segunda-feira, 11 de março de 2019

Critérios




Contam-nos as notícias que caiu um avião.
Detalham-nos elas que se tratou de uma aeronave da companhia Ethiopian Airlines, que partira de Adis Abeba, na Etiopia, que saiu dos radares seis minutos depois da descolagem e que abordo seguiam 149 passageiros e 8 tripulantes e que não há sobreviventes.
Até aqui, do que nos é contado, é um relato mais ou menos habitual sobre acidentes deste género. Algumas fontes acrescentam o modelo de avião, outras acrescentam quantos acidentes este modelo já sofreu, outras o há quanto tempo estaria o avião ao serviço da companhia.
Aquilo que me incomoda, na forma de contar o terrível acidente, é a identificação das vítimas e as reacções a esta lista.
Refere-se que algumas eram membros de ONGs internacionais, pessoas influentes em questões humanitárias, idades e quantos filhos deixam… trágica, esta pequena lista.
Porque é pequena! Ignora a identidade dos restantes passageiros e tripulantes, não refere se teriam filhos, agora órfãos, as suas ocupações… Como se só aqueles da pequena lista fossem importantes e dignos de nota!
Qualquer um é importante. E qualquer morte num acidente de aviação é importante. Para a família, para os amigos, para a empresa… Relativizar a importância de pessoas vítimas de um acidente de aviação é, pior que lamentar a morte de alguns, menosprezar a morte dos restantes. Como se os demais, os não listados, fossem meros peões, insignificantes danos colaterais, gente descartável nas estatísticas funestas da aviação.
A necessidade de vender jornais ou atingir quotas de audiências leva a extremos destes: a seleccionar, entre mais de uma centena de vítimas, quais os importantes e quais os que o mundo deve ignorar.
Ora batatas para os critérios editoriais!

Fotografia roubada da net

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