terça-feira, 30 de setembro de 2025

Comigo não




Não sou conhecido por ter bom feitio. E quando me fazem chegar a mostarda ao nariz a explosão acontece.

Há uns dias comprei bilhetes para um espetáculo. Na bilheteira do local e pago em dinheiro vivo. Pediram-me apenas o contacto telefónico, para o caso de algo acontecer. Certo e normal, visto que compra foi feita com antecedência.

Hoje recebo um telefonema para me avisarem que o espetáculo foi cancelado e que o reembolso pode ser pedido na bilheteira ou por e-mail, havendo que dar a minha identificação e o meu iban para que seja creditado na minha conta.

Não! De forma alguma!

Se o pagamento foi feito em espécie é assim que o quero reaver. E se o pagamento não foi feito por via de bancos, não é assim que devo ser reembolsado.

Sempre que posso uso notas e moedas por opção. Ajuda-me a controlar despesas e não deixo rasto junto de entidades terceiras, neste caso um banco ou os serviços interbancários, que não têm que ficar com o registo dos meus negócios.

A resposta, do outro lado, foi incisiva: que são uma empresa e que não lidam com dinheiro em espécie na bilheteira.

“Problema vosso. Quero ser reembolsado da mesma forma como paguei e o dinheiro continua a ser válido neste país.” Afirmei com a minha voz de sargento lateiro, não dando azo a respostas que me contradissessem. Só faltando mesmo recorrer a vocabulário de carroceiro.

Um destes dias lá estarei, na bilheteira e no horário de funcionamento. Espero que tudo se resolva com tranquilidade. Quando não...

 

Pentax K1 mkII, smc Pentax-M macro 50mm 1:4

 

 By me

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

OPS!




As coisas são o que são e há hábitos que ficam, queiramo-lo ou não.

Se as minhas contam me não enganam, há uns dez anos que deixei de temperar o café com açúcar. Quer se trate de café expresso ou café de saco.

Foi um acto deliberado e, durante os primeiros tempos, talvez duas semanas, o paladar do café assim “amargo” era coisa difícil de suportar.

Mas a boca e o cérebro acabaram por aceitar a beberagem e assim me tenho mantido. E quando me entregam a tradicional bica, servida em chávena fria, há três coisas que faço mecanicamente: afastar o pacotinho de açúcar, rodar o conjunto para que a asa da chávena fique do meu lado direito e mexer o café para ajudar a arrefecer, já que não gosto dele quente. Hábitos ou manias.

Hoje, encostado no balcão da pastelaria, entabulei conversa séria sobre fotografia com quem estava do outro lado. E se me querem ver alheado do mundo em redor é embrenharem-me neste tema.

Pois quando fui, finalmente, beber o café, entretanto arrefecido com a colher, achei-o intragável. Quase a ponto de o cuspir, coisa que consegui evitar.

É que, e sem me aperceber do que quer que fosse, tinha vertido todo o conteúdo do maldito pacote de açúcar para dentro do líquido escuro. E ajudado a dissolver com a colher.

Juro que foi das piores coisas que coloquei na boca, bem pior que os primeiros tempos de café sem açúcar ou que aquele outro café com manteiga que uma vez me serviram.

Gestos maquinais que, uma dezena de anos depois, ainda aqui estão gravados algures num neurónio que estava adormecido.

Espero que os neurónios referentes aos outros seis pecados mortais não acordem quando eu estiver distraído.

 

 By me

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Saudades e qualidades




O bairro de Alvalade em Lisboa faz parte da minha existência, pese embora nunca nele tenha vivido. Todo o meu percurso estudantil aconteceu nele, pré e pós revolução, com quase tudo o que ambos períodos implicaram.

Mas, e para além disso, o bairro de Avalade, com os seus mais de três quartos de século, não surgiu de um juntar de edifícios e de ruas entre eles.

Foi delineado por arquitetos e outros, com traças comuns mas distintas, com diversas tipologias, custos e classes sociais bem diferenciadas, com serviços de apoio variado, com zonas comerciais, habitacionais e industriais, incluindo um campo de jogos de notória dimensão. Mesmo a igreja, que encima o bairro e dá nome a uma avenida no local, é inconfundível. Havia quem apelidasse o bairro de Alvalade como “A cidade dentro da cidade”.

Mas foi um bairro que foi morrendo aos poucos, com o envelhecimento da população, com as mudanças de hábitos de consumo, com o aumento das viaturas privadas ou colectivas que transformaram as largas avenidas em ruas quase estreitas.

Nos últimos anos tem-se vindo a notar que o bairro, que estava quase moribundo mas bem conservado, está a renascer. Agora encontram-se muitas mais crianças em carrinhos ou ao colo, as tradicionais esplanadas vão-se tapando, convertidas em restaurantes da moda ou franchising, alguns de origens e ementas transfronteiriças, havendo ainda as clássicas drogarias e farmácias, pronto-a-vestir e frangos assados e, em chegando a época, castanhas assadas na rua e escuteiros a vender porta-chaves e canetas.

Uma das principais mudanças no bairro começa (ou acaba) aqui, no que se vê na fotografia: a zona industrial.

Aos poucos, as fábricas e oficinas, naturalmente com áreas generosas, foram-se extinguindo, dando lugar a zonas com nomes conhecidos de supermercados, a zonas de culto não tradicionais por cá e até a produtoras e difusoras de televisão temáticas.

Vem tudo isto a propósito de, e para além de uma ida ao coração do bairro, ter feito uma aquisição também de “saudade”: a objectiva que aqui usei.

Trata-se de uma Tamron SP adaptall2 300mm 1:5,6, objectiva quase topo de gama no seu tempo (finais de ’70, inícios de ’80) de que fui um orgulhoso e feliz dono. Um pouco pesada (610g) e sem suporte directo para tripé, exigia e exige algum cuidado no seu uso em mão livre. Mas, dominada esta questão, devolvia-nos uma imagem de qualidade superior, tanto na época como ainda hoje.

A vida deu muitas voltas e, numa delas, vi-me na contingência de a vender. Acto de que sempre me arrependi. Não apenas porque não gosto de me desfazer do que tenho mas também por aquilo que ela me permitia.

Por estes dias e meramente por acaso encontrei quem e onde vendesse um exemplar, em óptimas condições e preço muito aceitável. Não resisti!

Excluindo a fotografia de teste, feita no exterior da loja, esta foi a primeira com um “amor antigo”, recordando outros tempos, outros amores e outras práticas.

Tal como o bairro, também a minha prática fotográfica vai rejuvenescendo em cima do que já foi novo e que continua muito bom.

 

Pentax K7, Tamron SP Adaptall2 300mm 1:5,6


By me

terça-feira, 23 de setembro de 2025

D'arquivo




As coisas são como são.

Em tendo que remexer num computador que já tinha meio de parte, dou com este texto. E a respectiva imagem.

Já têm uns anitos, mas se o escrevesse hoje, não creio que mudasse uma vírgula.

Fica como está!

 

Eu e a luz

Ao longo dos anos vários têm sido os que me questionam sobre a minha preferência de uma luz de recorte (ou contra-luz, ou back light ou hair light ou luz de trás) intensa.

Curiosamente só de há uns tempos a esta parte me apercebi que, de facto, essa é a minha luz preferida, seguida de perto por uma luz lateral em relação ao eixo de observação ou de captação.

Por resposta encontrei várias possíveis, de índoles bem diversas.

 

Numa primeira abordagem, uma luz de recorte intensa é fácil de trabalhar e de, com ela, se obterem resultados se não espectaculares, pelo menos menos comuns. É que basta que a luz vinda de perto do eixo de observação seja suficiente para se perceberem os detalhes e sem sombras contrastadas. A outra, a de recorte ou de trás, pode ter a intensidade que se quiser (1:3, 1:5, 1:10, por comparação com a frontal) que é aceitável alguma falta de controlo sobre ela desde que fique a “queimar” ou quase.

Desta forma, as definições dos diversos planos, os jogos de contraste assim criados e o evidenciar do ou dos centros de interesse na imagem não só são fáceis de criar como de fácil leitura por parte do público. Talvez que o factor preguiça me tenha levado por este caminho.

 

Mas outras repostas podem ser encontradas, não tão simples.

A luz que vemos e que fotografamos é, as mais das vezes, a reflectida dos objectos. Vinda de uma qualquer fonte (natural ou artificial, apenas disponível ou laboriosamente trabalhada) os raios luminosos incidem no assunto e são reflectidos. Em regra não na totalidade, já que parte dessa energia luminosa é absorvida pelos materiais (e chamamos a isso cor) ou atravessa-os na proporção em que são permeáveis (e chamamos a isso translucidez ou transparência).

Em qualquer dos casos, definimos leis e regras científicas para a radiação, reflexão e refracção, regras essas que quem usa a luz como matéria-prima tem que conhecer medianamente bem.

Mas a verdade é que a esmagadora maioria da luz que traduzimos em “ver” e em “fotografar” é a reflectida. O que significa, na prática, que aquilo que vemos e registamos é, apenas, a superfície dos assuntos. O seu interior, quer lhe chamemos “recheio”, “alma” ou “para além de” fica oculto ou ofuscado por essa reflexão de superfície.

Sendo verdade sou um eterno curioso (um eufemismo para metediço) em relação ao que me cerca, tenho tendência para tentar conhecer o mundo um pouco mais além da superfície aparente.

Uma forte luz de recorte ou contra-luz permite que, ao resvalar nas arestas ou atravessar o assunto se for esse o caso, aquilo que vejo e registo vá um pouco para além das aparências da superfície. Não apenas no conceito metafórico do termo mas também no real, usando a translucidez ou transparência dos assuntos fotografados.

Claro está que este “ir para além da superfície” será, as mais das vezes, uma questão interpretativa. Mas também o é toda e qualquer fotografia, por muito técnica ou “fiel”que queiramos que seja.

E, muito naturalmente também, esta não será uma abordagem que eu use exaustiva ou exclusivamente. Mas, em situações normais, tenho tendência para a procurar ou provocar.

 

As explicações quanto a esta minha preferência não se ficam por aqui: acontece que sou do contra!

Tenho uma atitude de contestação generalizada na vida (já me disseram que a primeira palavra que terei dito conscientemente terá sido “Não!”). Assim, e se a grande maioria dos fotógrafos, conceituados ou anónimos, procura a luz frontal, mais suave ou mais contrastada, na moda, na arquitectura, na paisagem, no retrato, na paisagem, na reportagem, faz todo o sentido que a minha atitude contestatária me leve a procurar outros caminhos, no caso, outros tipos de luz. O próprio termo “contra-luz” é bem elucidativo!

 

Um outro motivo, desta feita não congénito, pode explicar esta preferência por fortes contra-luzes:

Há mais de uma vintena de anos que perdi a capacidade de visão normal da vista direita. Mantive a visão periférica, mas a frontal, a de detalhe, transformou-se numa mancha cinzenta, irremediavelmente.

Com esta “menosvalia” perdi também a capacidade de avaliar distâncias de forma convencional: a visão estereoscópica desapareceu por completo. O que me levou a encontrar soluções no quotidiano para resolver as coisas mais simples, como o saber a que distância se encontra um carro, ou o enfiar a linha numa agulha ou o descer de uma escada.

Mas o cérebro humano é bem mais poderoso que aquilo que imaginamos e encontrei inconscientemente soluções alternativas: o tamanho aparente dos objectos ou a sua sobreposição (perspectiva, a ferramenta do fotógrafo) e, obviamente, as sombras que eles provocam (luz, a matéria-prima do fotógrafo).

Acontece que se as sombras se projectarem para além do objecto, não são visíveis porque tapadas. É bem mais fácil calcular distâncias se as sombras se projectarem para o nosso lado. Ou seja: se a fonte de luz que as provoca estiver para além do objecto – o contra-luz.

 

Seja como for, há que admiti-lo, esta preferência por este tipo de luz para fotografia tornou-se bem mais fácil de pôr em prática com o recurso à fotografia digital e ao processamento no computador. A tentativa e erro no controlo de contrastes é muito mais acessível e bem mais barato (a custo zero e tempo mínimo) que nos tempos do diapositivo ou do negativo.

 

Em qualquer dos casos, e seja qual for o principal motivo ou motivos para se gostar de um dado tipo de luz (ou composição, ou perspectiva, ou proporções de imagem ou o que quer que seja) será bom que cada um o perceba e saiba. Para saber porque o faz e disso tirar proveito ou, pelo contrário e se as circunstâncias assim o exigirem como seja um cliente, poder evitar o excesso de personalização.

E parar para pensar naquilo que fazemos e de que gostamos, mais que gastar tempo, é saber usá-lo.

 

Pentax K7, Sigma 70-300



By me

Retratos




Não sei, com rigor, quantas freguesias e municípios tem o país.

Do mesmo modo, não sei quantos são os candidatos a um lugar nestas eleições autárquicas. Vários milhares, estou certo.

Destes milhares, muitos são os que aparecem aos eleitores em cartazes ou folhetos, afixados nos locais do costume, distribuídos de mão em mão ou colados nos locais mais insuspeitos. Mas todos eles têm uma coisa em comum: a fotografia do cabeça de lista. Por vezes acompanhados dos seus lugares-tenentes ou do líder partidário nacional.

Assim, serão uns milhares de retratos, corpo inteiro, busto ou meio corpo, feitos de propósito para este acto eleitoral. Todos eles feitos com o intuito de convencerem os eleitores.

Mais do que servirem de documento de identificação, ou de apresentação (este sou eu), mais que serem a interpretação do fotógrafo sobre o fotografado, estes retratos têm um objectivo específico: convencer o público das suas capacidades governativas.

Sendo que são tantos, de tantas formações partidárias e tão espalhados pelo país, certamente que não usaram um único fotógrafo. Terão sido os fotógrafos locais ou regionais, pagos ou voluntários por uma causa, que terão feito o trabalho. Cada um com a sua abordagem, cada um a querer agradar ao cliente no seu objectivo.

Será interessante comparar todos esses retratos. Na sua qualidade técnica mas, e principalmente, nas poses escolhias, na luz usada, no enquadramento pensando na arte final. Até mesmo nas cores do vestuário pensando nas cores do cartaz. Nas mensagens subliminares que ali estarão plasmadas na tentativa, quiçá fútil, de convencer os indecisos na sua opção de voto.

Não me lembrei de fazer este estudo atempadamente. Agora irei tarde para fazer uma recolha significativa.

Se por cá estiver daqui por quatro anos, e se disto me lembrar, acho que terei com que me entreter. E divertir, nas ligações ideológicas de cada retrato com o respectivo partido e zona do país.

 

Pentax K7, Tamron 18-200


By me

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Sobe e desce




Subi a uma colina e alimentei a alma.

Desci-a do outro lado, atravessei o vale e subi a outra colina. Cruzei o planalto e desci a encosta. Voltei a alimentar a alma, agora por duas vezes.

A cidade das sete colinas tem, por estas semanas, muito para nos mostrar em fotografia.

Entretanto cronos manifestou-se e a noite foi descendo.

Guardei as outras exposições para outros dias.

 

Pentax K7, Pentax-M 24 1:2,8

 

By me

Fotografando o fotógrafo




Ou, se preferirem, nas mesmas circunstâncias técnicas e abordagens diferentes.

 

Pentax K7, Pentax 18-55


By me

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

D'arquivo




O exemplo típico da “sopeira”, passe-se a expressão: trabalhou toda a vida como empregada doméstica, casou com um soldado que conheceu no Jardim da Estrela, enquanto passeava os filhos do patrão.
Toda a conversa surgiu por ter sido mais ou menos ali que conheceu o futuro marido, por ter sido mais ou menos ali que fizeram a primeira fotografia juntos… Mas tinha algum receio em fazer uma agora já que, e nas suas palavras:

“Sou feia! Agora sou feia! Mas quando era nova, valha-me Deus, não podia dar um passo fora de casa que não estivesse guardada! Olhe, até doutores de lei e de medicina namorei. Houve um – eu até gostava de ir à televisão contar a história ao Artur Agostinho – que era juiz de direito e não me largava.
Trabalhava eu na casa de uma patroa, ali em Campo de Ourique. Era ela e a filha, já mulher feita.
Uma vez, já ao fim do dia, diz-me a patroa para ir ali, à taberna, buscar vinho que já não havia para o jantar. Eu pus a garrafa num saco de pano e vim à rua. A taberna era como que daqui ali, umas quatro portas de distancia.
Mas do outro lado do passeio estava o juiz. Queria falar comigo, que eu fosse com ele e eu que não, que as patroas estavam à espera do vinho para o jantar. Mas tanto insistiu, tanto teimou, que acabámos por ir de eléctrico até à estrela. Está a ver: o eléctrico a andar devagar, as patroas à espera e nós à conversa. Foi o ir e o vir. Uma demora!
Quando voltei a casa, já com o vinho, ia cheia de medo da patroa. Mas lá inventei, fazendo-me de zangada, que na taberna não havia meio de me atenderem, que só estavam a ouvir o relato. E eu a querer o vinho e eles a ouvir o relato do Artur Agostinho. E eu sem saber se havia ou não jogo ou relato! Mas a filha lá me safou, dizendo em voz baixa para a mãe que sim, que estava a dar um relato na telefonia e que até tinha ouvido quando marcaram um golo.
Depois de lhes servir o jantar, vim espreitar devagarinho atrás das cortinas para a rua. O juiz ainda lá estava, ora olhando para as janelas, ora olhando para a porta, andando de um lado para o outro.
Sabe, depois fiquei a pensar e é que percebi. O que ele queria era que eu fosse despedida logo naquela noite para me por conta num quarto que já tinha alugado, ali à Graça. É que, naqueles tempos, nem um beijinho podíamos dar na rua. E ele sempre era um juiz, mais velho, casado e tudo!
Depois, já a trabalhar noutra patroa, acabei por encontrar o meu homem. Já morreu, coitado!
Agora estou feia. Mas naquele tempo, benza-me Deus, nem podia vir à rua!”

Este relato é fiel ao que ouvi. Tão fiel quanto o é possível, escrito umas duas horas depois de ouvido.
Mas enquanto vai escorrendo a tinta no papel, vou-me perguntando como o irei ilustrar. Tenho dela duas fotografias, uma à-lá-minuta, outra um retrato à minha maneira, com a reflex. Que, olhando para ela, ainda que com idade avançada, se lhe reconhecem nas feições e no corpo a beleza que tinha e tem, testemunho ainda iluminado do brilhante que foi na juventude. Acredito que de fazer parar o trânsito.
Mas sinto pudor em aqui e assim a exibir. Estas estórias de antanho, assim contadas a um estranho, fazem parte do seu tesoiro de vida. Que ela almeja contar no ecrã. Espero que o possa fazer, na primeira pessoa, que não serei eu que ligarei relato com rosto.
Fiquem apenas a saber que foi aqui que mo contou. Não importa quando!

By me

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Um clássico




Pentax K7, Sigma 70-300


By me

sábado, 13 de setembro de 2025

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

De bolso




Esta fotografia foi feita no âmbito de uma acção de formação e com uma câmara compacta, de bolso mesmo.
O objectivo não era fazer um retrato mas antes o como tirar partido da situação de contra luz em condições normais, no exterior.
Para além dos apitos que levei, os participantes foram convidados a fotografarem folhas e flores que encontravam naquele jardim, bem como pessoas, água, bancos, asfalto, candeeiros...
Espero que tenham percebido e interiorizado que o principal protagonista numa fotografia não é aquilo para onde apontamos a câmara mas a luz que naquilo incide. E como tirar partido disso, ignorando propositada e controladamente aquela “regra” que diz que o sol deve estar nas costas do fotógrafo.

Nikon Coolpix P7000


By me

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Um retrato




Sobre este retrato, algumas considerações.

Aconteceu a meu pedido e foi prontamente aceite. A única pergunta que lhe fiz foi o nome próprio, coisa que faço a todos que fotografo. Mas fui surpreendido com o nome completo, a naturalidade (distante), a sua condição económico-social-legal, muito para além do que me atreveria a perguntar. Foi um chorrilho de informação, como que numa necessidade imperiosa de afirmar “Ainda cá estou!”.

Do que ouvi retenho tudo menos o nome: João. Do resto, e porque não lhe disse que eventualmente seria do domínio público, guardo para mim. Talvez que, noutra ocasião o divulgue, mas garantidamente que sem que aconteça uma ligação retrato-relato.

Sobre o fazer da fotografia, uma dificuldade.

Quando surgiu a oportunidade de o fotografar tinha colocada na câmara a recém adquirida Pentax Super Takumar 200 1:4. Objectiva que ainda não me é bem familiar. Por outras palavras, ainda não antevejo com facilidade o que consigo fazer com ela. Entre outros aspectos, ainda me esqueço que a distância mínima de foco é de 2,5 metros. Por outro lado, foi uma daquelas ocasiões em que o só ver de um olho e ter dificuldade em calcular distâncias me atrapalhou um nico. O que me obrigou a ter que dar uns passos atrás não previstos até encontrar o ponto certo.

Por fim, um aspecto curioso. Apesar de termos conversado uns minutos antes do fotografar, a verdade é que éramos dois desconhecidos. E se para mim fotografar alguém me é familiar, para ele ser fotografado é algo incomum. Talvez não muito confortável. E isso nota-se. Não na expressão facial mas na posição do corpo.

Tal como a maioria das pessoas que têm algumas desconfiança no acto fotográfico, não assumiu uma posição frontal e franca para com a câmara, mas antes o ombro esquerdo ligeiramente avançado. Uma posição que, e a menos que se seja esquerdino, é assumida para se defender, já que lado direito fica para ripostar em caso de necessidade.

E acredito que o João tenha já tido muitas vezes que se defender e ripostar. De alguém em particular ou da sociedade em geral.

Fica um retrato de rua.

 

Pentax K1 mkII, Pentax Super Takumar 200 1:4



By me

terça-feira, 9 de setembro de 2025

A velhota




Por vezes há que levar as coisas ao limite ou quase.

Há mais de dois anos que andava com isto no horizonte. Não aparecia nenhuma que cumprisse alguns critérios, como proximidade, preço, estado de conservação, disponibilidade minha... agora foi o caso, ainda que nãos os cumprisse todos.

Em boa verdade, já dispunha de uma com a mesma distância focal e montagem: 200mm 1:4 e M42 (rosca). Mas trata-se de uma jupiter que, mesmo com a correção sugerida para aumento de contraste devido ao flare interno, nunca me convenceu. Tem estado ali, mais a um canto que em evidência e como não tenho o hábito de vender o equipamento que possuo, ali ficará. Mas deixando uma falha na panóplia nas câmaras e objectivas dos anos ‘60/’70. Agora apareceu o que eu queria mesmo: uma Super Takumar 200mm 1:4.

Em perfeitas condições estéticas e técnicas, com as tampas originais, o estojo próprio sem marcas nem manchas do tempo... quase que se poderia dizer que saída da fábrica.

Disse-me quem ma vendeu, pouco mais novo que eu, que é a última peça Pentax a vender das que herdou do pai, que era um aficionado pela fotografia e que cuidava do que tinha quase que como dos filhos. Sorte a minha.

Claro que quando nos afastámos tratei de fazeras primeiras fotografias com ela com uma câmara Full Frame que levava para o efeito (Pentax K1 mkII). A primeira coisa que sobressaiu foi o equilíbrio na mão. Apesar de ter a idade que tem, de uma época em que só se usavam vidros e metais, e pesar um pouco mais de meio quilo, nem a mão direita na câmara nem a mão esquerda a tratar de foco e abertura se queixaram nem deram sinal da idade da “novidade”. Como se sempre tivesse usado aquilo e feitas uma para a outra.

A isto acrescente-se que uma das vantagens desta marca sobre a concorrência é ter o estabilizador de imagem na câmara e não na objectiva, pelo que pude arriscar a descer a 1/80 de segundo confiante e com os resultados que aqui se veem.

E esta foi uma das que fiz nos limites: com diafragma de 5,6, a 1/80 de segundo, segura à mão e com o foco no limite mínimo: dois metros e meio.

A “velhota” portou-se como uma heroína, mostrando que apesar dos seus 60 anos ainda dá cartas a muitas que hoje por aí se encontram.

Principalmente se pensarmos que foi concebida numa época em que a resolução das películas de rolo rondava os 5,5 megapixels.

 

Pentax K1 mkII, Super Takumar 200 1:4

Truques




No desempenho do meu ofício, por mais de quarenta anos, demasiadas foram as vezes que fui obrigado a fazer enquadramentos de que discordava.
Ou eram as linhas, imaginárias ou reais, que não “batiam certo”, ou eram os equilíbrios de massas, cores ou luz que se desequilibravam, ou eram os centros de interesse que colidiam entre si ou antagonizavam com os anteriores ou posteriores...
Posso mesmo dizer que muitas foram as vezes em que fui obrigado a fazer más imagens porque assim me era pedido por quem podia ou decidia.
Claro que o conceito de bom e de mau é sempre subjectivo. A estética não tem regras, a comunicação visual tambem não. E numa disputa entre quem compra ou dirige e quem vende ou executa, a opinião ou gosto dos primeiros impera sobre os segundos.
Não tenho a veleidade de pensar que as minhas opiniões ou gostos são as “certas”. Mas são convergentes com a de muitos e bons profissionais com o mesmo ofício, com a de muitos e bons especialistas na comunicação visual, com a de muitos psicólogos, com os seus estudos de comportamento e reações a estímulos, com especialistas em semiotica. Visuais ou outros. Já nem falo do trabalho feito em cinema ou vídeo, ficção ou documental, em que cada enquadramento é delicioso de ser visto e cuja qualidade é aclamada pelos especialistas e pelo público. E este é o mais importante e decisivo juiz.
Mas pediam-me para fazer e eu tinha que cumprir ordens.
Descobri, entretanto, um truque que me permitia executar o meu trabalho sem que as vísceras se revoltassem em demasia.
Cumprindo ordens, imaginava um qualquer “enredo”, mesmo que absurdo, que justificasse o que e como estava dentro do retângulo. Algo como “Ele está à espera que lhe deem com um porrete na cabeça” ou “Ela vai-se sentar saltando pelas costas da cadeira”.
Com este fantástico na cabeça, fazia o que me pediam com muito mais facilidade e sem entrar em “histeria estético-comunicacional”.
Tendo descoberto este truque, passei a usá-lo com alunos, formandos ou outros: Chamando o autor de parte, e fazendo com que ele não visse o que havia feito, pedia-lhe que descrevesse a história que queria contar com a imagem que fizera. E, para além da descrição base, ia insistindo em mais detalhes na história até que ele (ou ela) criasse uma imagem mental detalhada do conjunto de elementos do enquadramento.
Nesse ponto, mostrava o que havia feito e perguntava se aquilo correspondia ao que me havia dito. E, se fosse preciso, assinalava as discrepâncias entre as duas versões: a materializada e a descrita. Era muito frequente que quem me ouvia fosse alterar o que havia feito para que imagem mental e imagem material se correspondessem. Por vezes bastava mudar de perspectiva meio metro, se tanto, para que obtivesse o que queria. Para os lados ou na vertical ou na proximidade ao assunto. Criavam-se novas linhas, conduzia-se o olhar de outra forma, os equilíbrios ajustavam-se...
Os bons, os muito bons, criadores de imagem, não precisam deste exercício de descrever o que querem contar. Olham, ajustam-se e já está sem mais delongas. Outros, igualmente bons, precisam de mais tempo e deambulam pelo local até que param porque sentem que é dali. Não pensaram, não racionalizaram, apenas fizeram coincidir aquilo que os olhos contavam com aquilo que a mente queria.
Aqueles, como eu, que não somos tão bons, precisamos de pensar. A sério. Em todas as envolventes na conjugação dos elementos reais ou implícitos. E muitas vezes falhamos porque a pressa de fazer o seguinte não nos dá o tempo necessário à maturação do produto final.
Ou não temos imaginação para mais.

Pentax K1 mkII, SMC Pentax DAL 80-200

By me

domingo, 7 de setembro de 2025

Não é todos os dias




Vinha cansado.

O dia correra-me mal, com um conjunto de coisas que deram para o torto e uma sensação de vazio. Não apenas não conseguira fazer o que queria como o que não esperava avariou, redundando em complicações domésticas. E sendo fim-de-semana, nenhuma solução no próprio dia.

Assim, atravessei meia cidade em busca de um restaurante: não teria que cozinhar nem lavar loiça, nem sequer que pensar no que ingeria, que esta é a vantagem dos franshising de restauração – todos iguais.

Mas precisava de um objecto em particular para ilustrar o sentimento de vazio: um balão. E, da imensidade de tralha inútil que tenho por casa, este não é um item que conste.

Foi assim que entrei numa loja de artigos festivos, ilusionismo e circenses, em busca de um balão. Bastava-me um, ainda que meia-dúzia não fossem demais. Sempre ficariam numa caixa de inutilidades desarrumada, das que abundam em casa.

No entanto, que horror! Pendurados no expositor, apenas sacos de cem balões. Para que quero eu uma centena de balões?!

E expus a questão ao jovem vendedor: “Basta-me um, um só!” E foi aqui que ganhei o dia!

Perguntando-me ele se só queria mesmo um e se seria de encher apenas ou de modelar, dirigiu-se a uma embalagem e, com as artes mágicas próprias da loja, retirou um sem a abrir. Entregou-mo e, com um sorriso, afirmou “Oferta da casa!”

Não sei se seria o meu ar de cansado, com as minhas longas barbas brancas e a minha pesada mochila num dos ombros. Não sei se pelo incomum do pedido. Não sei se seria um dia especial para ele. Mas a verdade é que, num centro comercial, numa loja de inutilidades e futilidades, me ofertaram um artigo em venda. Sem lucros ou mais-valias! Sem nada em troca que não fosse um sorriso!

O balão veio vazio, mas eu voltei a encher-me de fé nos homens. E, no lugar de ilustrar um artigo de frustração e neura, aqui fica num outro de positivismo e esperança.

Porque não sei quem terá ficado mais satisfeito com este pequeno episódio: se eu que o vivi, se ele por o ter provocado!

Pentax K100D, Pentax 18-55


By me

sábado, 6 de setembro de 2025

Dizem que não há amor como o primeiro




Há quase 50 anos comprei a minha primeira câmara SLR: uma pentax MX, acompanhada por uma 50mm 1:1,7. Uma escolha feita em função daquilo que o dinheiro disponível permitia e fruto da opinião de um mestre e amigo. Ainda a tenho.

Menos de um ano depois comprei a minha primeira objectiva adicional: esta Pentax-M 75-150mm 1:4. Ela não ficará ofendida se disser que não é uma objectiva de grande qualidade, mas fez tudo aquilo que dela quis e com ela comecei a minha actividade fotográfica remunerada. E fartou-se de trabalhar.

Com o passar dos tempos, outras escolhas e orçamentos surgiram e foi ficando para segundo plano mas sempre tão bem conservada quanto o possível. A ponto de, e se eu não estiver enganado, possuir ainda as trampas com que a comprei, apesar de ter muitas outras iguais ou equivalentes.

No projecto que agora tenho em mãos e que envolve todo o material que tenho, ela voltou a estar nas minhas mãos um bom pedaço de tempo, bem mais que apenas o mudar de local de arrumação ou limpeza.

E foi interessante o que senti e lembrei só por a ter manuseado por um bocado. Aquilo que vi através dela, caminhos que percorri com ela pendurada no ombro fixa ou não na câmara, o impacto que tinha junto de quem nada sabia do assunto ao olhar para ela comprida e orgulhosa...

Na segunda parte deste projecto que vou construindo ela será usada consciente e deliberadamente. Tal como todas as suas companheiras de prateleira ou mala. E vai ser divertido, mais que a usar, conversar com ela. E aprender com ela tudo o que ela tiver para me ensinar.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M macro 50 1:4


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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Um olhar sobre o olhar




Foi coisa que sempre tive pudor em fazer: fotografar um cego.
Como diabo se pede a alguém para fazer algo que não poderá saber o que é?
Já me é particularmente difícil fotografar alguém sem o seu conhecimento e consentimento. Para além das eventuais questões legais, que as há, sempre se me pôs a questão de, ao fazê-lo, estar abusivamente a entrar na intimidade do fotografado. Mesmo que na rua, mesmo que no meio de uma multidão, existe uma privacidade, um recato que há que respeitar.
Agora fotografar um cego? Não apenas se me afigura muito mais difícil, como nem sequer sei como lhe pedir para tal!

Esta questão, que sempre me incomodou um niquinho, tomou proporções bem maiores nas últimas trinta horas.
Nestes dois dias usei, para o regresso a casa, uma estação de caminho de ferro que nunca uso em início de tarde. E, curiosamente, em ambos os dias, dou comigo a auxiliar cegos, meio perdidos naquela confusão de uma grande estação, com inúmeras escadas e acessos. Auxiliei-os nas suas necessidades imediatas, bem como nas seguintes, acabando por os conduzir a pontos ou lugares bem para além ou ao lado dos meus próprios trajectos.
O que me permitiu manter alguma conversa com eles (dois homens ontem, uma senhora hoje) e que, em circunstâncias normais, poderia acabar com um retrato ou um “olhar”.
Mas, apesar desse contacto de quase uma hora cada, sempre estive com pudor em lhes propor semelhante coisa. Como diabo se lhes pode pedir para fazer uma coisa que eles mesmos não sabem o que é, nem virão a saber?

Se eu fosse pessoa para acreditar num destino pré-concebido, até poderia pensar que estas duas situações incomuns e fortuitas para mim, em dois dias consecutivos, seriam alguma premonição para o fazer. Mas não sei se, amanhã tropeçar noutro cego, terei a coragem ou o atrevimento para lho pedir.

E não! Na imagem não está um cego, ainda que use óculos para ver melhor. Apenas o olhar de um amigo que gostaria de ter agora por perto para lhe perguntar que faria ele nestas circunstâncias.

Pentax K7, Sigma 70-300

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Insónias




E que faz um tipo que acorda pouco depois das cinco da madrugada com uma insónia descomunal?

Depende de cada um, naturalmente.

Hoje, e porque estava com a calma própria de quem está conformado com a situação, fui fazer limpezas. No caso concreto, o despolido de uma câmara. Agora até dá gosto.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-M macro 100 1:4


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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Olhando apenas




Calmaria no cais

Pentax K7, SMC Takumar 28 1:3,5


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