Tenho conversado sobre este tema um sem número de vezes com
profissionais do jornalismo: “Façam o vosso trabalho para um público que nem
considerem ignorante nem especialista nos temas sobre os quais falam ou
escrevem”.
E isto é válido para rádio, televisão, imprensa ou web. E é
válido para temas generalistas como sociedade ou mais especializados como
desporto, política, cultura, política…
São muitos os que contam o que têm para contar mas sem
contextualizar, sem referências geográficas, com vocabulário técnico e hermético…
E quem não for conhecedor do tema fica sem perceber boa parte do relatado, por
vezes sem perceber coisa alguma.
Eis um exemplo típico:
O título do artigo é o seguinte: “Manifestantes espancam e
enforcam numa praça de Bagdad”
O corpo do artigo refere a cidade, nomes de praças nessa
cidade, os nomes de políticos e clérigos, o nome de milícias… Mas nem uma só
vez o nome do país ou a região do globo onde tal sucedeu.
Um jovem que aceda a este texto, ou alguém pouco informado,
terminará a sua leitura apenas a saber da barbárie e dos motivos mas ignorando
se perto, se longe, se no médio oriente, asia ou áfrica, passível de deduzir eventualmente
pelos nomes envolvidos.
Não se trata de um artigo de “informação” mas antes de “in-formação”.
Em jeito de complemento, sempre acrescento que as
fotografias que ilustram o texto mostram alguém pendurado pelos pés num poste e
não pelo pescoço, coisa que seria “enforcamento”.
Por outras palavras, a morte terá sido consequência do
espancamento e não por ter sido pendurado pelo pescoço. Ou, se preferirem, o
ter sido pendurado bem alto não foi um acto de execução mas antes uma exibição.
Como se fazia em tempos mais ou menos remotos por cá, em que o executado era
exibido para mostrar que a “justiça” tinha sido aplicada e como exemplo a
potenciais “criminosos”.
Mandasse eu alguma coisa na comunicação social, fosse qual
fosse o suporte (ou mesmo todos) imporia que quem relata com palavras ou
imagens fosse obrigado a deslocar-se durante um mês apenas em transportes
públicos, ombreando com o público a que se destina o seu trabalho e percebendo,
realmente, aquilo que os seus consumidores sabem, entendem e querem saber.
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