segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Significados



Em frente ao supermercado, junto ao estacionamento, uma “barraquinha” de farturas.
Confesso que me é difícil resistir a tal apelo e, nesse dia, caí na esparrela: comprei uma. Não eram grande coisa, mas lá fiquei a roer a que me calhou.
Enquanto o fazia, junto à porta, duas velhotas saíram, empurrando um carrinho meio de compras.
Pararam a meu lado e uma propõe à outra, apontando a barraquinha:
“Vamos comer um biróti?”
Não conhecia o termo e, pelos vistos, a outra velhota também não, que perguntou o que era. E foi-lhe explicado.
Entretanto, do meu outro lado, ouvi uma gargalhada. Forte, franca, realmente motivada por um motivo divertido.
Olhei. Melhor dizendo, olhámos os três, que as velhotas também.
Era uma senhora, algures pelos quarentas, mulata, que, encostada na grade das garrafas de gás, comia uma sandes. E ria a bom rir.
Questionada por elas, disse-lhes que na terra dela, “biróti” significava outra coisa, bem “diferente”. Sem explicar o quê.
Riram as velhotas, dizendo uma que na terra dela era o nome dado às farturas. E afastaram-se, sem passar pela barraquinha.
“Ainda bem”, pensei, que não eram grande coisa.
A minha, biróti ou fartura, entretanto acabara e acendera eu um cigarro. E, tendo tempo antes de entrar para as compras, meti conversa e questionei-a sobre o significado do termo na terra dela e qual era a “terra dela”.
“Cabo Verde”, disse-me. Quanto ao termo acrescentou que era palavra feia, a não dizer em público. E agora com um sorriso maroto a brincar-lhe no rosto.
Ficámos de conversa e, mesmo sem explicar e com a analogia da forma, percebi o que me dizia. E falámos sobre as belezas do seu arquipélago, que por barco são dez dias de viagem, que os aviões são insultuosos com as revistas de segurança…
Acabou o meu cigarro e o bate-papo terminou pouco depois. Com um remate da minha parte:
“Já sei uma palavra a não usar quando for a Cabo Verde!”.


By me

Sem comentários: