sabemos que não é disso que depende a qualidade fotográfica.
Os concursos fotográficos têm algumas vantagens, entenda-se.
Para quem fotografa, a “cenoura do prémio” é um incentivo para se ir mais longe. Poderemos discutir o que “mais longe”, mas é um incentivo.
Para quem vê o resultado dos concursos, o abrir pistas para o seu próprio trabalho ao ver o trabalho de outros.
Para quem promove os concursos, o retorno económico, quer com as entradas pagas nas exposições, quer com o acervo com que se fica para campanhas publicitárias ou bancos de imagem comerciais.
Mas a mediatização de alguns concursos, e o World Press Photo é um deles, tem ainda um outro perigo para a qualidade e criatividade fotográficas: Ao afirmar-se que aquelas são as melhores e as divulgar quase até à exaustão, ficam os mais incautos com a convicção que fazer fotografia é aquilo e nada mais. Deixando de parte todas as outras abordagens fotográficas e toda a vertente de expressão pessoal que o acto criativo tem.
Não fugindo dos concursos fotográficos como o diabo da cruz, sempre me recusei a participar neles, como espectador, como fotógrafo, como seleccionador.
O mais que fiz foi em ambiente didáctico, incentivar cada aprendiz a ir mais longe que no trabalho anterior, sendo o próprio o seu próprio juiz. Defendendo as opções técnicas e estéticas com argumentos que as justifiquem. E, se estiverem bem argumentadas ou defendidas, então são boas. Tão boas como as do colega, que teve ou não mais tempo, que tem ou não melhor equipamento, que tem ou não sensibilidade apurada sobre aquele tema. Mas dizer que esta é melhor que aquela, que este é melhor fotógrafo que aquele…
Sempre me recusei a fazer. A classificar ou a ser classificado. Na fotografia e na vida.



By me

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