terça-feira, 25 de agosto de 2009

A sala de aula


Esta é uma imagem retirada de uma reportagem televisiva de ontem, 24 de Agosto de 2009.
Versava ela sobre o aumento do sucesso escolar em Portugal, acompanhando o Primeiro-ministro e a Ministra da Educação numa visita a uma escola secundária de Lisboa. Imagens destas duas figuras públicas andando pelas instalações, imagens de alunos e professores no trabalho de aprender e ensinar, imagens e sons dos discursos sobre o tema, agora muito convenientemente proferidos, que 27 de Setembro se aproxima a passos largos.
Sobre esta reportagem não irei questionar como diabo foram encontrar, em pleno mês de Agosto, alunos numa escola pública. O mais fácil seria ir encontra-los numa praia, num festival de verão ou semelhante.
Também não irei questionar se estes mesmos jovens, ou os seus responsáveis legais, autorizaram a recolha e divulgação das imagens ontem difundidas. Aliás, não sei mesmo se os pais e encarregados de educação saberiam que o evento iria ter lugar e, com ele, a óbvia recolha de imagens e sons.
O que questiono mesmo é um pequeno pormenor visível nesta imagem aqui exibida, e só neste plano. Aquilo que consta lá no alto, de um lado e do outro do quadro preto (agora verde) desta sala de aula de uma escola pública de Lisboa.
De um lado, à esquerda, um crucifixo. Do outro aquilo que parece ser a imagem de um santo ou da “nossa senhora”.
Pergunto-me como será possível que numa escola pública, aberta a todos os jovens cidadãos deste país, se imponha o conceito de cristianismo assim, permanentemente à frente dos olhos dos alunos, seja qual for o credo de cada um, das respectivas famílias ou, em último caso, se algum credo religioso tiverem.
Ao que julgo saber, as aulas de educação religiosa são facultativas e em função das decisões dos alunos e encarregados de educação. Ao que sei também, a lei portuguesa separa muito claramente o âmbito de intervenção do estado do da igreja, tendo em 1974 terminado o conceito de “Deus, Pátria, Família”.Também sei, e é do conhecimento comum, que fruto das migrações e mudanças de mentalidade, o número de não cristãos, por ateísmo ou por seguirem outras confissões religiosas, tem vindo a aumentar substancialmente em Portugal.
Como se admite então que forcem os jovens, numa altura de formação da personalidade, numa altura da vida em que as perguntas sobre ela são bem mais que as respostas encontradas, a terem que conviver com símbolos religiosos específicos em locais públicos, horas a fio diariamente, meses seguidos todos os anos, durante o período escolar obrigatório?
O meu conceito de liberdade, não apenas física mas, e principalmente, a de pensamento e credos, revolta-se contra esta prepotência sub-reptícia daqueles que, em nome do estado, impõem algum tipo de religião aos jovens.
Aqui ou onde quer que seja!


Texto: by me
Imagem: in “Telejornal”, rtp.pt

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