segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Baratinho




Em tempos estive inserido no mercado fotográfico. Fiz fotografia de teatro, de publicidade e umas aventuras mínimas na reportagem.
Deixei essa actividade por três motivos: porque não precisava dela para viver, porque odiava a competição insana do mercado e porque ouvi vezes demais pedirem-me “faz baratinho”.
O não precisar da fotografia para viver é apenas uma força de expressão. Tinha e tenho um outro ofício, regular e com ordenado certo, que me paga as contas. A fotografia era, e é, o que me alimenta a alma. E o que ganhei com ela, se não serviu para por comida na mesa, serviu para pagar equipamento e completar em satisfação e dinheiro o que fazia e faço no meu emprego.
A competição é algo que odeio. Ninguém tem que ser melhor que ninguém, ninguém tem que ser mais que ninguém, ninguém tem que ter mais que ninguém. O mundo e a vida são suficientemente cheios e ricos para que todos possam ter o seu quinhão sem que com isso tenham que apoucar os demais. E se eu não vivo de menorizar ninguém, não gosto de ser alvo disso mesmo.
O pedirem para fazer baratinho é algo que me desagrada profundamente. É menosprezar o trabalho, é achar que o que se sabe fazer pouco vale e que o tempo investido para aprender e melhorar é de borla. Prefiro, desde sempre, oferecer os meus préstimos de borla a fazer baratinho.
Acrescente-se que aqueles que agora estão a entrar no mercado e que fazem baratinho, não apenas estão a apoucar o que fazem como estão a prejudicar todos os outros, ao fazer baixar os preços ao limite das despesas directas.
A única situação é que peço desconto é quando, em pagando algo, pergunto se tenho direito a desconto por pagar em dinheiro trocado. E a única resposta que espero obter em troca é um sorriso divertido que ajude a quebrar a monotonia a quem está do outro lado do balcão.
 Divirtam-se e façam o favor de ter uma vida cheia.



By me

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