domingo, 24 de março de 2019

À pedrada




Tenho idade suficiente para me lembrar de andar a fugir dos esbirros do regime.
Bufos, pides, colaboradores… Gente que por convicção, por cobardia, por dinheiro ou por ambição, denunciava a torto e a direito, sempre no anonimato, sempre mais ou menos protegidos pelo sistema.
Ainda hoje me recordo de alguns, que conheci nas juvenis vivências ou, depois de homem e já a trabalhar, me foram indicados. Tal como me recordo dos que, já depois da queda do regime, se aproveitavam dos novos e libertos ventos para vingança comezinhas, com ou sem razão.
E sempre me enojaram os que anonimamente denunciam e ficam a ver as consequências do seu cobarde gesto.
Dar a cara por aquilo que se faz, arcando com as consequências, é algo que diferencia os Homens de bem dos canalhas.
Continuo a revoltar-me contra os que ainda praticam a cobardia mental ou factual. Fazem-me saltar a tampa, perder a compostura, entrar no puro vernáculo, querer apelar à ignorância, enchendo-os de pancada até me doerem as mãos.
Claro que poderei sempre sempre recorrer à pedrada ou, tão ou mais eficiente, a uns bons tiros dados em locais não letais mas que os façam nunca esquecerem os actos que praticaram.
Infelizmente, gente dessa (se gente lhes posso chamar) encontram-se um pouco por toda a parte, disseminados como praga: no trabalho, na vizinhança, na política e na praça pública.
Um dia tiro a barriga de misérias e esqueço que até nem sou violento.



By me

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