quinta-feira, 17 de junho de 2010

Coerências


Se eu gosto de andar de avião? Por acaso até gosto!
Reduz as distâncias de forma significativa, é confortável e, ao contrário do que muitos afirmam, até é o meio de transporte mais seguro. Além do mais, a sensação de força e de vencermos as leis da gravidade é incomparável!
No entanto, recuso-me a andar de avião!
E de comboio? Bem, o comboio é único como forma de viajar!
Além de cómodo, os traçados das linhas permitem-nos ver paisagens que dificilmente poderíamos desfrutar de outra forma. Acrescente-se que permite desentorpecer as pernas, com algumas caminhadas pelas coxias ou entre carruagens, sem motivo algum ou em direcção a algum vagão-restaurante. Como motivo último, e para quem queira tirar proveito da diversidade dos passageiros, é sempre possível conhecer gente diferente e interessante, seja qual for o ponto de vista que se considere.
Apesar de tudo isto, não serei utilizador do TGV Francês, do AVE Espanhol e, muito provavelmente, também não me farei transportar pelo TGV Português.
No lugar de avião ou super-expresso ferroviário, prefiro o rodoviário: camioneta, à moda antiga.

Porquê? Bem, porque a minha dignidade é algo que prezo muito e me recuso a ser mal tratado nos TGVs e aviões!
É que para poder embarcar somos obrigados a identificarmo-nos, a exibir, obviamente ou por via de scanners, o conteúdo das nossas bagagens de porão ou de mão, e mesmo o conteúdo do bolsos ou mesmo da roupa interior é objecto de escrutínio.
Em nome de uma tal “Segurança”, somos considerados suspeitos até prova em contrário. Aos olhos das autoridades e de quem redige as leis e normas de transporte, todo e qualquer cidadão é passível de provocar danos nos meios de transporte e demais passageiros. A vá de os revistar para além do limite do aceitável. Supondo que existe algum.
Acontece que a justiça se baseia no princípio de “Inocente até prova em contrário”. E, ao embarcar num comboio de alta velocidade ou avião, não tenho, não devo, ter que afirmar que não pretendo fazer mal a quem quer que seja, nem demonstrar que não sou um criminoso ou terrorista.
Esta suspeita generalizada e indiscriminada, que me abrange também, tenho-a como um atentado à minha dignidade de cidadão, um equiparar-me, sem que nada o justifique, a um criminoso. Não o aceito!
Assim, não podendo evitar, nesses modernos meios de transporte, que as revistas, os inquéritos e as indignidades aconteçam, opto por não os usar.
Ainda que o preço possam ser muitas mais as horas da viagem, tudo farei para que a minha caminhada seja livre, coerente e digna. Como eu mesmo me considero!

Texto e imagem: by me

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