quinta-feira, 28 de março de 2019

Limites




Recordo uma inovação particularmente importante na cidade de Lisboa há dezenas de anos: a introdução dos chamados “laranja mecânica” na frota de autocarros da Carris.
Esta mudança foi importante porque esses novos veículos vieram renovar a então mais que envelhecida frota com viaturas, com mais capacidade, mais conforto, mais segurança…
Na segurança é que não tanto!
Essas viaturas, porque novas e potentes, permitiam velocidades muito superiores ao legal e ao recomendado para a cidade e para o tipo de serviço. E esta possibilidade levou a que, nos primeiros tempos, tivessem acontecido diversos acidentes, alguns aparatosos ou graves. Sendo que se distinguiam dos antigos pela sua “nova” cor laranja no lugar do clássico verde, cedo receberam a alcunha popular de “laranja mecânica”.
Recordo igualmente que foi com aparato mediático que foram alterados com limitadores de velocidade ou estranguladores, reduzindo drasticamente esse tipo de acidentes.
Vem esta memória à tona devido a uma notícia lida há pouco: “Carros novos vão passar a ter limitador de velocidade automático”.
Por aquilo que li, a partir de 2022 os carros novos vendidos na EU vão passar a ter um conjunto de novas medidas de segurança, incluindo limitação automática de velocidade em função dos limites legais no local. Para tal, recorrerão a tecnologias já existentes, como câmaras ou gps, para identificar o limite permitido e bloquear a velocidade máxima da viatura.
Podemos, com toda a certeza, pôr em causa as questões éticas e de privacidade que tais sistemas violam. Isso será outro assunto.
Mas o que eu questiono agora é: se há limites legais de velocidade máxima mais ou menos uniformes em toda a europa, porque motivo se vendem viaturas que podem atingir mais do dobro desses limites?
Se a velocidade máxima legal numa auto-estrada é de, suponhamos, 120km/h, porque motivo se vendem “bombas” que podem livremente atingir os 220km/h ou mais?
Aplica-se aqui o mesmo princípio que se aplica a armas: Se matar ou disparar sobre alguém não é permitido e, por isso mesmo, a venda e uso de armas é fortemente restringido, porque não aplicar o mesmo princípio a viaturas?
O conceito do “livre arbítrio” e da liberdade é algo que defendo acerrimamente. Mas a possibilidade de alguém matar ou incapacitar outrem é algo que, mais que regulamentado e legislado, deve ser factualmente impedido.
E devo confessar: não me recordo da última vez em que, sem estrangulamentos de trânsito, fui transportado dentro dos limites legais de velocidade em algumas vias da cidade de Lisboa. Mesmo em autocarros.

Nota adicional: o autor destas linhas (eu) não conduz ou mesmo possui carta de condução.



By me

Sem comentários: