terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um retrato - Joana


E a questão que se pode por é:
Será que Joana, a dona desta cara bonita, é uma das praxadas ou é umas das veteranas, naquele evento tradicional universitário, que aconteceu a escassos metros, por vezes centímetros, da minha câmara “À-lá-minuta”.
A roupa talvez que pudesse ser um indício, se fosse visível, já que veterano que se preze veste traje académico e praxado, que remédio, uma T-shirt para conspurcar.
Talvez a posse da câmara fotográfica pudesse ajudar, já que os caloiros mal têm mãos para segurar as “indignidades” que os finalistas lhes impõem, enquanto que estes se deliciam com as “malvadezas a que os submetem, e tudo isso é para mais tarde recordar. Mas, no meio das tropelias, sempre poderia haver um momento para se ver nos outros aquilo que o próprio está a viver…
Talvez mesmo pelo sorriso soubéssemos dizer se se trata de um “estreante” ou de um “acabante”. Mas se entre uns e outros a frescura e juventude é a tónica dominante, a verdade é que os sorrisos dos mais novos, nestas alturas, são bem mais amarelos que este que aqui se vê.
Mas, se dúvidas pudessem existir, terminariam ao afirmar que a identificação se faz, e sem lugar a erros, pela limpeza da cara. Que nenhum caloiro, a meio de uma praxe iniciática ao ensino superior, tem a cara isenta de cores, riscos e dizeres!
Joana é, nesta fotografia, uma veterana a iniciar assim o seu último ano como estudante universitária (se tudo correr pelo melhor!)

Nota extra: esta fotografia não era para acontecer.
Enquanto as cerimónias (se assim lhe podemos chamar) decorriam mesmo ali ao meu lado, a minha vontade em as registar era grande. Mas este é um evento que, ainda que num local público, é privado. É deles, dos estudantes, e os restantes cidadãos apenas estão ali quase que por acaso ou, na melhor das hipóteses, como elementos involuntários a ajudar nas malandrices que acontecem.
Uma qualquer fotografia que eu fizesse seria uma intrusão da minha parte.
Mas não resisti a “fazer uma perninha” num tema que me agrada: fotografar o acto fotográfico! A concentração, a pose, o manuseio da câmara fotográfica tem sido, ao longo dos tempos, um dos temas que tenho vindo a registar. Que assim o fotógrafo (idade, estrato social, à-vontade com o equipamento) e o equipamento de per si, para já não falar nos assuntos registados, são um manancial quase que inesgotável para fotografar e pensar em fotografia.
Pois preparava-me eu para fotografar aquela câmara que quase que não se vê, quando a sua dona volta a cara, em busca não sei de quê. E o meu instinto de caçador de troféus não resistiu e click, apanhei-a.
Mas que fiquei com pesos na consciência, lá isso fiquei! A pontos de, quando pouco depois passaram de volta, a ter interpelado, lhe ter mostrado a fotografia em causa, lhe ter pedido desculpa de a ter feito e de lhe ter pedido autorização para a usar. E, de caminho, qual o nome que deveria apor na imagem, no meu arquivo.
Foi assim que Joana, finalista numa escola superior da zona, foi apanhada à meia-volta e não se importou com isso. Vantagem minha, que fiquei com mais um bonito troféu.


Texto e imagem: by me

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