quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Velharias




Uma objectiva é uma objectiva, digam lá o que disserem. Mesmo que lhe chamem lente.

É através dela que fotografamos, ajustamo-nos e à nossa perspectiva em função do que ela nos permite ver ou, preferencialmente, usamos a mais adequada em função da perspectiva que escolhemos usar.

Há objectivas de todos os tipos e para todos os gostos e bolsas: caras e baratas, zooms e focais fixas (também hás focais variáveis, mas são casos raros no dias de hoje), há as de grande qualidade óptica e as fracotas (bem como aquelas de que dizem ter bouquet, seja lá isso o que for). Até há aquelas que são construídas por nós, e tenho uma assim feita.

Há as objectivas que cobiçamos, porque achamos que com elas seremos melhores fotógrafos. Há objectivas a que não prestamos atenção alguma porque não publicitadas. Há as objectivas raras e as muito comuns. Há as objectivas que, uma vez compradas, se transformam numa segunda natureza fotográfica. E há as objectivas que, usadas meia dúzia de vezes, acabam por ser descartadas para um armário ou vendidas, porque não correspondem de todo à nossa forma de ver.

Há objectivas para todos os gostos e usos!

Desta feita caiu-me no colo uma objectiva com a qual, muito provavelmente, não gastaria um cêntimo a menos que tivesse a organizar uma colecção delas. E bem que gostaria de o poder fazer.

Objectiva barata e comum, daquelas a que chamam de “entrada”, era um standard das câmaras reflex de baixo custo. Uma Pentax-A 28-80 macro, f/3,5-4,5, produzida nos inícios dos anos ’90. Tive várias nas mãos, já que faziam parte dos conjuntos fotográficos que a escola onde trabalhei comprou.

Sem nenhum automatismo electrónico actual, nem mesmo foco, só trabalha em modo absolutamente manual nas DSRL Pentax. O que não me atrapalha nem um pouco, já que gosto de ser eu a decidir o que a câmara faz, no lugar de deixar que seja o “Japonês Inteligente” que nela vive a tomar conta do processo.

Veio parar-me às mãos de um modo totalmente insuspeito: um colega disse-me que ma oferecia. Tinham-lhe oferecido, mas ele usa outra marca e é incompatível. Sabendo-me utilizador e fã da Pentax, lembrou-se de mim. Ainda lha quis pagar, mas fez questão de ser oferta, tal como a tinha recebido. Estes negócios estranhos também acontecem, ainda que raramente.

Tenho andado com ela montada na câmara. E tenho andado com a câmara comigo no quotidiano, no saco. Mas os últimos tempos têm sido complicados de viver e pouco uso tenho dado ao botão fotográfico. Ontem ainda fiz algumas, que tirei a tarde para um passeio higiénico na cidade. Breve e com outros objectivos que não a objectiva, mas dei-lhe uso. Este foi um deles.

Numa rua da zona velha da cidade, um muro contém diversas argolas cravadas na parece. Ao que julgo saber, tratavam-se de locais onde prender as bestas de carga.

De algum modo as funções originais perderem uso e surgiram novas tradições, importadas sabe-se lá de onde. Onde antes se viam arreatas hoje encontram-se cadeados e fitas coloridas, simbolizando amores e amizades eternos. O tempo, tanto nos sentimentos como nos objectos, tratará de definir “eterno”.

Fica a história e o registo, que serão tão duradoiros quanto os arquivos digitais em redundância que vou fazendo. E que serão tão úteis quanto argolas para bestas de carga.


By me

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