segunda-feira, 9 de março de 2009

Sustos e sorrisos


Já não me recordava da história fazia tempo, mas veio à memória por estar a falar com alguém que frequenta o curso de medicina.
Em tempos foi-me pedido que fizesse um exame especial à vista. Uma endoscopia oftálmica!
Ao ouvir o nome, assustei-me. Não que me faltasse confiança no médico que mo havia prescrito ou nos técnicos que a haveriam de o fazer. Mas…
Que raio! Por onde entraria a sonda? Que secção teria para andar por dentro de tão estreitos vasos sanguíneos? Como iriam fazer para que o globo ocular ficasse imóvel para que a dita sonda visse o que haveria de ser visto?
Estas e outras questões não me puseram em estado de pânico, mas tiraram-me muitas horas de sono até ao dia fatídico. Que acabou por ser até divertido.
É que, após a sessão habitual de pingos e espera, mais pingos e mais espera, outra dose de pingos e dose reforçada de paciência (daqui o nome de paciente!), lá entrei na sala de exame. E fartei-me de rir ao constatar que, afinal, iriam usar o mesmo orifício por onde entra luz para vermos para perscrutar a minha retina, logo depois de uma injecção de um químico contrastante. E o registo era feito com uma câmara fotográfica igualzinha a uma que havia tido até pouco tempo antes, uma Pentax MX, fiel, robusta e prática de usar como poucas.
Aliás, até a película usada era igual às que havia usado nos tempos em que fazia preto e branco: Kodak Tri-X.
Estive para perguntar se usavam o mesmo revelador, o HC-110, pastoso na embalagem de origem e bera de diluir como poucos. Mas com um grão e uma continuidade de tons soberbos.
Claro que o chato foi o sair dali para fora, que nem os dois óculos bem escuros serviram para atenuar a luz solar que feria os meus olhos de pupilas hiper-dilatadas.

Pois esta história provocou um sorriso de memória e na cara de quem em ouvia. Que deveria saber bem o que seria e o que eu teria pensado.
O que já não conseguiu provocar um sorriso foi ver que essa mesma criatura, que frequenta um curso superior, escreve “Conheçe-lo”! Algo que nem mesmo o meu corrector automático de escrita me autoriza a fazer sem protesto! Quanto mais a memória do que é escrita e língua portuguesa.
Que eu diga, ao jantar, “Passa-me o sal, mas com cedilha, que sem cedilha faz mal à saúde!” é uma brincadeira que, numa primeira abordagem, provoca cara de espanto a quem em a ouve, logo seguida de um sorriso.
Espero bem que quem irá exercer medicina não cometa erros deste cariz ao pedir um exame completar de diagnóstico ou ao receitar um tratamento químico.
Que pequenos erros de ortografia podem ser a morte do artista. Ou do paciente, neste caso!


Texto: by me
Imagem: inside me

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