sexta-feira, 29 de março de 2019

Transparências




Leio um título num jornal: “PSD e PS travam limitações aos deputados advogados”.
Noutro jornal leio um outro título sobre o mesmo assunto: “PSD e PS abrem alas a deputados-advogados e financeiros”.
Procurando, encontro o “Regime de presenças e faltas ao plenário”, uma resolução da Assembleia da República de 2009, onde no seu artigo 7º se diz “A palavra do deputado faz fé, não carecendo por isso de comprovativos adicionais”.

Nos últimos tempos tenho ouvido alguém afirmar, repetidamente, “não é justo”. Aplica-se num contexto completamente diferente, mas as palavras poderiam repetir-se neste. Que isto de ser juiz em causa própria e, ainda por cima, ser o legislador tem muito que se lhe diga.
Quando fores votar, pensa em quem queres que te represente e por ti faça leis. Com que transparência e isenção.
Que a responsabilidade por quem lá está é também tua!



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Power



Enquanto ia cuidado do jantar, o televisor perorava os seus programas. Por distracção, e ao invés do costume, havia-o deixado num noticiário.
Os seus sons eram átonos, monocórdicos, variando as vozes mas não as entoações, apenas intercalados com as músicas de separadores.
De súbito apercebo-me que a voz que ouvia falava aceleradamente, em tom exaltado, quase de angústia, num frenesim e volume discordante do resto que me havia chegado aos ouvidos.
Larguei o que fazia e fui cuscar o aparelho, presumindo que algo de realmente importante estava a ser contado ou relatado. De facto estava!
Tinha-se entrado na página do desporto.
Mantive a compostura, não disse nada que a minha avozinha não pudesse ter ouvido e fiz a única coisa sã que poderia fazer.
O jantar foi tranquilo.

By me

quinta-feira, 28 de março de 2019

Limites




Recordo uma inovação particularmente importante na cidade de Lisboa há dezenas de anos: a introdução dos chamados “laranja mecânica” na frota de autocarros da Carris.
Esta mudança foi importante porque esses novos veículos vieram renovar a então mais que envelhecida frota com viaturas, com mais capacidade, mais conforto, mais segurança…
Na segurança é que não tanto!
Essas viaturas, porque novas e potentes, permitiam velocidades muito superiores ao legal e ao recomendado para a cidade e para o tipo de serviço. E esta possibilidade levou a que, nos primeiros tempos, tivessem acontecido diversos acidentes, alguns aparatosos ou graves. Sendo que se distinguiam dos antigos pela sua “nova” cor laranja no lugar do clássico verde, cedo receberam a alcunha popular de “laranja mecânica”.
Recordo igualmente que foi com aparato mediático que foram alterados com limitadores de velocidade ou estranguladores, reduzindo drasticamente esse tipo de acidentes.
Vem esta memória à tona devido a uma notícia lida há pouco: “Carros novos vão passar a ter limitador de velocidade automático”.
Por aquilo que li, a partir de 2022 os carros novos vendidos na EU vão passar a ter um conjunto de novas medidas de segurança, incluindo limitação automática de velocidade em função dos limites legais no local. Para tal, recorrerão a tecnologias já existentes, como câmaras ou gps, para identificar o limite permitido e bloquear a velocidade máxima da viatura.
Podemos, com toda a certeza, pôr em causa as questões éticas e de privacidade que tais sistemas violam. Isso será outro assunto.
Mas o que eu questiono agora é: se há limites legais de velocidade máxima mais ou menos uniformes em toda a europa, porque motivo se vendem viaturas que podem atingir mais do dobro desses limites?
Se a velocidade máxima legal numa auto-estrada é de, suponhamos, 120km/h, porque motivo se vendem “bombas” que podem livremente atingir os 220km/h ou mais?
Aplica-se aqui o mesmo princípio que se aplica a armas: Se matar ou disparar sobre alguém não é permitido e, por isso mesmo, a venda e uso de armas é fortemente restringido, porque não aplicar o mesmo princípio a viaturas?
O conceito do “livre arbítrio” e da liberdade é algo que defendo acerrimamente. Mas a possibilidade de alguém matar ou incapacitar outrem é algo que, mais que regulamentado e legislado, deve ser factualmente impedido.
E devo confessar: não me recordo da última vez em que, sem estrangulamentos de trânsito, fui transportado dentro dos limites legais de velocidade em algumas vias da cidade de Lisboa. Mesmo em autocarros.

Nota adicional: o autor destas linhas (eu) não conduz ou mesmo possui carta de condução.



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quarta-feira, 27 de março de 2019

terça-feira, 26 de março de 2019

Qualquer coisa




Estou certo que hoje foi o dia internacional de qualquer coisa, o dia mundial de qualquer coisa ou o dia nacional de qualquer coisa.
A favor de qualquer coisa ou contra qualquer coisa.
Por ser qualquer coisa, esta fotografia aplica-se, a favor ou contra.
Se a favor, que seja para construir qualquer coisa; se for contra, que seja para apedrejar qualquer coisa.
Seja como for, esta fotografia serve para qualquer coisa.



By me

Dinheiros e custos




O dinheiro que usamos é a contrapartida pelo nosso trabalho. Tanto por conta de outrem como investimento pessoal.
Acontece que, nos tempos que correm, cada vez menos se usa dinheiro vivo, em notas e moedas, e cada vez mais o dinheiro virtual. Através de sistemas electrónicos, tanto nos multibancos como nos computadores pessoais ou dispositivos moveis.
Mas estas utilizações virtuais não são gratuitas. Alguém paga para que as usemos, ou o comerciante ou o consumidor. Mais ainda, haverá que ter um contrato com um banco, entidade privada, para que as possamos usar. E, no caso de computadores ou dispositivos moveis, haverá que ter um contrato com uma empresa de telecomunicações.
Por outras palavras, para podermos usar o que é nosso – o valor do nosso trabalho – haverá que pagar a empresas terceiras, que lucram com isso.
Mas, tão ou mais grave que isso, estamos dependentes dessas empresas para usar o nosso dinheiro. Um destes dias uma empresa de telecomunicações portuguesa teve um colapso tecnológico (ou equivalente) e esteve horas a fio sem serviço. Todos aqueles que dependiam dela para comunicarem, e consequentemente usarem o dinheiro virtual, ficaram apeados.
De igual modo, ainda não há muitos meses, aconteceu algo de semelhante em Moçambique: Terminou o contrato com a empresa que geria a rede de comunicações dos atm e estes ficaram inoperacionais. Ou algo de parecido.
Estamos a depender – e a alimentar – empresas terceiras, obrigatoriamente, para usarmos o que é nosso. E o que é mais caricato é que mesmo nos pagamentos ao Estado, acima de determinado valor haverá que usar uma conta bancária. Mesmo na esmagadora maioria das empresas o pagamento de salário só se efectua através de transferência bancária ou, na melhor das hipóteses, usando um cheque. Traçado, que obriga a depósito.
Quando oiço falar na importância do sistema bancário e no eventual peso que os desaires bancários possam ter das despesas de Estado.
Se a sociedade quer usar os bancos e o dinheiro virtual tem que estar preparada para que falhe. Ou, em alternativa, não impor estas formas de usar o que nos pertence com contratos com terceiros, que lucram com isso. Com o nosso esforço e trabalho.

By me
Imagem editada a partir da net

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Há que saber dizer “Não” com tanta veemência que o próprio “Sim” se envergonhe de existir.
Mas também há que saber usar o “Sim” com tanta vontade, que o “Não” se encolha de medo. 

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segunda-feira, 25 de março de 2019

Post



O que tem esta imagem de especial?
Nada, responderão aqueles que estão habituados a ver disto e que, por casualidade, residem na cidade de Barcelona.
Trata-se de um banal poste de sustentação de semáforos, na beira de um cruzamento que, por sinal, até que nem é muito movimentado.
O que tem interesse, pelo menos para mim, pacóvio Alfacinha, é constatar que a edilidade da capital da Catalunha gasta uma boa maquia no desenho, encomenda e manutenção destes postes, que existem apenas em alguns locais da cidade. Quem os desenhou terá cobrado bem pela originalidade, quem os fundiu também se terá feito pagar bem, já que o número entregue terá sido não particularmente grande, tê-los de reserva para substituição em caso de dano também não será coisa barata.
Então, perguntar-se-á, porque raio se gasta dinheiro assim, por peças que todos vêem mas em que ninguém repara? Direi, talvez, pelo simples prazer de ter uma coisa bonita para ser vista, mesmo que só de passagem. Até porque, quando olhamos para um semáforo, a nossa atenção centra-se nas cores das suas luzes e pouco, se alguma coisa, no formato ou decoração do poste que as sustenta.
A menos que haja prazer em ter a cidade com coisas bonitas. Pelo simples prazer de as ter ali, mesmo sob o nosso olhar, e podermos delas desfrutar sempre que nos apetecer.
Um pouco, diria eu, à semelhança do que os antigos, os mesmo muito antigos, faziam ao decorar com preciosos detalhes, os capiteis que encimavam colunas de proporções quase que gigantescas. Quase que longe do alcance da vista. Se a coisa tem que existir, então que seja bonita e que nos dê prazer usufruir.
Que o minimalismo em que a forma tem que seguir a função sem que nada acrescente é o resultado de uma sociedade de consumo estereotipado, amorfo, asséptico e, acima de tudo, estéril!
Admirem-se, depois, de que eu querer viver em Barcelona!

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Não!




Quem é o melhor pintor: DaVinci, Picasso, Monet? Quem é o melhor compositor: Ravel, Mozart, Beatles? Quem é o melhor fotógrafo: Weegee, Adams, Salgado?
São estas perguntas, e as óbvias não respostas, que me fazem ter aversão a concursos fotográficos.
Põe-se no mesmo patamar gente com formação e técnica bem distinta, apresenta-se um tema e “bora lá ver quem tem mais capacidade”.
Capacidade de quê? Criativa? Interpretativa? Técnica? Quem possui a melhor câmara ou objectiva? Dizer que esta fotografia será melhor que aqueloutra é descontextualizar o acto fotográfico. O local, a oportunidade, a capacidade de produzir ou de improvisar, as interpretações e/ou sentimentos sentidos no momento da fotografia e que quantas vezes conduzem a interpretações e sentimentos bem diversos no público.
A competição, já por coisa detestável, torna-se ainda pior quando envolve criatividade e sentimentos. E quando, para se obterem resultados, se depende dos equipamentos e custos, a quantidade de gente que nem arrisca por os não ter é enorme. Ou que, tendo algo que não o topo de gama, culpa isso mesmo pelo não sucesso. Quando sabemos que não é disso que depende a qualidade fotográfica.
Os concursos fotográficos têm algumas vantagens, entenda-se.
Para quem fotografa, a “cenoura do prémio” é um incentivo para se ir mais longe. Poderemos discutir o que “mais longe”, mas é um incentivo.
Para quem vê o resultado dos concursos, o abrir pistas para o seu próprio trabalho ao ver o trabalho de outros.
Para quem promove os concursos, o retorno económico, quer com as entradas pagas nas exposições, quer com o acervo com que se fica para campanhas publicitárias ou bancos de imagem comerciais.
Mas a mediatização de alguns concursos, e o World Press Photo é um deles, tem ainda um outro perigo para a qualidade e criatividade fotográficas: Ao afirmar-se que aquelas são as melhores e as divulgar quase até à exaustão, ficam os mais incautos com a convicção que fazer fotografia é aquilo e nada mais. Deixando de parte todas as outras abordagens fotográficas e toda a vertente de expressão pessoal que o acto criativo tem.
Não fugindo dos concursos fotográficos como o diabo da cruz, sempre me recusei a participar neles, como espectador, como fotógrafo, como seleccionador.
O mais que fiz foi em ambiente didáctico, incentivar cada aprendiz a ir mais longe que no trabalho anterior, sendo o próprio o seu próprio juiz. Defendendo as opções técnicas e estéticas com argumentos que as justifiquem. E, se estiverem bem argumentadas ou defendidas, então são boas. Tão boas como as do colega, que teve ou não mais tempo, que tem ou não melhor equipamento, que tem ou não sensibilidade apurada sobre aquele tema. Mas dizer que esta é melhor que aquela, que este é melhor fotógrafo que aquele…
Sempre me recusei a fazer. A classificar ou a ser classificado. Na fotografia e na vida.



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domingo, 24 de março de 2019

À pedrada




Tenho idade suficiente para me lembrar de andar a fugir dos esbirros do regime.
Bufos, pides, colaboradores… Gente que por convicção, por cobardia, por dinheiro ou por ambição, denunciava a torto e a direito, sempre no anonimato, sempre mais ou menos protegidos pelo sistema.
Ainda hoje me recordo de alguns, que conheci nas juvenis vivências ou, depois de homem e já a trabalhar, me foram indicados. Tal como me recordo dos que, já depois da queda do regime, se aproveitavam dos novos e libertos ventos para vingança comezinhas, com ou sem razão.
E sempre me enojaram os que anonimamente denunciam e ficam a ver as consequências do seu cobarde gesto.
Dar a cara por aquilo que se faz, arcando com as consequências, é algo que diferencia os Homens de bem dos canalhas.
Continuo a revoltar-me contra os que ainda praticam a cobardia mental ou factual. Fazem-me saltar a tampa, perder a compostura, entrar no puro vernáculo, querer apelar à ignorância, enchendo-os de pancada até me doerem as mãos.
Claro que poderei sempre sempre recorrer à pedrada ou, tão ou mais eficiente, a uns bons tiros dados em locais não letais mas que os façam nunca esquecerem os actos que praticaram.
Infelizmente, gente dessa (se gente lhes posso chamar) encontram-se um pouco por toda a parte, disseminados como praga: no trabalho, na vizinhança, na política e na praça pública.
Um dia tiro a barriga de misérias e esqueço que até nem sou violento.



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sábado, 23 de março de 2019

Por vezes



Por vezes o enquadramento que apetece fazer é mesmo ao meio.
Por vezes!

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sexta-feira, 22 de março de 2019

Fazer




Tive que o fazer! Não resisti e, perante um “há que tirar uma fotografia”, usei a uma das minhas parábolas preferidas.
“Pegue lá no seu telemóvel e ponha-o em modo de fotografia. Agora prima a tecla correspondente. Sabe o que fez? Fez o papel de deus. Usou a energia do aparelho, a energia luminosa existente e a sua energia criativa para produzir algo que não existia uma fracção de segundo antes. É isso que os deuses fazem: criar a partir de quase nada.
Portanto, as fotografias não se tiram, fazem-se.
Que tirar é negativo, destrutivo, e fazer é positivo, criativo.”
Não sei se o recado terá sido entendido, mas que ficaram com uma outra visão da fotografia, lá isso ficaram.



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quinta-feira, 21 de março de 2019

Primícias




No primeiro dia de Primavera, as primeiras papoilas.
A primeira borboleta também andava por ali, mas fugiu.



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Ontem




Ontem aqui na rua, no bairro, na cidade, nasceu uma criança!
Como disse um africano, feita com muito, mesmo muito amor. Todas as noites fizeram um pouquinho mais, uma perninha, um bracinho, hoje a boca, amanhã os pezinhos… Nasceu saudável e mãe e filho estão bem. O pai está baboso e sorri para quem passa…
Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, alguém precisou e alguém deu!
Uma moeda, um sorriso, um conselho, uma prenda, um ombro. Alguém ficou um pouquinho mais feliz por ter recebido e alguém ficou muito mais cheio por ter dado.
Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, alguém leu um livro!
Romance ou histórico, técnico ou de ficção, alguém ficou mais rico, mais culto, com os horizontes mais largos e com mais temas para contar. E alguém foi lido, alguém fez passar a sua mensagem, o seu testemunho, a sua imaginação, o seu sonho.
Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, alguém cantou!
Desenhou, escreveu, dançou, convidou para dançar, para contar as estrelas, para colher uma flor.
Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, ninguém foi vítima de violência!
Não houve nem mortos nem feridos, assaltos ou explosões, acidentes ou violações. Ninguém ficou mais pobre na sua carne ou na carne da sua carne. As ambulâncias não saíram e as lágrimas não correram.
Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, não houve notícias!
Não houve motivos para que os repórteres aqui viessem fazer intervenções em directo nem fotografias para as manchetes. Não inventaram frases bombásticas nem entrevistaram nenhum político local. Não passaram para segundo plano eleições nem vieram aqui procurar as chamas com que aquecem as gamelas de onde comem.

Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, foi um dia feliz!
E os media ignoraram-nos!

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quarta-feira, 20 de março de 2019

Ano novo




Desejo a todos um bom ano novo!
De acordo com a tradição Persa, é no equinócio da Primavera que o ano começa.
E faz sentido que assim seja, já que a Primavera é a época da renovação, nos nascimentos, das flores e novas colheitas…
E hoje acontece um Equinócio, constatável por ser um dos dois dias do ano em que a quantidade de horas de luz é igual à quantidade de horas de noite. Da Primavera, no hemisfério norte.
 Acontece também ser Lua Cheia. Fenómeno regular, uma vez por mês, mais ou menos.
É assim que, e no intervalo de 24 horas, se constatam três marcas naturais da passagem do tempo: dia, mês, ano. Marcas simples de observar e que desde sempre se conhecem e celebram.
A todos vós, que hoje estarão a viver as vossas vidas, desejo um bom ano novo, tão cheio de coisas boas quantas as que puderem viver. Tal como todos os anos que se lhe seguirão.

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terça-feira, 19 de março de 2019

Detalhes de imprensa especializada




Um destes dias, ao comprar cigarros na papelaria/tabacaria aqui do bairro onde moro, dou com esta revista.
Não conhecia o título, porque nunca a havia nos quiosques, e perguntei por ela. Disseram-me que tinha chegado na véspera e que era o número um. De um título anual.
De então para cá, depois de a comprar, tenho prestado atenção aos locais onde revistas e jornais se vendem.
É interessante verificar quais os quiosques ou papelarias/tabacarias que o vendem. Em função, creio, da população circundante, do potencial público para ela e das tendências políticas dominantes na zona.
Tenho dado uma olhada no seu interior. Uma revista anual não tem pressa de ser lida. Menos ainda neste formato, pouco cómodo para ser lido num transporte público e implicando uma mesa, em casa ou no café, ou um sofá cómodo.
Sempre gostava de saber a opinião dos especialistas em imprensa sobre a paginação, a relação das manchas de texto e as manchas de grafismos, fotografia ou outros, bem como o facto de a maioria dos artigos de mais de uma página começarem na página esquerda, com o que isso implica para quem folheia uma revista. Bem como a comparação deste título e da sua origem com outros equivalentes de outras formações partidárias.
Acrescente-se que teve uma tiragem de 10.000 exemplares, que custa quatro euros e não tem publicidade.

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Viva a batata frita ou quejando!




Câmara anecóica, câmara isobárica, câmara frigorífica, câmara de voto, câmara escura, câmara de vídeo…
Caramba! Para fotografar também se usa uma câmara.
Deixemos as máquinas para escrever, cortar relva, barbear, lavar…
Uma câmara é um local fechado com acesso controlado para um dado efeito. Na fotografia temos o espaço onde se encontra a superfície foto sensível e cujo acesso da luz ao seu interior é por nós controlado. Em quantidade e em tempo. Isto é uma câmara.
Isto é uma câmara fotográfica. Não uma máquina.
Claro que lhe podemos chamar qualquer outra coisa: batata frita, adufe, supositório ou mesmo máquina.
Mas o termo correcto é câmara fotográfica!


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segunda-feira, 18 de março de 2019

No despertar




“De cada um conforme as suas capacidades,
A cada um conforme as suas necessidades.”
Acordei a pensar nesta frase. E a pensar que, e para além dos afectos, é talvez o conceito mais belo que conheço.



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domingo, 17 de março de 2019

Rigores




Pelas marcas, há quem leve tudo ao pé da letra.



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Arrumadinhos




Ás vezes aparecem assim, arrumadinhos.



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sábado, 16 de março de 2019

Uma sugestão




Somente os deuses (e nem todos) são omnipotentes, podendo tudo e ao mesmo tempo.
Também somente os processadores digitais (e nem todos) são capazes de multitasking podendo processar inúmeras funções em simultâneo.
Assim, e a menos que você seja um deus ou um computador, não tente viver um acontecimento e fotografá-lo ao mesmo tempo. Uma das duas coisas não funcionará bem, muito provavelmente as duas.
Decida com antecipação (ou à chegada) se vai viver aquele acontecimento ou vai fotografá-lo. E faça-o em pleno! Tirando o máximo partido da vida ou da fotografia. Por inteiro.
Dois em um só mesmo deuses e computadores.
E shampoo, claro.



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sexta-feira, 15 de março de 2019

Arte e política




Parece que há gente ligada à política e aos partidos que estão escandalizados com uma declaração de uma artista portuguesa.
De acordo com o que li num jornal, Leonor Antunes foi escolhida por concurso para representar Portugal na bienal de Veneza. E terá afirmado, e cito, “A situação no mundo é triste, com países que estão a tornar-se regimes fascistas e populistas. Se tivéssemos um regime diferente, de direita, nunca teria aceitado o convite. Se estivesse o PSD ou o CDS no governo, não aceitaria. Embora sejam partidos democráticos, defendem valores em que não acredito.”
Há partidos que, de um modo mais explícito ou mais discreto, comentam negativamente esta declaração, havendo mesmo quem queira excluir a sua autora da participação no certame.
Esquecem-se todos eles que a Arte, seja qual for o seu suporte, plástico ou não, é sempre uma intervenção política. De concordância ou discordância da vida, dos costumes, das leis, dos actos humanos.
E esquecem-se que a Arte, seja qual for o seu suporte, deve que agitar as consciências, fazer pensar (muito ou pouco), criar algo de novo. Quando não, deixa de ser arte para ser a execução sistematizada de códigos de expressão pessoal ou colectiva. E passa a ser uma sensaboria académica, respeitadora de normas, veneranda e obrigada aos lentes e poderosos.
A Arte tem sempre ideias associadas. E isso é ser político. Dissociar a arte da intervenção social, da simpatia ou antipatia por correntes de pensamento e suas práticas, é transformar o que é produzido em artigos de linhas de produção, que têm tanto de artístico e criativo quanto fotocópias.
E os seus autores, os artistas, têm o direito – e o dever – de se identificar com a política vigente. De colaborarem, positiva ou negativamente, com a sociedade em que se inserem, de agitar mentalidades, de obrigar a pensar e a mudar o que entendem por retrógrado ou pernicioso.
Um artista ou criador dizer que não colabora com um regime ou grupos de pessoas que pensam de forma notoriamente diferente no que concerne à sociedade é, não apenas um direito como um dever em defesa daquilo em que acredita.
O próprio facto de os partidos políticos se sentirem afectados por tal declaração e querem afastar um artista do sistema reforça a necessidade e o direito de o dizer e de actuar em conformidade.
Não conheço a artista, Leonor Antunes. Nem pessoalmente nem o seu trabalho. Mas, asseguro, fiquei com vontade de conhecer e de lhe dar o meu aplauso, gostando ou não das suas obras.


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segunda-feira, 11 de março de 2019

Critérios




Contam-nos as notícias que caiu um avião.
Detalham-nos elas que se tratou de uma aeronave da companhia Ethiopian Airlines, que partira de Adis Abeba, na Etiopia, que saiu dos radares seis minutos depois da descolagem e que abordo seguiam 149 passageiros e 8 tripulantes e que não há sobreviventes.
Até aqui, do que nos é contado, é um relato mais ou menos habitual sobre acidentes deste género. Algumas fontes acrescentam o modelo de avião, outras acrescentam quantos acidentes este modelo já sofreu, outras o há quanto tempo estaria o avião ao serviço da companhia.
Aquilo que me incomoda, na forma de contar o terrível acidente, é a identificação das vítimas e as reacções a esta lista.
Refere-se que algumas eram membros de ONGs internacionais, pessoas influentes em questões humanitárias, idades e quantos filhos deixam… trágica, esta pequena lista.
Porque é pequena! Ignora a identidade dos restantes passageiros e tripulantes, não refere se teriam filhos, agora órfãos, as suas ocupações… Como se só aqueles da pequena lista fossem importantes e dignos de nota!
Qualquer um é importante. E qualquer morte num acidente de aviação é importante. Para a família, para os amigos, para a empresa… Relativizar a importância de pessoas vítimas de um acidente de aviação é, pior que lamentar a morte de alguns, menosprezar a morte dos restantes. Como se os demais, os não listados, fossem meros peões, insignificantes danos colaterais, gente descartável nas estatísticas funestas da aviação.
A necessidade de vender jornais ou atingir quotas de audiências leva a extremos destes: a seleccionar, entre mais de uma centena de vítimas, quais os importantes e quais os que o mundo deve ignorar.
Ora batatas para os critérios editoriais!

Fotografia roubada da net

domingo, 10 de março de 2019

Reflexões linguísticas numa manhã de domingo




É do conhecimento generalizado que o prefixo “in” significa, na nossa língua, “negação”.
Infeliz, incapaz, incontinente, infiel…
Por isso, convém estar alerta com o que dizemos ao usarmos a palavra “informação”.
De igual modo, o prefixo “pan” significa em português “todo”, “abrangente”, “total”.
Pandemia, panaceia, pandemónio…
Donde, tenham a certeza do que querem, ao pedir num restaurante ou café uma “panqueca”.
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sexta-feira, 8 de março de 2019

Calçada de Carriche




Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.

Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.


Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.

Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

António Gedeão