sábado, 26 de junho de 2010

Nomenclaturas



Foi há uns dias, num supermercado. Ao passar por um corredor, oiço uma voz infantil exclamar:
“Olha Mãe! Um Socrates!”
E ainda eu mal tinha tido tempo para ver de onde vinha a voz, oiço a tal Mãe ripostar:
“Chiu! Cala-te! Não digas disparates! E não se aponta, que é feio! Vamos embora.”
Quando consegui ver a cena, ainda fui a tempo de constatar o petiz com um dedo estendido para um dos expositores, enquanto que o outro braço era sem cerimonia puxado pela que assumia o papel de Mãe.
Fiquei curioso, tanto com a observação do catraio como com a reacção da Mãe, e fui ver. E o objecto apontado e nomeado era este. No meio de outros, iguais ou semelhantes, de outras cores, era este mesmo o referido.
Mas que raio! Toda a minha vida o conheci como Salazar, numa analogia bem mais que evidente entre nome e função. Que os mais velhos, ou mesmo os não tanto, reconhecerão ou recordarão. Agora mudarem-lhe o nome assim, do pé para a mão, ensinarem coisas destas a crianças pequenas, adulterando nomenclaturas e história… não é bonito! Nada mesmo!
Mas, depois, parei para pensar. Na forma, na função, nas cores, nos tempos que correm… E acabei por ter que dar razão àquela Mãe, extremosa, que tão bem vai ensinando o seu rebento no vocabulário, nas oportunidades e nos receios. Nos públicos e nos privados.
Que a História repete-se, queiramo-lo ou não. E somos suficientemente tolos, por cá, para não irmos notando os indícios.


Texto e imagem: by me

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