terça-feira, 30 de novembro de 2021

Leituras (outras)




Era noutros tempos. Em boa verdade, em tempos de má memória.

Mas, mesmo nesses tempos, muito se aprendia e muito serviu de base ao que somos hoje. Ainda que nem sempre da melhor maneira.

Uma das coisas que se consumiam em minha casa eram jornais. Não muitos, que o dinheiro não abundava. Não muitos, que a maioria das notícias chegavam-nos após o lápis azul da censura. Mas alguns.

E, durante algum tempo, o Diário de Lisboa fazia a sua aparição em casa regularmente aos sábados.

E se outro motivo não houvesse, as crónicas da “Guidinha”, de Luís de Sttau Monteiro eram lidas com sofreguidão.

Aprendi a lê-las com os adultos. Aquela forma de escrita, sem pontuação alguma que não fosse o ponto final no fim da crónica, era algo que atrapalhava qualquer um a ler.

Mas foi também com isso que aprendi a ler nas entrelinhas, que aprendi o que era a interpretação de um texto para teatro, o que eram outras vidas e censuras que não as do meu próprio bairro e escola.

Os meus professores de Português não gostavam, quando lhes apresentava redacções com as ideias tão intercaladas, tão baralhadas, que poderiam ter mais que uma leitura. E tinham! Excepto uma professora, de quem eu não gostava nem um nico, mas que ficava a olhar p’ra mim meio de lado e com um muito ligeiro sorriso.

Não creio que aquela escrita ou estilo hoje tivesse o sucesso que teve então. Já não há que esconder ideias de censores absurdos, os jornais já não são consumidos da forma que eram e a própria leitura está a perder terreno face às tecnologias de informação.

Mas parar para pensar perante um texto, tentar descobrir-lhe o escondido, rirmo-nos daquilo que não podemos contar fora de portas…

Outros tempos!

 

Surge esta memória a propósito de um pequeno diálogo tido on-line com alguém que teve a sorte de já não ter que recorrer a esta forma saber as notícias.

No meio de tudo isto, a minha tristeza é nem desconfiar do local onde tenho guardado o livro que re-editou algumas dessas crónicas.

Fica a imagem da capa, palmada da net.


By me

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Aventuras e desventuras de um migrante fotográfico.



 

Certo! O ter agora nas mãos um câmara Full Frame faz com queira tirar partido de tudo o que com isso se relacione e que tenha em casa. É que, ao longo dos anos tenho vindo a juntar alguma coisa. Objectivas fixas (ou primárias) e algumas zoom. Nem sempre da melhor qualidade ou estado de conservação, mas se forem baratinhas tenho dificuldade de resistir.

Desta feita caiu a escolha numa Soligor 200mm f/3,5.

Para quem não saiba, em tempos recuados os fabricantes autónomos de objectivas construíam todo todo o sistema óptico de base (lentes, sistema de focagem, diafragma...) e colocavam-nas no mercado sem que, de per si, pudessem ser usadas. Era necessário acrescentar um anel dedicado à marca de câmara que se usava, anel este que tinhas as dimensões, os encaixes (mont) e as transmissões mecânicas necessárias para bem trabalhar. Existiam vários fabricantes e vários tipos de anel.

Esta objectiva é uma T4.

Construção metálica, que os plásticos na fotografia ainda eram futuro (falamos de 1973), lentes de vidro pelos mesmos motivos, é pesada pelos padrões de hoje. Mas dá conforto na mão, saber que o que ali está é sólido, quase material de guerra.

Um dos meus prazeres, e já aqui dele falei, é olhar para um assunto e decidir qual o ângulo de visão que irei usar. Ou a distância focal.

Nos tempos que correm, e com a proliferação das objectivas zoom, esse problema não se pôe: basta apontar a câmara e rodar o anel ou carregar no botão. E o enquadramento fica feito, incluindo e excluindo o que se quer. Com o acréscimo de mais tarde, no editor de imagem, se ajeitar a coisa, desde os cortes aos nivelamentos. Ou convergências de linhas, no caso de perspectivas muito próximas.

Mas trabalhar com focais fixas implica bem conhecer os ângulos disponíveis  e usar a ”zoom a dois tempos” que possuimos: pé direito e pé esquerdo. Ficou-me esse hábito ou gosto dos tempos da película, em que fotografar com diapositivo, vulgo “slide”, quase que impossibiltava essas correcções posteriores, a menos que se imprimissem as imagens.

Fiquei satisfeito comigo. Sendo que trazia na mochila uma 28, uma 50, uma 135 e uma 200, do local onde decidi fotografar não tive dúvidas: 200 na Full Frame. E o que aqui vêdes é aquilo que resultou na câmara, se excluirmos que gosto de imagens assumidamente horizontais e enquadro sempre a pensar que parte do que registo em cima e em baixo será para retirar.

 

Ferramentas novas ou ligeiramente diferentes implicam adaptações. Algumas profundas. Tanto no manuseio, naquilo que temos por automático, como na forma de ver e pensar. Até porque é isto, ver e pensar, que é a fotografia. O resto são os detalhes que a concretizam.


By me

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Teatro da boneca, de Carlos Queirós




A menina tinha os cabelos louros.
A boneca também.
A menina tinha os olhos castanhos.
Os da boneca eram azuis.
A menina gostava loucamente da boneca
A boneca ninguém sabe se gostava da menina.
Mas a menina morreu.
A boneca ficou.
Agora já ninguém sabe se a menina gosta da boneca.

E a boneca não cabe em nenhuma gaveta.
A boneca abre as tampas de todas as malas.
A boneca é maior que a presença de todas as coisas.
A boneca está em toda a parte.
A boneca enche a casa toda.

É preciso esconder a boneca.
É preciso que a boneca desapareça para sempre.
É preciso matar, é preciso enterrar a boneca.
A boneca.

A boneca.

Imagem by me

domingo, 21 de novembro de 2021

Exercício




Costumo propor um exercício a alunos ou aprendizes nestas coisas da fotografia:

Todos os dias, em saindo de casa, fazer uma fotografia.

Dentro do prédio, já na rua, do outro lado desta... desde que faça uma é quanto basta.

Tem isto objectivos múltiplos: não apenas pratica o olhar e a mente como, e porque repete o local dia após dia, acaba por aprender a procurar outras perspectivas sobre um mesmo assunto já conhecido.

Agora convenhamos que não faz sentido propor um exercício que nós mesmos não o façamos ou possamos fazer. Pelo menos para mim não faz sentido.

Por isso, volta e meia, passo uns dias a praticar: ao sair de casa, uma fotografia. Tentando não me repetir no assunto ou na abordagem.

Este é um exemplo, sem mais para contar que uma fotografia do que vi ao sair de casa.


By me

Não doi

 


By me

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Aventuras e desventuras de um migrante fotográfico



 

Lembram-se do filme “O fabuloso destino de Amélie” e quando ela encontra um tesoiro de uma criança escondido numa lata atrás de um rodapé?

Foi mais ou menos o que eu senti quando encontrei esta velha lata de lubrificante industrial (por aquilo que pesquisei, datando do anos ’60 do séc. XX) num murete, reforçado em altura por uma rede já bem ferrugenta, que ladeia uma velha fábrica há muito desactivada e em ruinas.

Não resisti e veio comigo, não sem antes ter feito o registo do objecto insólito, em que e como os meus olhos se prenderam.

E prenderam-se porque, caminhando sem pressas depois de ter feito o que me havia proposto, procurava onde fazer a segunda tarefa do dia: fotografar.

Mas não fotografar de qualquer jeito!

Sendo que tenho agora uma câmara Full Frame, seria parvoíce minha não tirar partido de todo o sensor. Para tal, tenho que recorrer a objectivas antigas, que fui juntando ao longo dos tempos, que as mais novas que possuo são para APS-C.

No caso e neste dia, recorri a uma que há muito estava encostada: Tokina 35-135, f/4-4,5, de meados dos anos ’70 do séc. XX. Com “macro”, que funciona de um modo estranho, mas funciona.

Tinha-a encostada porque nunca tinha gostado muito dela. Nem muito aberta, nem muito tele, muito fechada para algumas das minhas preferências, pouco potente para outras. Por isso nunca adquiri uma 35mm, pese embora devesse.

Mas, e por saber que deveria dominar esta distância focal e respectivo ângulo de visão em FF, saí com ela, com o firme propósito de só a usar com esse ajuste. Claro que não fotografei só assim, que sou guloso por coisas fotografadas com ângulos fechados.

Sendo uma zoom antiga, sem conectividades eléctricas, a cada distância focal haverá que calibrar a câmara para o respectivo valor, se quisermos tirar partido do estabilizador de imagem.

O que faz com que alteremos a sequência de procedimentos, mas é uma questão de hábito. Coisa que já tinha que fazer na Pentax K7 e na K100D, mas como não usava esta e outras semelhantes não sentia essa “dificuldade”.

Claro que, depois de anos a fotografar em APS-C, tenho uma noção razoável de qual o ângulo a usar e a respectiva objectiva ou ajuste de zoom.

Agora, em FF, tenho que rever conceitos, “mudar o chip” e recalibrar o olhar para, em querendo um determinado enquadramento de um assunto e com determinada perspectiva, saber qual a distância focal a usar. E é um exercício engraçado palpitar antes de pegar na câmara e verificar se acertei.

 

By me

Atirador especial




Esta é uma piada/crítica que tenho usado com alunos e formandos:

“Foste militar? Não!? É que até parece teres sido atirador especial! O alvo sempre bem no meio da mira da arma.”

Isto a propósito de composições de imagem em que o centro de interesse está colocado bem no meio do enquadramento, sem que exista um motivo lógico para tal.

Dizemos nós, alguns profissionais de uma escola antiga, que em torno de uma figura humana, tal com em torno de um objecto, existe ar. O espaço que o rodeia. E nós, seres humanos e demais seres vivos, consideramos uma intrusão se algo ou alguém se aproxima em demasia do nosso rosto. Ou do nosso corpo.

Esse espaço ou ar que queremos respeitado é bem maior que o queremos vazio nas nossas costas ou acima da nossa cabeça. Tal como um objecto. Uma cadeira tem como espaço próprio, na sequência da sua utilização, o que lhe fica à frente ou acima. Porque ninguém se senta passando uma perna por cima das costas de uma cadeira. Pelo menos em condições normais.

Donde, e a menos que queiramos provocar algum tipo de sentimento de suspense ou incómodo em quem observa as imagens que produzimos, convém deixar esse espaço próprio respeitado. Com mais ar à frente do rosto e/ou do corpo que atrás ou acima. A menos, claro, que ambos se confrontem de frente para a objectiva e, neste caso, dependerá do que mais houver em seu redor.

Costumo argumentar que a figura humana possui dois vectores primordiais: um que lhe sai do rosto, outro que lhe sai do tronco. O primeiro alinhado com o nariz, o segundo perpendicular ao peito.

A gestão de espaço, ou ar, será o vector resultante da soma destes dois. Não apenas para provocar conforto (ou, quebrando isto, desconforto) como para sugerir movimento. Isto porque, regra geral, os humanos encontram-se com ambos os vectores sobrepostos. Em não estando alinhados, haverá equilibrar a resultante dessa soma.

O modo como mostramos o espaço circundante de seres vivos ou inanimados influi enormemente na forma como o público reage ao que vê. E nós, produtores de imagem para com ela comunicarmos, temos que saber como o público reage para o conduzir à leitura que queremos que tenha.

 

Vem tudo isto, quase que um desabafo desregrado e mal-amanhado, na sequência de uma fotografias que vi. Conheço quem as fez e sei como bem domina a técnica da iluminação e do tratamento posterior no computador. E sei quem lhe deu a formação técnica, que é um mestre na matéria. Mas, valha-nos deus! Do ponto de vista de composição de imagem parece ter tido a especialidade de sniper, de tal modo que coloca tudo bem ao meio da imagem, seja qual for a orientação do rosto ou do corpo. Ou, as mais das vezes, ignorando o “ar” que o corpo pede, preocupando-se apenas com o rosto. E este bem centrado na fotografia.

Quando compomos uma imagem, não nos devemos ater em exclusivo ao rosto e à direcção do olhar, tal como não devemos considerar que a “regra dos terços”, sucedâneo da proporção dourada, é regra absoluta e inviolável. O equilíbrio dos elementos e dos seus significados (naturais ou interpretativos) é tão ou mais importante que as matemáticas rigorosas aplicadas à estética.

 

Na imagem, já com uns anos valentes e feita em ambiente natural, a conjugação de duas técnicas: o procurar o equilíbrio entre os tais dois vectores (rosto e tronco) e a tal luz vinda de trás de que tanto gosto.

Os meus dois cêntimos e desculpem ter-me alongado.


By me

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Fedon




Processo de representação gráfica efémero, pelo menos efémero enquanto popular, foi o da miniatura.
Em medalhões, broches, tampas de relógios e mesmo em anéis, os abastados ou não tanto traziam consigo a imagem de quem gostavam ou diziam gostar.
Em desenho de traço ou silhueta, pintada ou gravada em laca, esmalte ou prata, foi o antecessor da fotografia no que toca ao retrato portátil.
A sua divulgação surge nos finais do séc. XVIII e foi rapidamente ofuscada pelo novo processo - a fotografia – supostamente fiel e muito iconográfico. E mais barato.
Depois das primeiras experiências e invenções, bastava ser rigoroso quanto à aplicação das técnicas e fórmulas que satisfizesse e surpreendesse o cliente. E orgulhoso possuidor. E exibidor! E admirador!
Nos tempos que correm as miniaturas voltaram a ser populares.
Mas, ao invés de estarem gravadas num medalhão ou escondidas na tampa traseira de um relógio de bolso, estão gravadas electricamente nos bites e bytes das mini câmaras fotográficas, nos discos rígidos ou nas memórias dos telemóveis.
O ritual antigo de puxar por um fio de ouro e extrair pudicamente de dentro do colo feminino a imagem, ou o abrir a carteira de dentro da bolsa ou bolso e desdobrar o porta-fotografias de plástico ou, mais remotamente, de mica, morreu!
Hoje, saca-se do telele, liga-se o ecran e aí estão elas, as fotografias da namorada/o, rebentos ou netos. E se aceitar as fotografias à distância, aceder a uma qualquer rede social ou nuvem.
Claro está que os telemóveis são roubáveis, os cartões de memória perdíveis entre o prato de carne e a sobremesa e os servidores de dados podem avariar-se. Mas são cópias as imagens – pelo menos espero que o sejam. Não é grave! Haverá sempre a possibilidade de as copiar de novo, de criar novos ícones em tudo idênticos aos primeiros pelo simples processo de copy/past ou send.
Mas, no meio de toda esta tecnologia, nestas transferências energéticas de um integrado para outro, onde ficam os afectos?
A um óleo, pastel, miniatura esmaltada ou papel fotográfico, é possível atribuir valores afectivos simbólicos. Esta folha de papel representa aquela pessoa. São únicos: a pessoa e o seu significante!
A matéria de suporte da imagem assume e fica impregnada de carinhos e dedadas. As tonalidades, os tamanhos e as texturas tornam-se tão íntimas quanto o corpo da pessoa amada.
E quando o suporte não existe de facto?
Quando a sua existência depende de um click e a energia se transforma noutra coisa qualquer?
Quando é repetível até ao infinito, sem que se perca um só detalhe ou electrão?
Serão os afectos também repetíveis?
Ou deletáveis?
É possível fazer copy/past de um sentimento? De um amor ou de um ódio? De um carinho ou afago?

Nesta sociedade de informação onde a imagem é rainha, não será que a sua super-abundância e facilidade de processamento e repetição um extinguir da sua importância?

By me

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Aventuras e desventuras de um migrante fotográfico



 

Um fim de dia, no complexo laboral, sem tarefa atribuída e brincando com brinquedo novo.

O que se torna complicado, depois de anos e anos a os dedos irem, sem olhar, a funções e botões, é ensiná-los a irem a outros pontos do mesmo volume que tem nas mãos.

Acredito que o fabricante, ao alterar a ergonomia de um modelo para outro, tenha seguido sugestões de utilizadores frequentes e sabedores. Até dou de barato que as alterações sejam para melhor, se pensar bem na coisa.

Mas o primeiro impacto é um tudo-ou-nada de desconforto, obrigando a pensar naquilo que tínhamos por automático.


By me

domingo, 14 de novembro de 2021

Aventuras e desventuras de um migrante fotográfico



 

Fotografo desde há muito em suporte digital. Sem nunca ter deixado o sistema foto-químico, desde a minha primeira digital que fiquei rendido ao laboratório a seco que é um computador, à rapidez com que isso acontece, ao imediatismo do resultado.

Quando entrei nos sistemas reflex digitais, a opção foi pela Pentax. Não apenas é de confiança e qualidade como todo o material que nessa altura possuía era dessa marca. E um dos seus trunfos era, e é, a retrocompatibilidade. Não me apetecia, nem podia, mudar de sistema.

A primeira destas foi uma K100D. Pequena e simpática, como todas as suas primas, fotografa em formato APS-C. Tem a vantagem, para as objectivas anteriores, de o resultado ser de as transformar em “mais potentes”, devido ao factor “crop” de 1,5. Claro que a desvantagem foi e é que as antigas grande-angular também ficaram mais potentes, perdendo a possibilidade de usar esse tipo de visão. A clássica e de entrada 18-55 fez a festa.

Mais tarde dei o salto e adquiri uma K7. Mais resolução e melhor qualidade na imagem obtida, mais e menor sensibilidade ao mesmo tempo, baterias fiáveis, obturador mecânico,… Vantagens várias e óbvias. Mantendo o APS-C.

Acontece que, das muitas manias que tenho, o pára-sol é uma delas. Evita os flares, mantém o contraste e protege o elemento frontal das agressões e das intempéries.

Mas, tendo diminuído os ângulos de visão das objectivas antigas, os respectivos pára-sol ficaram “curtos” e podiam ser melhorados na sua função. Não tem muito que saber e tratei de os ir convertendo, mudando-os de umas para outras de acordo com os ângulos úteis. E procurando por outros nas lojas mais antigas, que os pára-sol tipo pétala das modernas não apenas são de plástico como não funcionam bem em objectivas cujo elemento frontal gire quando actuamos no foco. Detalhes!

Agora tenho uma “Full Frame”. Que também trabalha com o formato APS-C, mas de que quero usar todo o sensor.

Isto implica recorrer às velhinhas, do tempo da película. Que as modernas, para APS-C não cobrem todo o sensor. O que fiz e estou a fazer, esquecendo um detalhe importante: o pára-sol.

Montados que estavam e ajustados a um sensor menor, vinhetam nos cantos em FF. Dependendo da distância focal, da distância de foco e da abertura de diafragma, assim é mais ou menos notório o quanto os cantos escurecem.

Um incómodo, dirão a maioria de vós. Tal como eu! Haverá que reformular toda a panóplia de pára-sol que tenho e verificar, de cada vez que mudar da K1 para a K7 qual o pára-sol a usar. Ou não!

Na prática, na minha prática, raramente uso o enquadramento original que a câmara fornece. Gosto e uso formatos assumidamente horizontais, com proporções variáveis em função dos assuntos registados. Faço-o há tanto tempo que, ao fotografar, sei o quanto e como irei corrigir no editor de imagem. Isso significa, em princípio, que os cantos são eliminados da imagem final. Logo, essa vinhetagem será inconsequente, espero eu.

Enquanto não tomar uma decisão final e absoluta sobre a matéria, sei que irei ter alguns desaires. Que serão aprendizagens, algumas talvez amargas.

Mas quando eu disser “Já sei tudo” podem pregar a tampa do caixão, porque estarei morto!

Esta é uma imagem em que a edição posterior para re-enquadrar me salvou da vinhetagem.


By me

Brinquedo novo




Não é a ferramenta que faz o mestre.
E estou curioso sobre o conseguirei fazer com esta camara.
Quanto à objectiva, não tem muito que saber: tem quase meio século mas isso não lhe retira nem um grama de qualidade.
Uma das vantagens da Pentax é que sempre se preocupou com a retro-compatibilidade. Qualquer objectiva que alguma vez tenha trabalhado numa câmara desta marca continua a trabalhar hoje.
Assim eu tenha mãos para este corpo e a panóplia de objectivas que tenho.

By me

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Fotografia




Num solstício de verão saiu-me isto. Vale o que vale e é irrepetível! Pela data, pelo local, pelo assunto, por mim.

E, sobre se as fotografias podem ou não ser repetidas, um episódio curioso:

Há coisa de uma trintena de anos, decidiu um compincha e amigo repetir um conjunto de fotografias de família, feitas numa velha quinta de família abandonada.

Fizemos o reconhecimento das ruínas do local, identificámos as horas do dia dos originais, dividimos estas em dois grupos e foi cada um de nós fazer a sua parte.

Enquanto almoçávamos, a meio do trabalho, comentámos que nos doía as costas. A ambos. Estranhámos e discorremos sobre a estranha coincidência. Acabámos por perceber que estávamos a fotografar muito curvados. Nem de pé, nem de joelhos, nem de cócoras: muito curvados apenas. Levámos tempo a perceber o motivo.

As câmaras usadas nos originais, ao longo de mais de um século, eram usadas ao nível do peito, olhando de cima o visor. Mesmo os originais em chapa de vidro, em que as câmaras de madeira em tripé eram colocadas mais ou menos a essa altura. E nós, que queríamos reproduzir as perspectivas com o máximo rigor, acabávamos por estar, com as nossas câmaras modernas, numa posição estranha.

Uma das características da fotografia, mais ainda com o digital, é a possibilidade de se fazerem cópias. Tantas quantas quisermos. Iguais em todos os detalhes.

Mas o acto criativo, aquele instante da obturação, previamente pensado e estudado ou feito por instinto… Esse não se repete!

Tal como esta fotografia.


By me

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Fotografia




Fotografia: Etimológicamente, do grego φς [fós] ("luz") e γραφίς [grafis] ("instrumento para escrever, gravar, desenhar ou pintar") ou γραφή [grafé] (“escrita”), significa "desenhar com luz".

Assim sendo, o que aqui se vê é uma fotografia do acto de fotografar.

Acessoriamente é, “grosso modo”, o início de como demonstro sem recorrer a fórmulas ou desenhos, e de preferência ao ar livre, o como se forma uma imagem numa câmara fotográfica:

Um sistema permeável à luz que lhe altera o percurso e forma uma imagem num alvo no interior da câmara. Excepto em circunstâncias especiais, esta imagem será sempre real, invertida e menor que o objecto. O tamanho da imagem depende do poder convergente do sistema (lente ou objectiva) e das distâncias conjugadas assunto-sistema-alvo.

Para quem eventualmente tiver o desplante de duvidar do que aqui digo, conto-vos que esta esta lupa, montada num tubo de comprimento variável, já produziu fotografias, algumas das quais já por aqui mostrei.


By me

Perspectivas




Descobri, num artigo de jornal estrangeiro, que foi publicado um livro que me interessa.
De um autor de cujo trabalho gosto, de quem possuo alguns trabalhos e que o que dele for novidade quero conhecer.
Que é bom ler trabalhos de gente com quem concordamos e que nos acrescentam algo.
Procurei pelo livro por cá e constatei que ainda não chegou. Nem chegou a edição original, em castelhano, nem há ainda uma tradução para português.
É provável que um destes dias passe por uma livraria que cá sei e lhes encomende a obra.
No entanto…
No entanto há pouco no banho, e pensando no assunto, dei comigo a concluir que não tenho pressa alguma no livro. Aliás, que é um pouco absurdo ir em busca dele. Pelo menos do meu ponto de vista.
Que o que importa não são os autores ou pensamentos que conhecemos e concordamos. Apesar de assim parecer, ao fim de algum tempo lê-los é inútil ou, no mínimo, uma redundância.
O importante mesmo é conhecermos gente que desconhecemos, pensamentos que ainda não vislumbrámos, pontos de vista que nunca nos atrevemos a explorar e que, quiçá, sempre considerámos antagónicos.
Porque é no diferente, no desconhecido, no antagonismo saudável, que vamos mais longe e construímos algo de novo. Ficarmo-nos por aqueles com quem concordamos, que já conhecemos e que não nos surpreendem… É reconfortante, alimenta-nos o ego, mas é pouco profícuo.
Em tendo oportunidade procurarei esse novo livro.

Até lá procurarei a diversidade do pensar e fazer.

By me

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Assimetrias simétricas



 

Não é de todo importante o que é isto. Não é de todo importante a função deste objecto. Importou-me, antes sim, a forma. O jogo de luz e sombra e respectivos contrastes, a aparente falta de simetria, a total falta de profundidade de foco.

Ajudou-me, e muito, o saber que no editor de imagem, tal como nos tempos dos químicos e dos ampliadores, poderia obter com mais rigor aquilo que queria. Não tentar o obter qualquer coisa que se visse mas conseguir obter aquilo que havia visto.

Por vezes o tédio quase mortal leva-nos a fazer coisas destas. O estarmos tão desencantados com o que factualmente nos cerca (lugares, pessoas ou situações) faz com que procuremos algo de confortável, algo que nos “afaste” daquilo e que nos leve a um ponto de equilíbrio interior, antes do descalabro total.

A utilidade de uma fotografia não tem que ser obrigatoriamente o comunicar com os demais. Pode ser (ou deve ser antes de mais) um comunicar connosco, um obter satisfação no que conseguimos com as ferramentas e mãos que possuímos. E olhares. E mentes. Um conseguirmos fazer aquilo a que nos propomos, bem para além das opiniões mais ou menos importantes que possamos vir a receber.

Um dos meus desafios íntimos é não fazer rascunhos. Vejo, tomo decisões técnicas e estéticas e primo o botão antevendo o resultado final e o que terei que fazer depois da obturação para o conseguir.

E cada uma das minhas vitórias é antecedida de um sem número de derrotas.

Como disse alguém, um mestre na arte de fotografar, “Um ano em que faça doze boas fotografias é um bom ano”.


By me

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Perguntas e respostas




Foi uma das perguntas que mais fiz a aprendizes do ofício de produzir e comunicar com a imagem:
“Que história ou estória me queres contar com isto?”
Dependendo da idade, do estádio de conhecimento e do âmbito da formação, por vezes acrescentava:
“Não me respondas agora. Encosta-te sem olhar para ela e escreve a resposta. Depois volta cá com o conjunto.”
Tenho para mim que é importante, muito importante, saber o que se quer contar. Ou, pelo menos, sermos capazes de encontrar uma explicação posterior, mesmo que ao fazermos a imagem não tenhamos pensado nisso.
Uma das respostas à minha pergunta pode ser: “Não quero contar nada, fiz isso porque me apeteceu.” E é legítima a resposta. Mas há que a dar. Conscientemente.
Em seguida conversamos sobre a imagem e sobre o como os demais a podem interpretar. Que elações pode o público tirar daquela imagem, pensando na cultura ancestral, na cultura do momento, nas influências próximas, no contexto é que é acedida…
Depois disto, quero que o autor me diga, com a autoridade de quem criou algo, se quer usar aquela ou qualquer outra.

A sua reposta tem valor de lei.


By me

sábado, 6 de novembro de 2021

Liberdade?




Liberdade, Igualdade, Fraternidade!

Foi com este grito ou lema que a Revolução Francesa se impôs e, com ele, mudou o mundo.

Infelizmente a França parece ter esquecido este princípio, ao proibir vestimentas de cariz religioso às mulheres que seguem o Islão.

Impor qualquer código de vestuário é errado. Proibi-lo também.

E se um qualquer país se intitula laico, deixando a religião de fora da gestão da coisa pública, deveria deixar que o cariz religioso de cada um se manifeste, desde que não seja forçado ou que force alguém a segui-lo. Num país ou numa união de países.

Mas a França do “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” há muito que está extinta!


Imagem: edit by me

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Mil palavras




Já lá vão uns anos valentes (mais de trinta) e a irmã de um colega e amigo andava então no 8º ano (seria 9º?).
Levada pelo entusiasmo que via nele e nalguns amigos, quis frequentar as então chamadas “actividades extra-curriculares”, no caso fotografia.
Mas vinha de lá bem frustrada, que os professores que tinha, apesar da boa vontade, pouco sabiam da coisa.
Conversa vai, conversa vem e dei comigo a combinar com eles um conjunto de sessões com a turma.
Seis sessões de duas horas, das quais uma prática, onde, e para além do domínio do equipamento, se falaria de estética e de semiótica.

Para uma primeira experiência lectiva da minha parte, a coisa até que nem correu muito mal. As idades variavam dos 13 aos 17 anos, a câmaras de cada um eram do mais díspar possível, trazidas de casa com especiais recomendações paternas, mas o entusiasmo e a vontade de aprender superava tudo.
A penúltima sessão foi a prática. Engendrei exercícios vários sobre perspectiva, gestão do espaço, exposição e assunto, a executar nas imediações da escola (Reboleira) numa espécie de “raly-papper fotográfico”, e dividimos a turma em dois grupos. Evitava-se assim a “molhada”, permitindo um maior rendimento e concentração. Eu acompanhei um, os outros dois professores o outro. Na sessão seguinte, depois de revelados e impressos, seriam comentados. A avaliação, devido à escassez de tempo e aos objectivos do trabalho, seria em grupo, feita por eles.
A coisa correu como o previsto, mais ou menos.
O que eu não previa, de forma alguma, era a surpresa final.
Já por alturas das despedidas, foi-me entregue solenemente um embrulho.
No seu interior, esta fotografia nesta moldura.
Era uma fotografia feita pelo grupo que eu não tinha acompanhado, oferecida como recompensa da minha presença (a minha ida lá tinha sido “de borla”).
O vigor, a alegria e o grito à liberdade desta imagem e o facto de a terem feito, escolhido e tratado para ma darem tornou-a imensamente mais valiosa que qualquer pagamento em dinheiro que pudesse ter recebido.

O vidro original já sofreu uns desaires e a luz já reduziu um pouco o contraste original. Mas das raras fotografias que tenho expostas aqui em casa, esta estará sempre em lugar de destaque!


Uma imagem vale mais que mil palavras!

By me

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

A noite




O que me levou a fazer esta fotografia? Nem eu sei bem!

Talvez que aquele conceito em que a noite quando cai é para todos.

Talvez que a surpresa de ver estes fios dependurados lá no alto e o mistério do motivo de ali estarem.

Talvez que aquela frase em que “A noite é dos poetas, das putas e dos que morrem de amor”.

Talvez porque, horas antes, não consegui registar o céu plúmbeo com um primeiro plano fortemente batido pelo sol e isto ser o seu oposto.

Talvez porque no meu deambular durante o dia nada senti, do muito que vi, que me prendesse o olhar.

Talvez porque fotografar não seja o registar o que está à frente da câmara mas o que está atrás dela.

Talvez…


By me

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Velhas frases

Vou acompanhando, não muito de perto, as guerras intestinas que decorrem no interior dos partidos de direita.

Só me apetece dizer aquele velha frase de estudante liceal:

“Mais porrada e menos barulho!”


By me

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Irrepetível




A fotografia funciona como uma tesoira:
Com o seu enquadramento, recorta de um continuo espaço/tempo um pedaço de ambos.
Tal como Prometeu roubou o fogo a Zeus, também o fotógrafo rouba um nico do tempo e do espaço, aprisionando-os entre quatro paredes.

É por isso mesmo que um fotógrafo que o seja não consegue deixar de fotografar: apercebe-se de quão fútil é a sua tentativa, sendo a vida e o universo o que são. E procura, com a multiplicidade dos seus registos, reconstruir aquilo que o obturador e o enquadramento recortam.
O enquadramento perfeito e o instante decisivo são tão mitológicos quanto Prometeu e Zeus. E assim será interpretado quando, daqui por 3.000 anos, estudarem o que fazemos hoje.

By me