Quem é o melhor pintor: DaVinci, Picasso, Monet? Quem é o
melhor compositor: Ravel, Mozart, Beatles? Quem é o melhor fotógrafo: Weegee,
Adams, Salgado?
São estas perguntas, e as óbvias não respostas, que me fazem
ter aversão a concursos fotográficos.
Põe-se no mesmo patamar gente com formação e técnica bem
distinta, apresenta-se um tema e “bora lá ver quem tem mais capacidade”.
Capacidade de quê? Criativa? Interpretativa? Técnica? Quem
possui a melhor câmara ou objectiva? Dizer que esta fotografia será melhor que
aqueloutra é descontextualizar o acto fotográfico. O local, a oportunidade, a
capacidade de produzir ou de improvisar, as interpretações e/ou sentimentos
sentidos no momento da fotografia e que quantas vezes conduzem a interpretações
e sentimentos bem diversos no público.
A competição, já por coisa detestável, torna-se ainda pior
quando envolve criatividade e sentimentos. E quando, para se obterem resultados,
se depende dos equipamentos e custos, a quantidade de gente que nem arrisca por
os não ter é enorme. Ou que, tendo algo que não o topo de gama, culpa isso
mesmo pelo não sucesso. Quando sabemos que não é disso que depende a qualidade
fotográfica.
Os concursos fotográficos têm algumas vantagens, entenda-se.
Para quem fotografa, a “cenoura do prémio” é um incentivo
para se ir mais longe. Poderemos discutir o que “mais longe”, mas é um incentivo.
Para quem vê o resultado dos concursos, o abrir pistas para o
seu próprio trabalho ao ver o trabalho de outros.
Para quem promove os concursos, o retorno económico, quer
com as entradas pagas nas exposições, quer com o acervo com que se fica para
campanhas publicitárias ou bancos de imagem comerciais.
Mas a mediatização de alguns concursos, e o World Press Photo
é um deles, tem ainda um outro perigo para a qualidade e criatividade
fotográficas: Ao afirmar-se que aquelas são as melhores e as divulgar quase até
à exaustão, ficam os mais incautos com a convicção que fazer fotografia é
aquilo e nada mais. Deixando de parte todas as outras abordagens fotográficas e
toda a vertente de expressão pessoal que o acto criativo tem.
Não fugindo dos concursos fotográficos como o diabo da cruz,
sempre me recusei a participar neles, como espectador, como fotógrafo, como
seleccionador.
O mais que fiz foi em ambiente didáctico, incentivar cada
aprendiz a ir mais longe que no trabalho anterior, sendo o próprio o seu
próprio juiz. Defendendo as opções técnicas e estéticas com argumentos que as
justifiquem. E, se estiverem bem argumentadas ou defendidas, então são boas.
Tão boas como as do colega, que teve ou não mais tempo, que tem ou não melhor
equipamento, que tem ou não sensibilidade apurada sobre aquele tema. Mas dizer
que esta é melhor que aquela, que este é melhor fotógrafo que aquele…
Sempre me recusei a fazer. A classificar ou a ser
classificado. Na fotografia e na vida.
By me
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