quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019
Auto retrato
... ou como o photógrapho vê o mundo: em pequenos pedaços, divididos no espaço e no tempo, tentando construir com eles um puzzle coerente.
E nem sempre conseguindo.
By me
terça-feira, 26 de fevereiro de 2019
O ovo ou a galinha
O que surgiu primeiro: o
ovo ou a galinha?
O que é mais importante:
a informação que os media querem vender ou a informação que o público quer
consumir?
Os media procuram vender.
Mais unidades e em mais quantidade que os seus concorrentes. Logo, vão atrás
dos “gostos” do público.
O público usa a
informação como forma de exorcizar os seus males, satisfazendo-se com o sucesso
dos seus heróis e minimizando os seus males com a grandeza dos males dos
outros.
Mas o público não quer
ser informado em profundidade sobre as vitórias dos heróis. Porque sabe que
cada vitória é consequência de muitas derrotas, e de derrotas está ele cheio no
dia-a-dia.
E o público não quer
saber das origens e consequências dos males dos outros, com receio de neles
encontrar os seus próprios males, aqueles que o atrapalham e incomodam, e de
poder antever o dia seguinte.
E como ninguém é herói
todos os dias, o herói de hoje é o esquecido de amanhã, que novos heróis serão
descobertos pelos media. Que se não tiverem novos heróis a apresentar, venderão
menos e terão menos lucros, que ter lucro é o seu objectivo.
E como falar dos males em
profundidade é remexer em feridas dolorosas, há que evitar essas dores, que
ninguém compra produtos que provoquem dores agudas e prolongadas, e ter lucro é
o seu objectivo.
A missão do comunicador
contemporâneo (seja ele de texto, som, imagem ou ideias) é encontrar todos os
dias novos heróis, novos males, que ajudem na facturação da empresa onde
trabalham. Como esta facturação depende, em boa medida, da facturação da
concorrência, há que ir mais longe, há que ser mais apelativo, há que mostrar
ao público que os novos males que se mostram são mais maus e mais distantes,
que os novos heróis que se exibem são mais dignos e mais credíveis.
Deixou de ser importante
fazer, como nos juramentos de tribunal dos filmes americanos, “a verdade, toda
a verdade e nada mais que a verdade.” Na concorrência dos media, apenas a “a
verdade” tem algum peso (e não muito!). “Toda a verdade” deixou de ser
importante, porque incómoda para o público e cara na produção. Já o “Nada mais
que a verdade” depende dos conceitos éticos de quem produz, nem sempre os mais
recomendáveis.
Assim, a relação entre os
media e o público tornou-se (e é!) uma relação simplista em que um vende e o
outro compra produtos para aliviar consciências e incómodos quotidianos. Tal
como a botica vende pomadas para o lumbago e pensos para os calos.
A missão do jornalista ou
do técnico de comunicação deixou de ser (se alguma vez foi) intervencionista na
sociedade para ser a de fabricante de notícias, com a conta certa de dor e
prazer no público para o manter como consumidor fiel.
E o público deixou de
querer (se alguma vez quis) estar alerta sobre o que o cerca, restringindo-se
ao seu pequeno mundo doméstico e familiar. Procura na informação os paliativos
para as suas maleitas, não se preocupando com as suas causas nem com o prevenir
de novas.
Alguns há, honra lhes
seja feita, que não se encaixam neste consumismo informativo. Pessoas há que
procuram saber mais e mais fundo, comunicadores há que procuram contar e
explicar tudo sobre cada tema e sobre todos os temas. Mas como estas atitudes
são cada vez em menor número, este circuito produtor/consumidor é cada vez mais
marginal, talvez condenado à extinção.
Está em nós (produtores)
e em nós (consumidores), não permitir que esta estupidificação no conhecimento
do mundo que nos rodeia grasse como uma epidemia fatal!
By me
sábado, 23 de fevereiro de 2019
Tiranias
Um destes dias
apresentar-me-ei no Parlamento, pedirei respeitosamente a palavra e, quando me
a derem, lerei a minha proposta de revisão do código civil, penal, comercial,
fiscal,…
Tratar-se-á de uma obra
volumosa, de muitas páginas, tendo escrito na última a palavra “continua” e
coisa nenhuma em todas as outras.
O bicho-homem, na sua
busca de uma sociedade perfeita, justa e livre, acaba por fazer exactamente o
oposto: usa uma teia incrincada de leis, regras códigos, normas, imposições e
proibições que, ao invés de o libertarem, apenas o mantém limitado.
Na expressão plástica
acontece o mesmo. Os autores vêem-se confrontados com os limites dos suportes.
Definidos em formas padronizadas pela indústria e com regras concebidas em
tempos de antanho e consideradas inabaláveis.
No caso da fotografia
ainda se vai mais longe, levando o acto de distribuir as formas dentro do
suporte com o nome de “enquadramento”. Colocar dentro de um quadro ou quadrado,
com limites bem visíveis.
As indústrias de câmaras,
papeis, molduras, imprensas, jornais, TVs, cinema, web, revistas… seguem pela
mesma linha.
Um quarto ou meia placa,
dois por três, três por quatro, widescreen, cinemascope, meia página, mancha
inteira, duas colunas…
Estou em crer que o
artista plástico mais livre da história do Homem, terá sido o nosso
ante-ante-antepassado. Com as suas pinturas e gravuras rupestres e a ausência
de limites ou imposições.
Talvez que o seu
descendente actual seja o pintor de graffitis, mas mesmo assim é discutível.
Mas certamente não serão
os fotógrafos que, nas artes plásticas, se comportam com mais liberdade ou a
assumem, atados que estão a regras e limites.
P.S.: Não sei se sou
fotógrafo, se não sou fotógrafo ou se sou uma coisa ambivalente, vivendo dentro
das minhas próprias contradições!
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
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Executamos sinfonias, executamos orçamentos, executamos penhoras, executamos projectos…
Porque é que não executamos uns tipos?????
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Porque é que não executamos uns tipos?????
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019
Fotogenias
Convenhamos que o conceito de beleza muda com os tempos. E
nem sequer necessitam de ser particularmente longos.
Se olharmos para os retratos feitos com fotografia ao longo
do último século e meio, veremos que a beleza humana (ou aquilo que como tal é
considerado) tem variado. No masculino e no feminino. Na interpretação feminina
e masculina.
O mesmo se aplica, no mesmo período, ao conceito de “fotogenia”.
Dizer que uma pessoa é fotogénica significa, regra geral, que “fica bem” nas
fotografias. E, por ficar bem entende-se que fica bonita a pessoa.
Mas se “beleza” é coisa variável, então “fotogenia” também o
é.
No entanto…
No entanto encontramos fotografias de pessoas que não respeitam
os conceitos de beleza em vigor mas que “ficam bem” nas fotografias. Pessoas
que não têm as proporções da moda, pessoas cujo tempo moldou feições, pessoas
com “deficiências”… E ficam bem na fotografia!
O que é, então, fotogenia?
Tenho para mim que fotogenia será um conjunto de condições
que resultam em retratos agradáveis de ver. E que não se ficam em exclusivo
pelo visual da pessoa retratada.
Começa, naturalmente, pela forma como o seu aspecto corporal
se enquadra nas modas vigentes.
Passa, em seguida, pelo que cerca: roupagens, cenário,
arranjo da pelagem… tudo aquilo que vai mais além das proporções da carne,
ossos e pele.
Continua por aquilo que é mostrado da pessoa retratada. Os eixos
de captação, os volumes evidenciados ou escondidos pela luz, quanto e onde se
manifestam os brilhos da pele, do pelo, dos olhos.
Manifesta-se, também, por aquilo que provoca no espectador.
Memórias, padrões, afinidades. E pela forma como o seu semblante exprime algum
estado interior: alegria, rigidez, tristeza, euforia, sensualidade… Por outras palavras, como
“fala” com quem vê a imagem.
E, mais subjectivo, na empatia existente entre fotógrafo e
fotografado. O primeiro tem que, de algum modo, tornar a parafernália técnica invisível
para que o fotografado não se sinta intimidado ou agredido por ela. A força das
luzes, a agressividade da objectiva, o estar escondido atrás da câmara, são
elementos prejudiciais a uma ligação positiva entre ambos. Que raramente
resultam em fotografias mais “faladoras” que uma fotografia de passe ou foto-reportagem.
Por fim, igualmente importante e subjectivo, aquilo que o
fotógrafo vê ou sente perante o fotografado e a sua “mestria” na transposição
disso mesmo para o suporte lúmico. Se quem usa a ferramenta fotográfica estiver
neutro em relação ao que fotografa, pessoas ou não, sem possuir algum tipo de
sentimento, mesmo que negativo, o mais que consegue é obter cópias
bidimensionais rígidas daquilo que tem três dimensões e vida. Será quase
impossível gostar de fotografias assim feitas. Ou gosta-se tanto quanto o que
se gosta da que consta num documento de identificação.
A fotogenia é assim, do meu ponto de vista, um conjunto de
circunstâncias positivas para o resultado final. Por parte do fotografado, por
parte do fotógrafo e por parte de quem vê o resultado final.
Os meus cinco cêntimos.
By me
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019
terça-feira, 19 de fevereiro de 2019
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Não pretendo fazer arte.
Quero, antes sim, fazer o registo lúmico, adornado com palavras, do que sou e do que me cerca.
Quanto a carimbos, quem os usa que escolha um.
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Quero, antes sim, fazer o registo lúmico, adornado com palavras, do que sou e do que me cerca.
Quanto a carimbos, quem os usa que escolha um.
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019
Uma história com fim (talvez)
Entre quinze a vinte minutos. Foi quanto esteve aquele comboio da linha de Sintra parado naquela estação.
Por mim, que vinha entretido a “pensar na morte da bezerra”, a coisa até que não me incomodou muito. Nos primeiros cinco minutos, reconheço. Depois, não apenas a vontade fumar um cigarrito como a curiosidade levaram-me a sair de onde estava e vir cuscar cá fora. Um montão de gente no fim do cais, olhando o negrume da noite disseram-me onde acontecia o extraordinário. E fui.
Nada vi, que nem mesmo os faróis do comboio o alumiavam. Pelo menos nada vi do que ali tinha estado, que ainda me apercebi do revisor da CP à conversa, primeiro acendendo um cigarrito da paz, com alguém que estaria sentado na beira da linha.
P’las conversas que ouvi, aqui e ali, teria sido alguém com intentos suicidas, avistada antes do retomar da marcha da composição. E abandonava eu a pequena multidão ali junta e um rapaz exclamou:
“Eh pah! Dinheiro não é problema e não merece isso!”
Com uma palmadinha amigável (ou paternalista, como queiram) sempre o esclareci:
“Nem sempre é dinheiro. Nem sempre!”
“Então é mulher? Eh pah, corta essa!”
É! Para todos a vida resume-se a dinheiro e sexo, o que talvez não esteja completamente errado. Eu próprio costumo dizer que a vida é uma moeda que gira apoiada na ponta de um pénis.
No entanto… aquilo que pode levar alguém ao acto final não tem que passar por isso!
Por vezes é mesmo o equilíbrio entre aquilo que somos e aquilo que somos obrigados a ser que se rompe. E o instinto de sobrevivência psíquica sobrepõe-se ao físico.
Eu e ela (a morte) temos andado de braço dado há mais de cinquenta anos. Já nos fixámos, olhos nos olhos, em várias ocasiões. E ainda está por decidir quem, de nós os dois, irá bater na porta do outro primeiro.
Talvez que seja por causa dessa cumplicidade que tenho decidido que nunca impedirei ninguém de o fazer. O mais que poderei intervir é tentar abrir os horizontes de quem esteja nesse limiar. Mostrar-lhe outras vias ou caminhos. Mas a escolha será sempre, sempre, do próprio.
Em última análise, o suicídio é o derradeiro gesto de liberdade e independência que o ser humano pode ter.
Se o caminho-de-ferro interrompido em hora de ponta vespertina é um incómodo para uns milhares de passageiros de regresso a casa, pesando todos esses problemas com os de quem se coloca na linha, não sei para que lado tomba a balança!
(Nota extra: quem quer que lá estivesse desistiu de o fazer e retirou-se na companhia de uns bombeiros voluntários que, também eles, regressavam a casa no comboio.)
Texto e imagem: by me
domingo, 17 de fevereiro de 2019
Inevitabilidades
O futuro traçado
pelas estrelas, a vontade dos deuses, as profecias, os livros do destino, as
inevitabilidades…
Tudo isto são
expressões ou subterfúgios encontrados pelo Homem para justificar aquilo que não
pode ou não quer explicar ou alterar.
E têm sido estas
expressões que têm alimentado e mantido as ditaduras, as oligarquias, as
repressões. Os submissos vão encolhendo os ombros, aparentando indiferença e
classificando aquilo que os incomoda e oprime como inevitável ou imutável.
Porque inverter
tendências, alterar rumos e enfrentar os “Eles” todo-poderosos dá trabalho, é arriscado
e socialmente reprovável.
Usar da espada ou
da pena para agitar o fundo do lago, quebrar a paz podre ou gritar que o rei
vai nu, é pedir o apodo de louco varrido ou de perigoso revolucionário,
correndo-se o risco de se ser enfiado num quarto almofadado ou numa masmorra
escura ou, nalguns casos, atado na fogueira ou no poste.
Mas o pior de tudo
é ouvir os brados dos conformistas sobre a inevitabilidade dos factos e a inutilidade
dos protestos. Que não sei se gritam contra quem protesta se para abafarem o
remorso de ficarem calados!
By me
Estados de alma
Há seis anos fui alvo de
uma agressão de que resultou uma mão partida. Episódios!
A coisa aconteceu por
volta da hora do almoço.
Depois de tratado no
hospital, em em chegando a casa ao fim da tarde, publiquei isto.
A vida conduz-nos a
diversas situações. Como as ultrapassamos e a elas sobrevivemos depende de como
as encaramos.
“Isto é uma fotografia.
Melhor dizendo, isto é a
grafia feita por algo com comprimentos de onda muito inferiores ao da luz.
Por outras palavras, isto
é uma radiografia.
Faz o registo daquilo que
não vemos porque, por exemplo, coberto de carne. Humana, neste caso.
Em boa verdade, é
daquelas grafias, ou imagens, que estamos sempre desejando nunca ver ou, melhor
ainda, nunca sermos o objecto registado.
Trata-se, para ser
rigoroso, da minha mão esquerda, com um belo de um ossinho fracturado, e antes
ainda de ter sido engessada.
Há sempre uma primeira
vez para tudo na vida, hoje, tocou-me esta.
Isto e mais a história,
realmente mirabolante, que contarei assim que me habituar (e terei bastante
tempo para isso) a usar somente a mão direita no teclado.
Bem como somente a mão
direita para um montão de outras coisas.
Me by the doctor”
By me
sábado, 16 de fevereiro de 2019
Contestem-me!
Foi o que eu sempre tentei levar os meus alunos a fazerem.
Não com dogmas ou frases feitas. Racional e propositadamente, encontrem falhas no que eu digo ou mostro e demonstrem que eu estou errado.
Este incentivo, explícito ou implícito, tem duas grandes, enormes, vantagens no processo de aprendizagem: satisfaz a natural vontade de contestação e, se tomado a sério, leva o estudante a entender o que lhe é dito. Não a acreditar, mas a entender e a aprender.
Que acreditar é um acto de fé; Entender é um acto de inteligência.
E eu não sou padre.
By me
Coerências
"Levar a sério o que diz um político reduz o esperma, pode causar a infertilidade e, em havendo coerência legislativa, a lei do tabaco deveria aplicar-se às declarações políticas, que só poderiam ser proferidas ao ar livre ou em sítios com a adequada extracção de ar e de credulidade."
Manuel António Pina
Batata frita fotográfica
Por mim, podem chamar-lhe
batata frita, rabicha do arado ou australopitecus. Que o que é importante é que
nos entendamos e o resto é conversa fiada. No entanto…
No entanto custa-me ouvir
e ler a palavra “lente” referindo-se a “objectiva”.
Que lentes tenho eu nos
meus óculos, uma de cada lado. Por acaso até tenho lentes nos olhos, que são de
geometria variável e dão-lhe o nome de cristalino. Tal como a minha lupa é uma
lente.
Mas ela só é uma lente
até ao ponto em que a coloco num tubo e ponho tudo à frente de um sensor de
imagem, eléctrico ou físico.
A partir daí passa a
chamar-se objectiva, com ou sem posição variável para efeitos de foco, com ou
sem luminosidade controlada para efeitos de exposição.
Mas um sistema óptico,
colocado num sistema de registo de luz, cuja função seja alterar a trajectória
dos raios luminosos, para criar uma imagem real e invertida, composta que seja
por um ou vários elementos, com posicionamentos relativos fixos ou variáveis só
é, na minha língua, uma objectiva. É isso que ela é!
Agora se lhe chamam “corrente d’ar”, “campainha de porta” ou “acelerador
de partículas”, basta que todos o saibam para que todos se entendam.
Resta esclarecer que se
lhe chamarem “acelerador de partículas” deverão dizer, como complemento, “de
sinal negativo”. É que a luz refracta-se e é desviada na sua trajectória porque
diminui de velocidade ao passar de um meio menos denso para outro mais denso. E
o inverso também é verdade.
E sendo que estas
alterações de velocidade não são iguais para todos os comprimentos de onda
(cores) as lentes (porque são compostas de um só elemento e sem tratamento de
superfície) têm “aberrações cromáticas”. Por seu turno, as objectivas, porque
possuem elementos de densidades variadas, curvaturas diferentes e tratamentos
de superfície específicos, têm essas aberrações reduzidas ao mínimo, de acordo
com a qualidade dos materiais e que se reflectem no respectivo preço final.
Quem se daria ao trabalho
de fotografar usando apenas uma lente e sabendo que a qualidade resultante é
bem inferior à de uma objectiva? Eu faço-o, mas a título de experiência e com
os resultados controlados.
Mas eu não sou
referência, já que photographo com objectivas e com lentes, mas conhecendo-lhes
as diferenças. E nunca tentei com batata frita, mas há sempre uma primeira vez
para tudo.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019
Fotografia e emoção
Quando se escolhe usar uma determinada condição de luz para fazer uma fotografia, não será apenas porque nos apetece.
O maior ou menor contraste no assunto principal, o maior ou menor contraste no segundo plano, a orientação das sombras e quando delas vemos…
Tudo isto não apenas define locais e estados emotivos como leva a colocar o espectador em determinada posição de reacção ao que vê.
Tal como o uso da perspectiva.
Quem use uma câmara fotográfica e não considere isto (com estas ou quaisquer outras palavras) não faz fotografia!
Limita-se a fotocopiar o que o cerca, com tanta emoção quanto a contida numa lista telefónica!
By me
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019
O botão
Tão certinho, tão redondo, tão equilibrado que até chateia.
Os objectos e as pessoas perfeitas são uma sensaboria!
By me
terça-feira, 12 de fevereiro de 2019
Palavras
É verdade que sim: eu sei ainda boa parte do código morse.
E é verdade que sim: enviei e recebi alguns telegramas, usando ou não este sistema de comunicação.
O enviar de telegramas era caro e poupava-se nas palavras para se passar o máximo de informação com o mínimo de custo.
Hoje não regateamos o custo das palavras. Por isso, mas não só, não as poupo.
Que me dá tanto gozo usá-las quanto a luz e a perspectiva.
E para quem não gostar de muitas palavras, recomendo que se afaste de bibliotecas e livrarias. Há por lá imensas.
By me
domingo, 10 de fevereiro de 2019
Títulos
Leio um artigo engraçado.
Aparentemente existe um diferendo entre uns serviços municipais e a ordem dos engenheiros, já que esta detectou existirem naquela pessoas que usam o título de “engenheiro” sem estarem inscritas na ordem.
Acrescenta ainda que se trata de uma “usurpação de funções”.
Por seu lado, a entidade municipal afirma que “não tem autoridade para desfazer usos sociais respeitosos”.
Pergunto-me, no meio desta discussão quase fútil, se é mais importante a posse de um título se a competência para desempenhar as funções. Tal como me pergunto sobre o tamanho do ego de quem assim se faz tratar.
E pergunto também se tratar alguém por um título académico ou funcional, como Dr., Eng., Arq., Ministro, Director, Meritíssimo, demonstra mais respeito pelo assim intitulado que pelos clássicos e igualitários Sr. e Srª.?
Como se ter um título académico tornasse alguém mais importante…
E recordo uma pequena história, já com uns anitos valentes:
Encontrava-me com os alunos a montar equipamento técnico num local que não a escola para a realização de um evento académico importante. O meu papel era, para além de ter feito a definição técnica das necessidades, o supervisionar o que ia sendo feito por eles, intervindo onde e se necessário, corrigindo algum erro ou acrescentando conhecimentos onde faltassem.
Tudo corria pelo melhor quando uma senhora que para além do cargo honorífico que ocupava tinha, ao que sei, um doutoramento no currículo, me veio confrontar com um eventual comportamento menos correcto por parte da “maralha”.
Discordei de tal opinião e defendi quem lá estava. Com o vigor de saber que eram os “meus” e que neles não se toca impunemente.
O interessante foi a conversa ter divergido, a dada altura, dos comportamentos para os títulos. Insistia ela em me tratar por Dr., e insistia eu que não o era, já que não tinha sequer frequência universitária, quanto mais um doutoramento.
Este esgrimir de posições travestido de conversa polida e educada (recordo ter sido das poucas ocasiões na vida em que usei fato e gravata) durou uns minutos. Poucos.
Claro que venci o “embate”. Não sei se por ela ter percebido da injustiça das acusações e da minha posição firme a esse respeito se por ter entendido que o mero facto de possuir um título académico e uma posição honorífica não era suficiente para ter razão. E lá se afastou com o cabelo armado e pintado que ela usava para lhe acrescentar uns centímetros extra que não possuía.
Tenho para mim que somos iguais por toda a eternidade que foi e será. O que nos diferencia neste interregno a que chamados de ”vida” são actos e pensamentos.
Que títulos e diplomas se compram, a peso, na universidade da esquina.
By me
Prazeres
Talvez que me esteja a repetir. Melhor: sei que me estou a repetir.
Mas desculpem lá isso.
É que estar ainda com os atavios de falar com Morfeu, numa manhã fria, com uma chávena de café acabadinho de fazer nas mãos, ao sol que me entra p’la janela…
É uma daquelas satisfações que faço questão de saborear.
No entanto, tenho uma confissão a fazer: esta é a segunda chávena. A primeira foi um prazer egoísta e privado.
By me
sábado, 9 de fevereiro de 2019
Sensações
Por um qualquer motivo que se me escapa, tenho a sensação
que se fabricam por dia mais balas e outras munições que papo-secos e outros
tipos de pão.
E mais metros de arame farpado, também.
By me
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
Patranhas
Estávamos no ano de ‘98. Decorriam os saudosos Encontros de Fotografia de Coimbra, espalhando fotografia e fotógrafos por toda a cidade. Um dos espaços usados era o emblemático “Edifício Chiado”, bem no centro da cidade.
Esta história passou-se nele, já depois do seu restauro.
A exposição era sobre um cosmonauta soviético e a fundação Sputnik.
Nas paredes e nas vitrines, no centro da sala, abundavam fotografias do herói, fardado ou à civil, quando pequeno ou junto aos seus camaradas de armas e de curso.
Constavam também recortes de jornal, livros de estudo, cadernos de apontamentos e cartazes alusivos à sua viagem. Entremeados com estes documentos, elementos da sua farda e divisas, óculos, carteira e outros objectos pessoais e, se a memória me não falha, pedaços do seu fato espacial e do simulador onde terá treinado.
Tudo isto era acompanhado de legendas em inglês, que identificavam cada uma das peças, recortes e fotografias, que nos seria difícil de entender a língua russa em que estavam escritos.
No final da exposição, um cartaz com letra miúda, onde nos era passado um atestado de… ingenuidade!
Todo aquele estendal de livros, fotos, recortes e objectos diversos mais não era que um fenomenal embuste.
A pessoa ali retratada nunca tinha sido cosmonauta, nem sequer militar ou mesmo russo e todos os documentos, fotografias e objectos eram falsos.
O público, ao ler esta explicação, ria, sorria ou franzia o cenho, incomodado com a sua própria credulidade e por ter sido enganado.
Mas não o tinha sido!
Foram os próprios que atribuíram um valor real ao que estavam a ver, que acreditaram nas legendas numa língua estranha, já que não entendiam o original e que quiseram, no seu íntimo, que tudo aquilo fosse “verdade”.
Perguntava-me, um destes dias, um estudante de comunicação se eu admitia a manipulação da imagem, fotográfica ou não.
Claro que admito, aceito e recomendo.
O problema, a existir, nunca está na imagem por si só mas antes na leitura que dela fazem autor e público!
Se ambos dizem ser verdade aquilo que está exibido, e se essa afirmação não é posta em causa, então a patranha passa a verdade, eventualmente desmontável mais tarde, e com todas as suas consequências.
Mas se não for assumido por parte do autor um carácter de veracidade, se não lhe for dado o carácter de “documento”, então tem tanta validade quanto as esculturas que se fizeram ou fazem de Moisés que, tanto quanto sei, nunca foi retratado em vida.
By me
Cidadania
Diz-se por sistema neste país que “Eles” têm que fazer algo! As instituições, o governo, os sindicatos, a policia, os tribunais, os patrões, a sociedade civil...
No entanto tudo isso somos todos nós. Está no nosso direito esperar que o resultado dos nossos impostos sirva para resolver todo o tipo de situações. Mas quem toma as decisões são cidadãos vulgares, com o mesmo tipo de vivência como quaisquer outros. São elementos do chamado “povo português”, votam e pagam impostos como quaisquer outros (espero eu). E se alguns dos portugueses fazem pasteis de nata ou vendem artigos de vestuário, outros trabalham em instituições. As tais dos “Eles”.
A solidariedade, bem como a intervenção cívica, são deveres de todos os cidadãos, seja qual for a sua ocupação. Ao ver alguém com fome ou ao assistir a uma violação, não posso esperar que “Eles”, os das instituições, estejam em horário de funcionamento para o solucionar.
Somos nós, cidadãos, que devemos intervir a cada momento no decorrer da vida, no que ela tem de bom e de mau. Devemos esperar que as instituições funcionem, devemos esforçarmo-nos para que o façam cada vez melhor, mas não devemos esperar que elas actuem como uma intervenção divina. Nós somos as instituições! Eles somos nós! E se nós não actuarmos, como podemos esperar que elas actuem?
By me
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
Saberes
Um dos “truques” surgidos com a fotografia digital é, mais que saber o que ou quando fotografar, decidir o que ou quando não fotografar.
Que a facilidade e o baixo custo da obturação digital, junto com o terrivelmente fácil destruir de imagens, leva a que muitas fotografias sejam feitas quase que sem pensar no resultado final.
Saber fazer e quando fazer é importante. Saber quando não fazer, é igualmente importante!
By me
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
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Num
artigo de jornal conta-se que no primeiro congresso do partido Aliança não
haverá oportunidade de apresentar e discutir outras moções de estratégia que
não a apresentada pelo seu presidente.
O
argumento, por aquilo que li, é falta de tempo.
Numa organização fundada e liderada por Pedro Santana Lopes isto
não me espanta.
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Quis custodiet ipsos custodes
Sobre um caso recente e mediático:
O Conselho Superior da Magistratura aplicou a pena mínima a
um juiz que julgou um caso de violência doméstica. Na sentença então proferida,
foi dito (mais ou menos) que a mulher agredida era responsável por o ter sido
ao ser adúltera e, com isso, atentado seriamente contra a honra do marido. Mais
disse que antigamente as mulheres adúlteras eram apedrejadas até à morte. E
mais umas minudências.
Esta sentença polémica e a respectiva sanção aplicada pelos juízes
ao juiz que a proferiu recorda-me uma situação antiga de muitos anos e que
refiro de cor:
Algures no norte, suponho que em Vila Real, um homem foi
condenado a uns meses de prisão por violação de uma criança. Na mesma época, um
industrial do centro do país foi condenado a anos de cadeia por fuga ao fisco.
É certo que as sentenças foram decididas por juízes diferentes,
em locais diferentes. Mas basearam-se, estou certo, nas mesmas leis e códigos.
E as leis são escritas por pessoas e aplicadas por pessoas, sempre passíveis de
errarem.
As leis deveriam ser revistas com mais frequência, sempre na
tentativa de reflectirem as sensibilidades da cultura em que se inserem e
procurando sempre reduzir o papel interpretativo e pessoal de quem julga.
E quem julga deveria ser frequentemente avaliado na sua
actuação profissional para evitar a existência de critérios pessoais e
discrepâncias na aplicação da lei.
Pela parte que me toca, espero nunca vir a ser julgado, seja
em que situação for, por alguém que minimiza a agressão do marido à mulher porque
ela teve relações extra conjugais. Nem pelos juízes que entendem que tal
sentença é coisa menor.
By me
terça-feira, 5 de fevereiro de 2019
Porquê?
Nem sempre o tempo ou a
inspiração do momento é suficiente para explanarmos tudo o que queremos ou como
queremos.
Mas porque mo
perguntaram, aqui fica o resumo de um sumário minimalista de tópicos das razões
de fotografarmos.
Entenda-se que cada um
dos temas abordados daria para muitos livros de grossa lombada: alguns que já
li, outros que ainda não li e outros que eu mesmo ainda não acabei de escrever.
O fazer de fotografia
pode ter vários motivos, uns mais bonitos que outros.
Em primeiro lugar, e para
alguns, é um modo de vida, de garantir o pão de cada dia.
Mas pode querer apenas
criar algo que não existe: um jogo de luz, cor e formas que, de algum modo,
satisfaça a necessidade criativa de quem fotografa.
Pode ser apenas uma moda.
Há anos, quando comecei, a fotografia era particularmente cara, o suficiente
para ser chamada de “hobby”: algo que se faz por gosto mas que esgota os
recursos materiais e intelectuais. Agora, qualquer um a pode fazer, que o
equipamento de captura e processamento está ao alcance de qualquer um (ou
quase). “E se um fotógrafo de renome pode fazer, porque não eu, que basta
apontar e disparar?”, será o que muitos pensam ou sentem.
Pode ainda ser uma
necessidade de comunicar, que outras formas não satisfaçam. Mostrar o que de
belo ou de horrendo vemos é comunicar sentimentos.
Pode ainda ser um acto de
exibicionismo, que ao mostrar o que fizemos podemos estar a dizer “vejam como
penso e sinto isto!” E, com isto, afirmar a nossa forma de pensar.
Por outro lado ainda, a
febre das tecnologias de comunicação fazem com que a imagem faça parte do nosso
quotidiano. E comunicar sem se usar imagens é ser-se “out” nas modas modernas.
Boas ou más, há que fazer fotografia, de preferência com câmaras ou caras ou
vistosas. Será, no entanto, fácil de ver que os bons fotógrafos raramente se
exibem falando do que têm mas tão só do que fazem.
Há também um outro motivo
possível: cobiça! Não podemos possuir tudo o que gostamos: o pôr-do-sol, o
carro, a pessoa. Vai daí, fotografa-se e fica-se com o seu ícone. Não será bem
o mesmo, mas é o mais próximo possível.
Ainda se pode acrescentar
outra razão: a vida actual é vivida em frenesim, rapidamente e esquecendo com
facilidade os momentos que vamos vivendo. A fotografia permite, mesmo que
inconscientemente, abrandar o tempo e “guardar para mais tarde recordar”. Claro
que, com os Gb dos cartões, câmaras e sistemas de arquivo, não se recorda coisa
nenhuma, que tantas se fazem que cada uma deixa de ter importância.
Por fim (ou talvez não)
faz-se fotografia porque sim. Pelo mesmo motivo pelo qual se trauteia uma
musiquinha, ou se fica parado a olhar uma borboleta no verão, ou porque se dá
um beijo: porque nos apetece, nos dá prazer, nos satisfaz naquele pedaço de nós
que não tem razão ou, como diria o poeta, “tem razões que a razão desconhece.”
Criar, para alguns, é uma
necessidade afectiva; para outros, uma necessidade cultural; para outros ainda,
uma necessidade social; e para outros, uma necessidade intelectual. O que
diferencia uns de outros é que alguns fazem-no para serem mais que outros.
Outros para serem mais que si mesmos.
Em qualquer dos casos, o
mais importante será, creio eu, que encontremos satisfação no que fazemos.
Porque o fazemos e não porque outros o fazem.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
Ser fotógrafo
É uma daquelas coisas curiosas: não conheço uma só biografia de fotógrafo que diga que tenha sido má pessoa. Nem conheço um fotógrafo que seja má pessoa.
Não significa isto que não tenham existido ou existam. Apenas que eu não conheço.
Passa isto, penso, por a fotografia implicar uma relação positiva e de partilha com o mundo circundante, sendo um sério entrave à prática da maldade ou do egoísmo.
Esta é uma opinião. Passível de ser contestada, naturalmente, mas é a que tenho.
Ciente disto, durante os anos em que trabalhei com jovens para que aprendessem os rudimentos da fotografia ou vídeo, e um pouco mais que isso, sempre tentei transmitir-lhes essa noção da partilha ou intimidade com o mundo e o assunto registado. E ainda hoje o tento, sabendo que quanto maior for, mais satisfação ou sucesso se tem no registo da imagem. Para o próprio e para com os clientes.
Nem sempre o consegui. Naturalmente que nem todos os jovens que tentavam essa via profissional estavam particularmente vocacionados para isso e, apesar de nunca ter reprovado nenhum, alguns ficavam-se pelos limites mínimos dos objectivos propostos.
Passados que são alguns valentes anos, vou encontrando alguns deles. Na vida real, nas redes sociais, por interpostas pessoas, por mero acaso ou profissionalmente. E vou sabendo o que fazem e no que se tornaram. O que pensam, as opiniões que emitem, as atitudes que tomam…
E apenas vou reforçando a minha opinião, confrontando o rendimento escolar de então com o que são hoje.
Os que hoje, adultos que são, têm atitudes pedantes, opiniões de desprezo para com os outros, sectários sociais, alguns a roçar o racismo ou xenofobia, são exactamente aqueles que, enquanto estudantes, nunca demonstraram grandes qualidades no campo da fotografia ou vídeo. E o contrário é igualmente verdade. Pouco importando o rumo profissional que seguiram, uns no ramo, outros fora dele, que a vida é isso mesmo.
Não é necessário praticar-se a fotografia para se ser boa pessoa. Mas é imperioso ser-se bom e generoso para com o mundo para se ser Fotógrafo com F maiúsculo.
By me
domingo, 3 de fevereiro de 2019
Fedon
A morte é um dos três
momentos importantes de um individuo. Os outros dois são o nascimento e o
casamento.
E se estes são motivos de
alegria, para o próprio e/ou para os familiares, já a morte é, regra geral, um
momento difícil e de tristeza. Porque resultou de sofrimento e porque os
sobreviventes sentem a sua falta.
Estes três momentos são
vividos em conjunto, cerimonialmente. Para além dos sentimentos dos
directamente envolvidos, a sociedade assim o organiza e há, quanto a mim e não
só, motivos para tal. Motivos materiais que remontam a muito longe:
A apresentação da criança
(recém-nascido ou já infante) para mostrar ao mundo quem herda. Terrenos,
rebanhos, negócios; A declaração de união ou casamento para mostrar ao mundo que
os bens de ambos se juntaram. Terrenos, rebanhos, negócios; A cerimónia fúnebre
para que o mundo saiba que os seus bens pertencem aos herdeiros.
Por muito cínico que isto
pareça, estas são as razões para se fazerem desses três momentos reuniões de
parentes e amigos, de juntar um razoável número de pessoas em torno de eventos
que são muito pessoais, alguns de alegria, outros de tristeza.
Claro que a religião – o
conceito do divino e os medos do inexplicável – vieram ocupar um lugar de
destaque nestes momentos, reclamando para si – para a organização – o papel de
regulador das cerimónias, de testemunha dos eventos e sancionador das
consequências. Quer se trate de um ente incorpóreo, com várias cabeças ou
braços ou à imagem e semelhança da zoologia.
É de acordo com a
teologia que as cerimónias decorrem. Introduzindo o recém-chegado na comunidade
e atribuindo-lhe uma identidade, vinculando os noivos a um compromisso e
desejando uma vida para além da morte tranquila e feliz. E depende das
tradições religiosas e dos conceitos o tipo de celebração.
A imagem, tanto a pintura
quanto a fotografia, não se exclui destas celebrações. Fazem-se os registos dos
baptismos e casamentos, sendo quase que uma obrigação haver este registo
pictórico. Como se a imagem fosse o testemunho indiscutível. E negócio rentável
e apetecido.
Já no funeral as coisas
são diferentes.
Não queremos, em regra,
registar os momentos tristes. Como disse alguém “Quando ris, o mundo ri
contigo, quando choras, choras sozinho”.
E apesar de na maioria das
confissões religiosas a morte ser uma passagem para algo melhor, não ficamos
com esse registo porque nós próprios, que ficaríamos nas fotografias, não
estamos felizes ou sorridentes. E ninguém quer retratos ou registos da
infelicidade.
Sugiro que procurem nos
vossos arquivos, nos vossos livros e nas vossas memórias imagens de funerais ou
velórios. Que não as feitas para os media ou as dos filmes. Talvez não
encontrem nenhuma.
Por isso mesmo, fiquei
particularmente surpreendido quando, um destes dias, vi uma fotografia de uma
cerimónia fúnebre. No caso, o último adeus perante o corpo, antes de fechada a
urna. Uma fotografia privada, que não para jornais, incluindo um vislumbre do
defunto, o cônjuge e os amigos próximos. Uma fotografia que foi feita não sei por
quem mas divulgada pelo cônjuge.
Não será algo comum. Eu
diria que será algo de raro, muito raro. Mas… Mas é aqui que a coisa se
complica.
A raridade da imagem
prende-se com a cultura em que o acontecimento se desenrola. Com a tristeza
individual e colectiva e a perspectiva do que sucede depois da morte.
Para os chamados
“ocidentais” tal imagem poderá ser chocante. Quase que indigna por violar uma
privacidade absoluta de um momento muito difícil. Para outras culturas, para
outras fés, para outros pensamentos, pese embora a dor da ausência, será uma
despedida tão suave quanto o possível, um “até já” quase certo.
Não creio que volte a ver
tal tipo de imagem. Eu (nós), que vivemos no mundo ocidental, de cariz cristão.
Pelo menos uma imagem feita pelos próximos do defunto.
A fotografia, mais que o
registo de uma sociedade, nos seus usos e costumes, é ela mesma parte
sociedade, integrando os usos e costumes.
Podemos – nós os
fotógrafos – colocarmo-nos à margem, como voyeurs que somos, alienarmo-nos do
nosso do nosso papel de parte integrante da sociedade. Mas não o conseguimos.
Enquanto a fotografia for
feita por humanos – e ainda bem que o é – serão sempre as emoções e as culturas
dos fotógrafos que nela estarão espelhadas, com tanto ou mais impacto que aquilo
que elas registam explicitamente.
Nota adicional: Não me
sinto nem autorizado nem com coragem de aqui mostrar a fotografia que gerou
todo este perorar.
Fica apenas um grafismo e
os meus sentimentos para com quem a publicou.
By me
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