Uma objectiva é uma objectiva, digam lá o que disserem. Mesmo
que lhe chamem lente.
É através dela que fotografamos, ajustamo-nos e à nossa
perspectiva em função do que ela nos permite ver ou, preferencialmente, usamos
a mais adequada em função da perspectiva que escolhemos usar.
Há objectivas de todos os tipos e para todos os gostos e
bolsas: caras e baratas, zooms e focais fixas (também hás focais variáveis, mas
são casos raros no dias de hoje), há as de grande qualidade óptica e as
fracotas (bem como aquelas de que dizem ter bouquet, seja lá isso o que for).
Até há aquelas que são construídas por nós, e tenho uma assim feita.
Há as objectivas que cobiçamos, porque achamos que com elas seremos
melhores fotógrafos. Há objectivas a que não prestamos atenção alguma porque
não publicitadas. Há as objectivas raras e as muito comuns. Há as objectivas
que, uma vez compradas, se transformam numa segunda natureza fotográfica. E há
as objectivas que, usadas meia dúzia de vezes, acabam por ser descartadas para
um armário ou vendidas, porque não correspondem de todo à nossa forma de ver.
Há objectivas para todos os gostos e usos!
Desta feita caiu-me no colo uma objectiva com a qual, muito
provavelmente, não gastaria um cêntimo a menos que tivesse a organizar uma
colecção delas. E bem que gostaria de o poder fazer.
Objectiva barata e comum, daquelas a que chamam de “entrada”,
era um standard das câmaras reflex de baixo custo. Uma Pentax-A 28-80 macro, f/3,5-4,5,
produzida nos inícios dos anos ’90. Tive várias nas mãos, já que faziam parte
dos conjuntos fotográficos que a escola onde trabalhei comprou.
Sem nenhum automatismo electrónico actual, nem mesmo foco, só
trabalha em modo absolutamente manual nas DSRL Pentax. O que não me atrapalha
nem um pouco, já que gosto de ser eu a decidir o que a câmara faz, no lugar de
deixar que seja o “Japonês Inteligente” que nela vive a tomar conta do
processo.
Veio parar-me às mãos de um modo totalmente insuspeito: um
colega disse-me que ma oferecia. Tinham-lhe oferecido, mas ele usa outra marca
e é incompatível. Sabendo-me utilizador e fã da Pentax, lembrou-se de mim.
Ainda lha quis pagar, mas fez questão de ser oferta, tal como a tinha recebido.
Estes negócios estranhos também acontecem, ainda que raramente.
Tenho andado com ela montada na câmara. E tenho andado com a
câmara comigo no quotidiano, no saco. Mas os últimos tempos têm sido
complicados de viver e pouco uso tenho dado ao botão fotográfico. Ontem ainda
fiz algumas, que tirei a tarde para um passeio higiénico na cidade. Breve e com
outros objectivos que não a objectiva, mas dei-lhe uso. Este foi um deles.
Numa rua da zona velha da cidade, um muro contém diversas
argolas cravadas na parece. Ao que julgo saber, tratavam-se de locais onde
prender as bestas de carga.
De algum modo as funções originais perderem uso e surgiram
novas tradições, importadas sabe-se lá de onde. Onde antes se viam arreatas
hoje encontram-se cadeados e fitas coloridas, simbolizando amores e amizades eternos.
O tempo, tanto nos sentimentos como nos objectos, tratará de definir “eterno”.
Fica a história e o registo, que serão tão duradoiros quanto
os arquivos digitais em redundância que vou fazendo. E que serão tão úteis
quanto argolas para bestas de carga.
By me
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