sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

In-formação




Tenho conversado sobre este tema um sem número de vezes com profissionais do jornalismo: “Façam o vosso trabalho para um público que nem considerem ignorante nem especialista nos temas sobre os quais falam ou escrevem”.
E isto é válido para rádio, televisão, imprensa ou web. E é válido para temas generalistas como sociedade ou mais especializados como desporto, política, cultura, política…
São muitos os que contam o que têm para contar mas sem contextualizar, sem referências geográficas, com vocabulário técnico e hermético… E quem não for conhecedor do tema fica sem perceber boa parte do relatado, por vezes sem perceber coisa alguma.
Eis um exemplo típico:
O título do artigo é o seguinte: “Manifestantes espancam e enforcam numa praça de Bagdad”
O corpo do artigo refere a cidade, nomes de praças nessa cidade, os nomes de políticos e clérigos, o nome de milícias… Mas nem uma só vez o nome do país ou a região do globo onde tal sucedeu.
Um jovem que aceda a este texto, ou alguém pouco informado, terminará a sua leitura apenas a saber da barbárie e dos motivos mas ignorando se perto, se longe, se no médio oriente, asia ou áfrica, passível de deduzir eventualmente pelos nomes envolvidos.
Não se trata de um artigo de “informação” mas antes de “in-formação”.

Em jeito de complemento, sempre acrescento que as fotografias que ilustram o texto mostram alguém pendurado pelos pés num poste e não pelo pescoço, coisa que seria “enforcamento”.
Por outras palavras, a morte terá sido consequência do espancamento e não por ter sido pendurado pelo pescoço. Ou, se preferirem, o ter sido pendurado bem alto não foi um acto de execução mas antes uma exibição. Como se fazia em tempos mais ou menos remotos por cá, em que o executado era exibido para mostrar que a “justiça” tinha sido aplicada e como exemplo a potenciais “criminosos”.

Mandasse eu alguma coisa na comunicação social, fosse qual fosse o suporte (ou mesmo todos) imporia que quem relata com palavras ou imagens fosse obrigado a deslocar-se durante um mês apenas em transportes públicos, ombreando com o público a que se destina o seu trabalho e percebendo, realmente, aquilo que os seus consumidores sabem, entendem e querem saber.



By me

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