domingo, 29 de março de 2009

Factor C


Uma ocasião, fui convidado para fazer parte de um júri de selecção de candidatos a operador.
Tratava-se de um concurso interno onde funcionários de outras áreas concorriam para o lugar. As vagas era bastantes e as provas de selecção abrangiam a teoria e a prática. Visto que o concurso seria seguido de um curso de formação, igualmente selectivo, o meu objectivo foi o de avaliar o potencial dos candidatos e não tanto ver o que sabiam fazer.
Não nos enganemos: este papel de júri é um papel sério! Dele depende a vida profissional dos candidatos e, consequentemente, a sua vida pessoal, já que o novo posto é melhor remunerado.
Tentei levar a coisa a rigor, mas tão seriamente que prometi a mim mesmo não mais me envolver nestas questões! O factor “C” tem demasiado peso e força para as minhas capacidades de “encaixe”!

Decorriam as provas e sou abordado na rua por um velho colega, de uma área que eu já não visitava havia anos. Depois das saudações habituais nestes casos, veio o motivo:
“Eh pah, vê lá se podes dar uma mão… Fulano é filho de Cicrano, também está no concurso… Ele até tem jeito para a coisa, mas anda com azar nos exames médicos… As análises dão sempre positivo… Se puderes ajudar…”
Dei uma resposta evasiva, para que eu mesmo não subisse o tom de voz, e nem sequer fixei o nome da pessoa em questão. Sabia que estas coisas acontecem e também sabia o que fazer nestes casos: ignorar o pedido.

O concurso decorreu e as avaliações foram publicadas.
Dias depois sou abordado por um dos promotores do concurso e pede-me ele para elaborar novas provas, que se tinham esquecido de incluir no concurso alguns elementos de alguns serviços. A coisa cheirou-me a esturro e declinei o convite.
Pois!
Um dos elementos que foi a este segundo concurso, foi recusado no concurso, foi recusado no curso, foi recusado no estágio.
E hoje é um operador que trabalha ali, lado a lado comigo, todos os dias.
Não fui tido nem achado em nenhuma das fases que o envolveram na selecção, mas não posso deixar de concordar com os resultados: É um mau elemento! A todos os níveis!
Uma vez mais o factor “C” actuou e ganhou! Não graças a mim, mas ganhou.

A questão que se põe é: serve de alguma coisa criar entraves ao factor”C”?
Certamente que sim! Continuo a dormir tranquilo e a não ter vergonha de olhar para o espelho, quando saio do banho e aparo a barba.
É que, cá em casa, a “Cunha” só serve para travar a porta se houver corrente de ar!


Texto e imagem: by me

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