Recordo uma inovação particularmente importante na cidade de
Lisboa há dezenas de anos: a introdução dos chamados “laranja mecânica” na
frota de autocarros da Carris.
Esta mudança foi importante porque esses novos veículos
vieram renovar a então mais que envelhecida frota com viaturas, com mais
capacidade, mais conforto, mais segurança…
Na segurança é que não tanto!
Essas viaturas, porque novas e potentes, permitiam
velocidades muito superiores ao legal e ao recomendado para a cidade e para o tipo
de serviço. E esta possibilidade levou a que, nos primeiros tempos, tivessem
acontecido diversos acidentes, alguns aparatosos ou graves. Sendo que se
distinguiam dos antigos pela sua “nova” cor laranja no lugar do clássico verde,
cedo receberam a alcunha popular de “laranja mecânica”.
Recordo igualmente que foi com aparato mediático que foram
alterados com limitadores de velocidade ou estranguladores, reduzindo drasticamente
esse tipo de acidentes.
Vem esta memória à tona devido a uma notícia lida há pouco: “Carros
novos vão passar a ter limitador de velocidade automático”.
Por aquilo que li, a partir de 2022 os carros novos vendidos
na EU vão passar a ter um conjunto de novas medidas de segurança, incluindo
limitação automática de velocidade em função dos limites legais no local. Para
tal, recorrerão a tecnologias já existentes, como câmaras ou gps, para identificar
o limite permitido e bloquear a velocidade máxima da viatura.
Podemos, com toda a certeza, pôr em causa as questões éticas
e de privacidade que tais sistemas violam. Isso será outro assunto.
Mas o que eu questiono agora é: se há limites legais de
velocidade máxima mais ou menos uniformes em toda a europa, porque motivo se
vendem viaturas que podem atingir mais do dobro desses limites?
Se a velocidade máxima legal numa auto-estrada é de,
suponhamos, 120km/h, porque motivo se vendem “bombas” que podem livremente atingir
os 220km/h ou mais?
Aplica-se aqui o mesmo princípio que se aplica a armas: Se
matar ou disparar sobre alguém não é permitido e, por isso mesmo, a venda e uso
de armas é fortemente restringido, porque não aplicar o mesmo princípio a
viaturas?
O conceito do “livre arbítrio” e da liberdade é algo que
defendo acerrimamente. Mas a possibilidade de alguém matar ou incapacitar
outrem é algo que, mais que regulamentado e legislado, deve ser factualmente impedido.
E devo confessar: não me recordo da última vez em que, sem
estrangulamentos de trânsito, fui transportado dentro dos limites legais de
velocidade em algumas vias da cidade de Lisboa. Mesmo em autocarros.
Nota adicional: o autor destas linhas (eu) não conduz ou
mesmo possui carta de condução.
By me
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