O bairro de Alvalade em Lisboa faz parte da minha
existência, pese embora nunca nele tenha vivido. Todo o meu percurso estudantil
aconteceu nele, pré e pós revolução, com quase tudo o que ambos períodos implicaram.
Mas, e para além disso, o bairro de Avalade, com os seus
mais de três quartos de século, não surgiu de um juntar de edifícios e de ruas
entre eles.
Foi delineado por arquitetos e outros, com traças comuns mas
distintas, com diversas tipologias, custos e classes sociais bem diferenciadas,
com serviços de apoio variado, com zonas comerciais, habitacionais e
industriais, incluindo um campo de jogos de notória dimensão. Mesmo a igreja,
que encima o bairro e dá nome a uma avenida no local, é inconfundível. Havia quem
apelidasse o bairro de Alvalade como “A cidade dentro da cidade”.
Mas foi um bairro que foi morrendo aos poucos, com o
envelhecimento da população, com as mudanças de hábitos de consumo, com o
aumento das viaturas privadas ou colectivas que transformaram as largas
avenidas em ruas quase estreitas.
Nos últimos anos tem-se vindo a notar que o bairro, que
estava quase moribundo mas bem conservado, está a renascer. Agora encontram-se
muitas mais crianças em carrinhos ou ao colo, as tradicionais esplanadas vão-se
tapando, convertidas em restaurantes da moda ou franchising, alguns de origens
e ementas transfronteiriças, havendo ainda as clássicas drogarias e farmácias,
pronto-a-vestir e frangos assados e, em chegando a época, castanhas assadas na
rua e escuteiros a vender porta-chaves e canetas.
Uma das principais mudanças no bairro começa (ou acaba)
aqui, no que se vê na fotografia: a zona industrial.
Aos poucos, as fábricas e oficinas, naturalmente com áreas
generosas, foram-se extinguindo, dando lugar a zonas com nomes conhecidos de
supermercados, a zonas de culto não tradicionais por cá e até a produtoras e
difusoras de televisão temáticas.
Vem tudo isto a propósito de, e para além de uma ida ao
coração do bairro, ter feito uma aquisição também de “saudade”: a objectiva que
aqui usei.
Trata-se de uma Tamron SP adaptall2 300mm 1:5,6,
objectiva quase topo de gama no seu tempo (finais de ’70, inícios de ’80) de
que fui um orgulhoso e feliz dono. Um pouco pesada (610g) e sem suporte directo
para tripé, exigia e exige algum cuidado no seu uso em mão livre. Mas, dominada
esta questão, devolvia-nos uma imagem de qualidade superior, tanto na época
como ainda hoje.
A vida deu muitas voltas e, numa delas, vi-me na contingência
de a vender. Acto de que sempre me arrependi. Não apenas porque não gosto de me
desfazer do que tenho mas também por aquilo que ela me permitia.
Por estes dias e meramente por acaso encontrei quem e onde
vendesse um exemplar, em óptimas condições e preço muito aceitável. Não resisti!
Excluindo a fotografia de teste, feita no exterior da loja,
esta foi a primeira com um “amor antigo”, recordando outros tempos, outros
amores e outras práticas.
Tal como o bairro, também a minha prática fotográfica vai
rejuvenescendo em cima do que já foi novo e que continua muito bom.
Pentax K7,
Tamron SP Adaptall2 300mm 1:5,6
By me


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