Leio por aí que a Livraria Barata está em risco de fechar.
Tal como ela, muitas outras tiveram este triste fim.
Defende-se o comércio local, o comércio de “bairro”, aquela
cara conhecida que nos sugere ou recomenda. Exactamente aquele que já estava em
crise e que com a actual vê o seu futuro com demasiadas nuvens negras.
Ter uma livraria por perto é como ter uma mercearia ou
padaria por perto. Passamos por lá e, por impulso ou necessidade, trazemos um
livro. Que nos vai levar mais longe. No sonho ou no saber.
As grandes superfícies, supermercados ou outras, pecam pela “ignorância”
de quem lá vende. Dificilmente sabem algo sobre o autor ou o conteúdo e, se
pedimos algo específico e fora dos “best sellers” não têm ou nem sabem se
existe.
Recordo com saudade uma livraria no bairro onde vivi. Chamava
“o meu livreiro”, ao sr. Augusto. Em lá indo, e dando uma voltinha pelas
prateleiras, com vontade de ler mas sem inspiração no momento, dizia-lhe: “Sr.
Augusto: ponha-me a ler!”
Perguntava-me ele sobro os dois ou três últimos livros que
tinham estado na minha secretária ou mesa-de-cabeceira, parava um pouco e
dirigia-se a algum ponto da loja, de onde voltava com um livro. Nunca me
arrependi das suas escolhas.
Tal como não esqueço um episódio em procurava uma canção.
Sabia-lhe o trautear, sabia-lhe o refrão, mas nem o intérprete nem o nome. Numa
discoteca de centro comercial, e face ao meu pedido, a “menina do shopping”
decidiu ir consultar a web. Quando lhe disse que há muito que ali procurava e
não encontrava, teve uma saída tristemente brilhante: “Então se não está na net
não existe!” Não a desenganei.
Fechar (eventualmente) uma libraria de bairro com projecção
mais que na capital, no país, e ainda por cima com a história que tem, é morrer
um pouco de nós.
Pelo menos de mim, que foi uma das livrarias onde aprendi o
prazer de escolher e cobiçar livros e de onde nunca saí frustrado e sempre mais
rico.
Em jeito de remate, gostaria de lembrar o seguinte:
Lidos que sejam dois conteúdos distintos, um num livro,
outro numa página de web, lembra-se-hão do livro, do local, da capa… mas
dificilmente da localização da página, sem mesmo terem a certeza que ainda
existe.
Imagem roubada da net
By me
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