segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Um retrato




Já por aqui contei que, em minha opinião, o género mais difícil no campo da fotografia é o retrato.
Não tanto a selfie ou aquele ocasional, que tanto pode correr bem como mal.
Refiro-me ao retrato que conte mais que apenas a pele e as pilosidades, que mostre apenas cores e formas. Aquele retrato que mostra aquilo que uns podem chamar de alma, outros de aura, aquilo que acontece no pensamento e nos sentimentos. Na vida!
Pior ainda, o retrato tem como crítico, e para além do público e do fotógrafo, o fotografado. E este é muito exigente com o que vê de si, principalmente se visto pelos olhos de terceiros. Haverá, estou certo, toda uma biblioteca que se debruce sobre a imagem que temos de nós e a imagem que queremos projectar para os outros. Só um mestre na fotografia de retrato consegue reunir consensos positivos no seu trabalho.
Eu não sou mestre, muito menos no retrato, ainda que me arrisque de quando em vez.
Este retrato é daqueles que só tem a aprovação de uma pessoa: o fotógrafo. O retratado não gostou muito e o público restrito que viu não gostou mesmo.
Este retrato mostra um pouco daquilo que o retratado não queria projectar para os outros, excepto em momentos especiais. Este retrato foi feito um pouco à revelia da sua vontade, ainda que não se tenha negado. Este retrato mostra um pedaço daquilo que conheço do retratado. Este retrato é a minha visão do retratado, gostasse ele e o público disto ou não.
Acrescente-se que, tanto quanto sei, foi a penúltima fotografia que lhe foi feita. Eu tinha a noção, e creio que o retratado também, que poucas se alguma fotografia mais lhe seria feita. Creio que este retrato o mostra.
Esta fotografia é um retrato, contra tudo e contra todos. Afirmo-o eu, que fui o fotógrafo.
Também fiz a última. Mas essa não é um retrato e poucos são os que a viram ou verão. Que há coisas, fotografias incluídas, que não são para sair da privacidade dos arquivos.

By me

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