quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Com F ou com Ph




Primeiro
A coisa começou há muitos anos! Éramos – e eu os compinchas de várias andanças, incluindo a procura de perguntas e respostas – razoavelmente novos.
O caminho que então percorríamos juntos passava também pela fotografia. Partilhávamos os equipamentos, as técnicas, as estéticas os conhecimentos e descobertas que íamos fazendo. E, não sendo nenhum de nós génios, procurávamos também os livros e revistas onde pudéssemos ir beber em mestres o suficiente para os nossos passos.
Estávamos na década, melhor, no decénio de 70, inícios do de 80 e por cá, Portugal, pouca leitura havia em português sobre a matéria. Livros apenas alguns mais antigos, ao estilo de almanaques, e revistas só aquelas efémeras, cuja qualidade e pouca procura faziam morrer pouco depois de nascer.
A solução era, inexoravelmente, recorrer ao que vinha de fora, do Reino Unido, dos EUA, de França. Cada uma destas origens, então como agora, tinha abordagens diferentes às técnicas e estéticas e às soluções. E o hábito de ler, apreciar e mesmo falar ia-se atendo às línguas que praticávamos fotograficamente.
Claro que também contava, face à juventude que tínhamos, o prazer de usar um código semi-hermético aos circundantes, aqueles que não bebiam onde nós nos alimentávamos: o prazer de fazer imagens.
E criou-se a brincadeira, petulante é certo, de dizer que por cá se fazia “Fotografia” e que lá por fora se praticava “Photographia”.
Com o passar dos tempos e as variações de rumos das vidas de cada um, tudo isto se transformou ou diluiu. A literatura e os periódicos em língua portuguesa foram aparecendo, algumas por nós mesmos produzidas, muitas vindas de além-mar. E deixamos de parte a necessidade juvenil da afirmação por códigos e mistérios.
Mas a sensação da diferença entre “fotografia” e “Photographia” ficou. Já não agarrada à tradicional maledicência sobre tudo o que é português, mas antes para marcar alguma diferença no tipo de imagens produzidas, onde quer que fosse. Diferença esta que não está nas técnicas, nas estéticas ou nas temáticas. Constata-se em cada uma delas e no seu conjunto mas não reside aí.
Está, antes sim, na forma de pensar e de fazer fotografia.

Segundo
A representação pictórica, ou iconográfica, existe desde antes da escrita, com esta tem co-existido e, pela certa, a ela sobreviverá. Porque os códigos alfabéticos, fonéticos, ideográficos ou binários mudam com as civilizações e tecnologias, o que não sucede com o uso das belas-artes. Poderão estas mudar de estilos ou de interpretações, mas perduram.
O comum do ser humano, gregário que é mas igualmente desejoso de marcar a diferença na sociedade em que se insere, procura igualar ou suplantar aqueles que admira e a quem atribui qualidades superiores. Entre outros, os que bem se expressam, seja qual for a arte em causa. E a pintura e representação gráfica é uma delas. Mas ela não é tão simples como parece, já que, além do domínio das técnicas, implica um certo “fogo interior” que na maioria está apagado. Para já não falar na morosidade do processo.
Ao invés, a fotografia é quase imediata, por comparação. E é-o tanto mais quanto as técnicas usadas evoluem. Técnicas estas que, com um domínio não muito aprofundado, permitem obter resultados satisfatórios, não apenas perante a sensibilidade de quem as produz como a aceitação de quem as vê. E os automatismos contemporâneos ainda reforçam este facilitismo no fazer da fotografia.
Se a isto juntarmos o consumismo desenfreado que vamos vivendo e a necessidade de afirmação social mais pela posse de bens que pelo resultado daquilo que se é e se pensa, temos que meio mundo possui e utiliza câmaras fotográficas. E que o outro meio anseia por o ter e fazer.
Mas esta fotografia é feita a correr, oriunda em impulsos de momento, quase que por obrigação. As questões estéticas são ignoradas, dos factores de comunicação nem se desconfia, e com a mesma velocidade com que dispara o obturador, também o seu resultado é esquecido. Tão ou mais grave que isso, a fotografia contemporânea padece da efemeridade, já que o seu apagar ou destruir resulta do uso de uma ou duas teclas na sequencia de sistemas de armazenamento cheios. A mesma ausência de pensar no acto fotográfico conduz a uma ausência de importância no seu resultado. Conservar ou não uma fotografia é uma questão de apetite momentâneo. E já não se usam pastas de arquivo cuidadosamente arrumadas, caixas de sapatos empilhadas ou gavetas repletas de papéis mono ou multi-coloridos que, volte e meia eram remexidos e supostamente organizados.
Some-se a esta pouca importância dada ao pensar a fotografia o seu actual custo zero. Fazer uma fotografia ou dez consecutivas tem o mesmo preço e dá o mesmo trabalho em obter. Que o “rolo” já não chega ao fim e as memórias dos cartões são cada vez maiores.
Nos tempos que correm, a velha frase publicitária “Para mais tarde recordar” deixou de fazer sentido, face ao uso e importância que é dada à fotografia.


Terceiro
Alguns há, no entanto, que assim não procedem.
Ao olharem pelo visor da câmara, ou ainda antes disso, o seu objectivo é o registo permanente daquele jogo de luz e sombras, daquela perspectiva, o contar daquela história, o eternizar daquele momento. E que, em tendo oportunidade para tal, procuram melhorar as suas capacidades de o fazerem, tanto pela prática como pelo estudo de quem o faz ou fez ainda melhor. Em que a afirmação pela fotografia não passa pela competição com os restantes com base no resultado ou na exibição da factura do seu equipamento mas antes consigo mesmo e com o resultado obtido a cada imagem produzida.
E que sabem que esse processo começa com o olhar o assunto e termina com olhar sobre o produto acabado, sendo que tudo o resto que medeia entre um e outro são meras técnicas, mais ou menos dominadas. Na tomada de vista e na selecção e tratamento posterior.
Que sabem e praticam que uma fotografia é o resultado de um processo mental materializado pela técnica. E que é mais naquele que se preocupam que nesta.
Ao resultado dos trabalhos destes, chamo eu (e mais uns quantos não tão poucos quanto isso) “Photographia”. Para o trabalho dos demais fica o termo genérico de “Fotografia”. Alguns há, ainda, que diferenciam com o uso de maiúsculas e minúsculas, mas o significado é o mesmo.
Nenhum dos dois termos tem mais valor que o outro ou algum deles tem uma carga negativa. Porque, na vida, o que importa é a obtenção da felicidade naquilo que fazemos e nenhum método é universal ou único.
Mas porque não são iguais nem nos processos de obtenção nem nos resultados materiais, identifiquem-se umas e outras imagens e fotografias.
Até porque entre imagens fotográficas e fotografias (com “F” ou com “Ph”) também há diferenças. Mas isso são outros contos!

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Regras



Há demasiadas teclas e botões a regular a nossa vida!

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Objectivos



A felicidade dos seus é o objectivo mais importante da sua vida.

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Photographia



Esta é uma fotografia do fazer de uma fotografia.
Será?

Se “fotografia” é “escrita da luz”, então aquela lupa, ao queimar aquela folha de papel, está a realizar uma fotografia.
Está a deixar a sua marca, indelével, naquela superfície. É o concentrar dos seus raios luminosos, e de toda a sua energia térmica, que efectua esse registo essa escrita.
E que faz um fotógrafo senão o conduzir a luz, controlada na sua energia lúmica e térmica, para uma superfície que reagirá a ela?


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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Tretas



Triste mesmo é ver como tantos se batem, ferozmente, por um estilo de vida baseado na religião ou no dinheiro, mas não vejo quem se bata do mesmo modo contra a fome.

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Há sempre um dia



Há sempre um dia em que tudo corre mal.
Hoje não é esse dia.

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domingo, 25 de fevereiro de 2018

Dinheiro



Leio algures que uma senhora perdeu a sua mala, contendo identificação, telemóvel e dinheiro (mil euros) e que alguém foi entregar tudo isso a sua casa.
Nisso que li é colocado em evidência o facto de quem achou e entregou ser agente da PSP.
Fico espantado!
O acto de devolver o que não é nosso, valioso ou não, é algo que deveria acontecer em permanência, fosse qual fosse a profissão. Um agente da PSP não tem que, obrigatoriamente, ser mais honesto que um analfabeto ou um doutorado.
De igual modo, fico espantado por este acto ser notícia. A honestidade deveria ser intrínseca do ser humano. É tão errado não devolver mil euros como dez ou como dez mil.

Fica a pergunta: Quantos dos que lêem estas linhas ficariam com uma carteira assim encontrada?

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sábado, 24 de fevereiro de 2018

A taça



Um dia ofertei esta taça a uma pessoa.

Tenho muito orgulho em ter essa pessoa por perto e que mereça a taça.

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No autocarro



Tenho por verdade – e até que alguém me convença do contrário – que o Fotógrafo é um ser conservador.
Quando não, vejamos:
O Fotógrafo só reage ao fora do normal. Bonito ou feio, agradável ou o seu oposto, aquilo que sai da rotina, o incomum, o surpreendente.
Poderá ser um retrato trabalhado em estúdio, uma paisagem, um momento festivo, um incidente público. Seja lá o que for, será sempre algo que lhe prendeu a atenção, que, por qualquer motivo, o fez pensar “isto é um bom motivo para fotografar”.
Mas raramente - muito raramente mesmo - vemos imagens neutras, de assuntos banais, aqueles assuntos, momentos ou acontecimentos que, de tão neuros que são, não nos apercebemos deles. Uma pedra no chão, no meio de muitas outras quase iguais, não será motivo de fotografar. A menos que a luz ou a forma ou a cor a evidencie das restantes. Ou que a sua simples existência faça recordar o Fotógrafo de um qualquer episódio passado. E, nesse mesmo momento, aquela pedra deixa de ser “mais uma no meio das outras” para passar a ter um significado especial, mesmo que não explícito na fotografia resultante.
Temos assim que o Fotógrafo só se apercebe – e reage – ao que quebra a rotina, o equilíbrio, a normalidade. Bom ou mau. Belo ou horrendo.
Por mim, tenho vindo a desenvolver um projecto pelo seu oposto.
Todos os dias, uma ou duas vezes, faço uma fotografia do que está à minha frente. Sem escolher o momento porque me atrai ou repele, mas tão só porque – e é uma decisão anterior – me lembrei de o fazer e a temática geral do projecto é “nos transportes, sentado e sem rostos”. Sempre com o telemóvel, com o que isso implica de “bloco de apontamentos, ausência de controlos de profundidade de campo, distâncias focais, exposição elaborada…
Claro que neste captar de imagens “pseudo-aleatórias” há escolhas que faço. Enquadramento respeitado o tema, o que vi quando me lembrei de fotografar e que nem sempre se mantém até que o registo seja feito, um ajeitar de perspectiva para dar coerência ao projecto…
São imagens sem pretensões artísticas ou interventivas. Ou talvez sejam.
Para mostrar – a mim e aos outros – como o Fotógrafo é conservador e só presta atenção ao que lhe “estraga” o seu sentido de equilíbrio universal a ponto que o querer registar. E, no entanto, o banal, o que respeita o “equilíbrio universal”, o entediante de tão habitual, pode ser belo e atractivo. Apenas não nos apercebemos disso, na nossa busca pela originalidade, pelo ser “mais que”, pela necessidade nos evidenciarmos junto dos nossos pares.

Escrevo estas linhas em casa, pelo que não posso fazer uma imagem que respeite o projecto. Mesmo que estivesse num transporte público, o simples facto de fazer uma fotografia depois de isto pensar e escrever estaria a subverter a ideia original. E não fará sentido ilustra-lo com uma fotografia já feita, escolhida com algum critério não aleatório.

A que agora exibo é tão só a última que fiz até à data, dentro deste projecto.

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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Graxa



Método usado para controlo de imagem pessoal e promoções comerciais.
Usado pelos ingénuos que acreditam que os destinatários o são.

O seu uso prolongado provoca alterações cromáticas na língua, curvaturas acentuadas nas costas e mau hálito.



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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Amor anarquista



Bom mesmo de se estar apaixonado é que se podem dizer e ouvir as maiores tolices ou totais disparates que gostamos sempre e somos sempre bem recebidos.

Abaixo o politicamente correcto, que o amor é anarquista.

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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Relógio



Aquilo que me deixa possesso com o toque do despertador é saber que fui eu que o programei!

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Kodaline



Sempre gostava de saber que os membros desta banda saberão que o seu nome é um nome registado. Da Kodak.
Se a memória me não falha, tal como as pesquisas que fiz um tanto a correr, trata-se de película rígida de grande formato para cópia de negativos, pancromática e surgida nos finais dos anos quarenta do séc. XX.
Tal como com o Kodalith, também cheguei a fazer umas experiências com o Kodaline nos meus inícios de laboratório, nos anos oitenta. Mas perdi o interesse por tais películas técnicas, ficando apenas fã do Thecnikal Pan, também da Kodak, devido à quase inexistência de grão. Pese embora a extrema baixa sensibilidade que tinha que ser usada para se obter os seus belos tons contínuos.


Mas estou em crer que, pela popularidade da banda e quantidade de fãs, ou o registo da marca perdeu o prazo de validade ou venderam o nome.

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Hulk



Para que não me acusem de favoritismo ou negligência, aqui fica um retrato do sexto membro do agregado familiar.
O mais pacato, o mais silencioso, o mais discreto.

E sim, tenho um agregado familiar diverso e não exactamente comum.

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Culinária



Numa rede social aparece um artigo patrocinado, convidando-me a comprar este objecto. Por 14,9$.
Dizem-me que é para bater em carne de frango ou de porco, antes de cozinhar.

Não sei o que me diriam se fosse encontrado com ele numa rusga policial.

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Encontrado no arquivo



Levar a sério o que diz um político reduz o esperma, pode causar a infertilidade e, em havendo coerência legislativa, a lei do tabaco deveria aplicar-se às declarações políticas, que só poderiam ser proferidas ao ar livre ou em sítios com a adequada extracção de ar e de credulidade.

Manuel António Pina, in “Jornal de Notícias”, 2008


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domingo, 18 de fevereiro de 2018

Maldades



O título do jornal leva-me, de novo, a algumas cogitações antigas.
Diz-nos ele que “Advogado do casal defende que pena de 25 anos não é suficiente para Pedro Dias”.
Posta a questão “É uma pena suficiente para um dado crime?”, convém que nos debrucemos sobre o significado e para que serve uma pena de prisão.
Desde logo, dirão os mais puristas (ou ingénuos) servirá como forma de “reeducação”. Assim castigado, e enquanto durar o castigo, terá o condenado oportunidade e tempo para pensar no crime ou delito cometido, interiorizar que ele é contra o normal funcionamento da sociedade e que não o deverá repetir.
Em seguida, os mais defensores de um mundo seguro dirão que não querem no seu seio um criminoso e que, enquanto preso, aquele ou aquela não poderão voltar a colocar em risco a tranquilidade dos cidadãos “normais”.
Por fim, e bem mais obscura razão, como vingança. Que se ele, o criminoso, cometeu um determinado acto condenável, deverá “sentir na pele” sofrimento igual ou superior ao que infligiu às suas vítimas.
Posto isto, convém também analisarmos o que é uma pena de prisão. É algo desagradável, mau, condenável. E tanto assim é que se alguém privar de liberdade um seu semelhante, isso é considerado crime. Uma maldade a ser punida.
Por outras palavras, a prisão ou privação de liberdade de um ser humano é considerada uma maldade e o sistema de justiça impõe maldades a quem infringe a lei.
Visto ainda de outro modo, uma maldade passa a ser aceitável ou boa se decretada pela justiça, que reflecte a opinião e desejos da sociedade.
Pode assim concluir-se que a sociedade é má na sua essência, já que aceita a prática de maldades desde que seja ela a decretá-las.
Claro que a sociedade – o conjunto de humanos organizados – acaba por perceber que pratica maldades e tenta reduzir a sua imposição. Inventou assim que certos crimes ou delitos podem ser punidos com pena de prisão ou com pagamentos em dinheiro. Como se cada dia de privação de liberdade tivesse um valor estipulado. É a deturpação materialista da lei de Talião que, por sua vez, remonta aos tempos da Babilónia: “Olho por olho, dente por dente”.

Voltando ao artigo em questão, é normal que as vítimas – ou os familiares das vítimas – entendam que a pena aplicada e prevista nos doutos códigos é pouca. E pedem mais, muito mais. Mesmo que a pena seja a máxima possível, como é caso.
O que nos leva a concluir que a sociedade – os humanos e não a organização – é vingativa e quer fazer aplicar maldades a quem as comete. Não considera a eventual recuperação do criminoso nem a sua exclusão para tranquilidade das pessoas.

O que caba por ser interessante no meio de tudo isto (e para terminar cedo um assunto que poderia ser muito demorado e que aqui é abordado de um ponto de vista meramente abstracto) é que ensinamos as crianças que a vingança é coisa feita e que não deve ser praticada.

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sábado, 17 de fevereiro de 2018

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Ver um partido da oposição afirmar, em Fevereiro, que quer já chumbar o orçamento do estado do ano que vem…
Desculpem-me os teóricos da oratória e os especialistas da política: Isto não é oposição!
É negação.
É obstrução.

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hipocrisisas



Muito se fala de um ex-modelo português que vivia como sem abrigo em Londres e que morreu na rua e no frio.
Já os que morrem em Lisboa são anónimos. Eventualmente acompanhados à terra pela Irmandade da Misericordia e de São Roque.


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Valores



É curioso pensarmos que aceitamos ou toleramos pessoas que mentem. Mas não gostamos lá muito de obras de arte falsificadas, plágios na literatura, cópias de produtos made in china, etc.
Aceitamos de tal modo pessoas que mentem que as escolhemos para governar o país, mesmo quando sabemos que estão total ou parcialmente a mentir.
Mas fazemos um escândalo terrível, com direito a julgamento e pena de prisão, quando encontramos dinheiro falso.

Se calhar teremos que rever a nossa ordem de valores. Que quando os objectos ou dinheiro valem mais que pessoas…


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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Uma opinião



“Avec le noir et blanc, on suggère; avec la couleur, on affirme. Par la suggestion, on peut laisser une grande part à la imagination, tandis qu’une affirmation reclame de la certitude, una certitude absolute. Le faux rendu des couleurs en noir et blanc produit souvent d’efficaces contrastes de tons et dês photos dynamiques, ce qui n’advient pás avec la couleur, où le moindre défaut de ton apparaît de façon absolument évidence, et totalement inaceptable.”

Paul Outerbridge, “Photographing in color”, New York, 1940, citado em “Paul Outerbridge Nus”, de Granm Howe, Paris, 1998


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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Segredos



“Olha! Sabes guardar um segredo?”
“Sim! Claro que sei.”
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“Então não dizes nada? Não contas?”

“Não! Eu também sei guardar um segredo.”


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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Pagamentos



As traseiras da casa onde me fiz homem davam para uma rua sem saída. Toda a rua era traseiras, excepto lá no fundo onde uns poucos de prédios, em forma de largo, davam o deu melhor para esta artéria.
Hoje é parqueamento diurno e nocturno de moradores e não só. As frondosas árvores de agora eram então raquíticos troncos eternamente ameaçados na sua sobrevivência pela seca e as bolas com que a miudagem as acertava, já fora da linha lateral definida pelo lancil do passeio.
Sei que a acústica era boa. Não apenas se ouviam bastante bem as vozes maternas chamando os rebentos para a mesa ou cama, como pelo canto e música que se ouvia.
Ficava esta rua no roteiro de dois homens que cruzavam a cidade, pedindo esmola. Mas não o faziam de porta em porta, estendendo a mão à caridade de quem as abria.
Um deles com o seu saxofone e o outro com a sua voz, davam-nos pequenos mas belos concertos de árias clássicas ou populares.
O instrumentista era cego, o vocalista não possuía o braço esquerdo. Mas juntos, na sua deficiência, suplantavam alguns palcos de fraques e toilletes janotas.
As janelas engalanadas de roupa a secar enchiam-se de miúdos e graúdos, para os ver e ouvir. Mesmo até ao topo do alto 13º andar, o 3º balcão daquela sala aberta para o céu.
Depois da sua actuação de uns bons quinze a vinte minutos, ajudada pela acústica da rua, o cantor circulava junto aos prédios, olhando para cima e para o chão. Recolhia os pedaços de papel com moedas que eram atirados pelas janelas dos moradores.
Rasguei várias páginas dos cadernos da escola.
Não eram esmolas! Eram antes o pagamento sincero de bons momentos que ficavam na memória. Pela raridade e pela qualidade.
Na minha mente, sempre imaginei o cantor como um deficiente da guerra do ultramar, mas nunca o soube ao certo. O que era garantido era que, de cada vez que passava, talvez de três em três meses, a sua voz acompanhava o cabelo: envelhecia e perdia volume e qualidade.
Até que deixaram de aparecer.
Hoje, quando vejo alguém a tocar na rua, de cesto, caixa ou lata no chão em frente, num convite à esmola, recuso.
Não dou!
Não dou uma esmola!
Pago!
Pago o prazer que tenho em estar uns minutos parado, ou mesmo que só de passagem, a escutar música ao vivo, inesperada, bem ou mal executada mas ali, ao vivo. Que me aquece a alma.


Não dou esmolas: pago um serviço!


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domingo, 11 de fevereiro de 2018

Uma fotografia por dia



Nem sabe o bem que lhe fazia.

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sábado, 10 de fevereiro de 2018

Privilégios



O texto é atribuído a Charles Chaplin.
A fotografia é minha.
O motivo da festa foi a véspera do octogésimo segundo aniversário da senhora, bailarina na sua juventude.
Ele, tinha setenta anos.
Foi meu privilégio conhecê-los no Jardim da Estrela e fotografá-los.

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.
Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?”

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Flores



Ficam muito chocados quando digo que oferecer flores é oferecer cadáveres.
Mas a uma pintura ou fotografia de fruta ou jarra com flores chamam de "natureza morta".

Organizem-se, sim!?

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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Apeteceu-me



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Seconic



A história é velha de mais de trinta anos.
Comprei este fotómetro a um amigo e mestre, já usado e em excelentes condições de funcionamento.
Usava-o ele, essencialmente, para fazer medições de luz incidente e tinha-lhe sido fornecido um ainda melhor. Vantagem minha.
Acontece que, já em casa, constato disparidades entre a sua leitura de luz reflectida e os resultados apresentados pela minha câmara. Estranhei e tratei de comparar as medições com outros aparelhos. Sempre a mesma diferença: um stop mais fechado em leitura reflectida. Em leitura incidente estava correctíssimo.
Não havia net como hoje nem os respectivos fóruns. E o manual de instruções, sempre vital, não me fornecia nenhuma indicação, numa primeira abordagem.
Mas a leitura atenta e interpretativa deu-me a resposta: tratando-se de um “fotómetro de estúdio” estava preparado para fazer medições directamente a partir do tom de pele e não de um cinzento com 18% de reflectância como eu queria e todos os outros aparelhos faziam. É interessante este método, supostamente dá resultados mais rápidos, mas é muito ambíguo, já que os tons de pele variam enormemente de individuo para individuo. Aliás, de zona do corpo para zona do corpo.
Resolvi a questão recorrendo ao espírito inventivo e de “desenrasca” que tão bem nos caracteriza:
Na grelha usada para medição reflectida, que aqui se vê entre os meus dedos, tapei alguns dos orifícios com fita preta. Tentativa e erro até os resultados serem os que queria. Bingo!
Até hoje matem-se fiel e constante nas suas medições, nunca me deixando ficar mal naquilo em que o usei.
O que acaba por ter piada é que há poucos anos comprei um outro fotómetro. No caso específico, um exposímetro, já que não indica quantidades de luz mas tão só a exposição a fazer com ela. Luz continua e flash, luz incidente e spotmeter. Tudo em um.
A verdade é que, em modo spot, constatei a mesma variação de um stop quando comparado com outros aparelhos que possuo. A marca é a mesma, “Seconic”, e a minha memória acordou. O manual de instruções está na net e forneceu-me a confirmação do que suspeitava: feito para medir a luz na pele do modelo.
Sendo um aparelho digital (L-558), a sua re-calibração foi bem mais fácil e rigorosa, permitindo-me manter os métodos e resultados consistentes do que vou fazendo.

Saber interpretar aquilo que usamos ou fazemos e ajustá-lo à prática é vital em tudo o que fazemos: fotografia ou vida.
A grande vantagem da fotografia é que vem com manual de instruções.



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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

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Executamos sinfonias, executamos orçamentos, executamos penhoras, executamos projectos...
Porque é que não executamos uns tipos?
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Agradecimento



O que se segue tem bem  mais de uma dezena de anos, nem sei bem quantos.
Fomos em trabalho à embaixada do Iraque. Tratava-se de fazer uma entrevista com o respectivo embaixador e, nas diversas áreas envolvidas, seríamos menos de dez pessoas.
Quando tudo pronto (equipamento, energia, luz, som) e nos preparávamos para iniciar os registos, somos surpreendidos pela chegada da esposa do embaixador.
Trazia ela uma pequena travessa nas mãos e era seguida por um empregado, que vinha empurrando um carrinho com baixela, uns bules e mais umas pequenas travessas.
Fez ela questão de abordar cada um de nós, os profissionais que ali estávamos, oferecendo-nos o que tinha nas mãos: tâmaras cobertas de chocolate (ou recheadas, já não sei precisar).
Argumentava a senhora que havia sido ela a preparar aquele docinho e que, com o resto, seria o nosso lanche antes de continuarmos o trabalho que ali nos havia levado.

Não creio que em nenhuma embaixada de um país dito ocidental a esposa de um embaixador se desse ao trabalho de ir para a cozinha preparar e depois servir um lanche a um grupo de pessoas que, mesmo que a convite, ali estavam apenas para trabalhar.

Não sei o seu nome, lamento-o. Mas mesmo a esta distância, fica aqui expresso o meu agradecimento pela hospitalidade e deferência.

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António Conselheiro



Toda a história tem pormenores originais, uns divertidos, outros não tanto.
A fotografia aqui exibida é de António Conselheiro, um activista político-religioso que liderou um movimento ao estilo dos “sem-terra” no Brasil, no final dos anos oitenta do séc. XIX.
Ficou o movimento, e a guerra, conhecida por “A guerra dos Canudos”. E que terminou com aquilo a que se pode chamar de “massacre” dos “revoltosos” por parte do exército Brasileiro.
Nada tem de especial isto. Aconteceu um pouco por toda a parte ao longo dos tempos.
O que é realmente original é ter sido o líder, que morreu na véspera do combate final, ter sido desenterrado duas semanas depois para ser fotografado. Essa fotografia foi feita pelo fotógrafo brasileiro Flávio de Barros, ao serviço do exército.
O objectivo de tal macabro registo foi o divulgar a imagem pela imprensa nacional com o fito de demonstrar que o político e santo (ou vice-versa) mas rebelde, estava morto e, com ele, o movimento.

Há quem seja ”morto” nas fotografias (apagado delas) para que não haja provas públicas da sua envolvencia nas situações retratadas.
Esta intervenção fotográfica é, para mim, única na história.
Descoberta num pequenino livro sobre a história da fotografia no Império brasileiro, levantou-me suficientes desconfianças na sua veracidade a ponto de ter procurado outras fontes que o confirmassem.

Estranho mundo o nosso, o dos fotógrafos!


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Quando, de manhã, fui buscar o leite ao frigorífico, ouvi a manteiga gritar-me:

“Fecha a porta que entra frio!”
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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

MGF



Assinalou-se ontem o dia contra a Mutilação Genital Feminina.
Prática horrenda, com vítimas um pouco por todo o mundo, maioritariamente em África. Mas por cá também.
No entanto, não nos enganemos, não basta proibir e perseguir quem o pratica. Haverá que abordar a questão sob todos os pontos de vista, directos ou indirectos.
Até porque, e como diz o povo, tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica a ver.
Sobre o assunto, uma história que me foi contada em 2006 por alguém que esteve por perto da situação.
Num país africano, francófono e de forte influência islâmica, uma mulher enviuvou. De acordo com as normas locais, deveria casar-se em segundas núpcias com o cunhado.
A base para esta norma, antiga de séculos, é o facto de não deverem existir mulheres sós que deverão estar sob a “protecção” de um homem. E, sendo tarefa masculina a guerra, com a morte associada, é admissível a poligamia, desde que o homem prove poder sustentar a mulher.
Podemos discordar disto, mas é o que vigora.
Tal como vigora, nesse país, que o novo marido pode exigir que a nova mulher seja mutilada no seu clitóris. Mutilação que a senhora em causa não possuía e que, ainda de acordo com as normas locais, seria obrigada a fazer.
Como se entende, ela não quis e, clandestinamente, fugiu com ajuda de amigos.
Nessa sua fuga veio parar a Lisboa, onde pediu asilo invocando a situação e alegando que se tivesse que regressar seria presa e mutilada.
O asilo foi-lhe negado!
E com a argumentação de não constar a situação nas normas e códigos portugueses.
Ficou retida na zona internacional do aeroporto à espera de um voo que a levasse de volta ao seu país e a um destino trágico.
Por sorte o caso transpirou e alguém com conhecimentos e influência movimentou-se. E a senhora acabou por cá ficar.

Para esta história de final feliz quantas outras não terão um infeliz?
Será que nos artigos da lei casos como este já são automaticamente reconhecidos como dando direito a asilo?
Ou será que o que lá se passa é condenável mas é lá e não temos que nos meter nisso?

Os actos ficam para com quem os pratica. E não me é agradável viver num país que não acolhe e protege as vítimas ou potenciais vítimas de tal barbárie!

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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Regras privadas?



Alguém me sabe dizer da validade disto, visto num táxi em Lisboa?

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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Disfarce



Nesta época carnavalesca, eis-me com a minha máscara habitual: político.

Profissional ou ocasional, fica ao vosso critério.

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Significados



Em frente ao supermercado, junto ao estacionamento, uma “barraquinha” de farturas.
Confesso que me é difícil resistir a tal apelo e, nesse dia, caí na esparrela: comprei uma. Não eram grande coisa, mas lá fiquei a roer a que me calhou.
Enquanto o fazia, junto à porta, duas velhotas saíram, empurrando um carrinho meio de compras.
Pararam a meu lado e uma propõe à outra, apontando a barraquinha:
“Vamos comer um biróti?”
Não conhecia o termo e, pelos vistos, a outra velhota também não, que perguntou o que era. E foi-lhe explicado.
Entretanto, do meu outro lado, ouvi uma gargalhada. Forte, franca, realmente motivada por um motivo divertido.
Olhei. Melhor dizendo, olhámos os três, que as velhotas também.
Era uma senhora, algures pelos quarentas, mulata, que, encostada na grade das garrafas de gás, comia uma sandes. E ria a bom rir.
Questionada por elas, disse-lhes que na terra dela, “biróti” significava outra coisa, bem “diferente”. Sem explicar o quê.
Riram as velhotas, dizendo uma que na terra dela era o nome dado às farturas. E afastaram-se, sem passar pela barraquinha.
“Ainda bem”, pensei, que não eram grande coisa.
A minha, biróti ou fartura, entretanto acabara e acendera eu um cigarro. E, tendo tempo antes de entrar para as compras, meti conversa e questionei-a sobre o significado do termo na terra dela e qual era a “terra dela”.
“Cabo Verde”, disse-me. Quanto ao termo acrescentou que era palavra feia, a não dizer em público. E agora com um sorriso maroto a brincar-lhe no rosto.
Ficámos de conversa e, mesmo sem explicar e com a analogia da forma, percebi o que me dizia. E falámos sobre as belezas do seu arquipélago, que por barco são dez dias de viagem, que os aviões são insultuosos com as revistas de segurança…
Acabou o meu cigarro e o bate-papo terminou pouco depois. Com um remate da minha parte:
“Já sei uma palavra a não usar quando for a Cabo Verde!”.


By me