Esta é uma piada/crítica que tenho usado com alunos e
formandos:
“Foste militar? Não!? É que até parece teres sido atirador
especial! O alvo sempre bem no meio da mira da arma.”
Isto a propósito de composições de imagem em que o centro de
interesse está colocado bem no meio do enquadramento, sem que exista um motivo
lógico para tal.
Dizemos nós, alguns profissionais de uma escola antiga, que
em torno de uma figura humana, tal com em torno de um objecto, existe ar. O
espaço que o rodeia. E nós, seres humanos e demais seres vivos, consideramos
uma intrusão se algo ou alguém se aproxima em demasia do nosso rosto. Ou do
nosso corpo.
Esse espaço ou ar que queremos respeitado é bem maior que o
queremos vazio nas nossas costas ou acima da nossa cabeça. Tal como um objecto.
Uma cadeira tem como espaço próprio, na sequência da sua utilização, o que lhe
fica à frente ou acima. Porque ninguém se senta passando uma perna por cima das
costas de uma cadeira. Pelo menos em condições normais.
Donde, e a menos que queiramos provocar algum tipo de
sentimento de suspense ou incómodo em quem observa as imagens que produzimos,
convém deixar esse espaço próprio respeitado. Com mais ar à frente do rosto
e/ou do corpo que atrás ou acima. A menos, claro, que ambos se confrontem de
frente para a objectiva e, neste caso, dependerá do que mais houver em seu
redor.
Costumo argumentar que a figura humana possui dois vectores
primordiais: um que lhe sai do rosto, outro que lhe sai do tronco. O primeiro
alinhado com o nariz, o segundo perpendicular ao peito.
A gestão de espaço, ou ar, será o vector resultante da soma destes
dois. Não apenas para provocar conforto (ou, quebrando isto, desconforto) como
para sugerir movimento. Isto porque, regra geral, os humanos encontram-se com ambos
os vectores sobrepostos. Em não estando alinhados, haverá equilibrar a
resultante dessa soma.
O modo como mostramos o espaço circundante de seres vivos ou
inanimados influi enormemente na forma como o público reage ao que vê. E nós,
produtores de imagem para com ela comunicarmos, temos que saber como o público
reage para o conduzir à leitura que queremos que tenha.
Vem tudo isto, quase que um desabafo desregrado e
mal-amanhado, na sequência de uma fotografias que vi. Conheço quem as fez e sei
como bem domina a técnica da iluminação e do tratamento posterior no
computador. E sei quem lhe deu a formação técnica, que é um mestre na matéria.
Mas, valha-nos deus! Do ponto de vista de composição de imagem parece ter tido a
especialidade de sniper, de tal modo que coloca tudo bem ao meio da imagem,
seja qual for a orientação do rosto ou do corpo. Ou, as mais das vezes,
ignorando o “ar” que o corpo pede, preocupando-se apenas com o rosto. E este
bem centrado na fotografia.
Quando compomos uma imagem, não nos devemos ater em
exclusivo ao rosto e à direcção do olhar, tal como não devemos considerar que a
“regra dos terços”, sucedâneo da proporção dourada, é regra absoluta e
inviolável. O equilíbrio dos elementos e dos seus significados (naturais ou
interpretativos) é tão ou mais importante que as matemáticas rigorosas aplicadas
à estética.
Na imagem, já com uns anos valentes e feita em ambiente
natural, a conjugação de duas técnicas: o procurar o equilíbrio entre os tais
dois vectores (rosto e tronco) e a tal luz vinda de trás de que tanto gosto.
Os meus dois cêntimos e desculpem ter-me alongado.
By me
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